quarta-feira, dezembro 21, 2011

A cabana de Thoreau | iOnline

A cabana de Thoreau | iOnline
Arrebatador o texto de Luís Januário, inquirindo por firmeza, serenidade, solidariedade. Armas no combate necessário de hoje e em diante, neste tardocapitalismo a que, seguramente, sobreviveremos com a nossa música, gestos e palavras de que sempre se fizeram os sonhos, os desassombros e os futuros.

segunda-feira, dezembro 19, 2011

A quem é macio




Hoje topei com alguns conhecidos meus
Me dão bom-dia, cheios de carinho
Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho
Hoje a cidade acordou toda em contramão
Homens com raiva, buzinas, sirenes, estardalhaço
De volta a casa, na rua recolhi um cão
Que de hora em hora me arranca um pedaço
Hoje pensei em ter religião
De alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício
Por uma estátua ter adoração
Amar uma mulher sem orifício
Hoje afinal conheci o amor
E era o amor uma obscura trama
Não bato nela nem com uma flor
Mas se ela chora, desejo me inflama
Hoje o inimigo veio me espreitar
Armou tocaia lá na curva do rio
Trouxe um porrete a mó de me quebrar
Mas eu não quebro porque sou macio, viu

Declaração solidária inter-cidadãos

Neste buscar de palavras e silêncios, li ou reli uma declaração que absoutamente subscrevo, com as devidas adaptações: sou professora há 36 anos, tendo ensinado em quase todos os graus de ensino, incluindo a universidade; sinto reconhecimento nacional e internacional pela minha qualidade profissional; vivo do rendimento do meu trabalho, e também eu há muito que abdiquei de luxos como comprar livros, estou velha demais para emigrar e sem condições para me aposentar. Subscrevo esta declaração integralmente, na medida das minhas possibilidades mas com a mesma desmedida indignação.

DECLARAÇÃO
As medidas que o Estado português se prepara para tomar não servem para nada. Passaremos anos a trabalhar para pagar a dívida, é só. Acresce que a dívida é o menor dos nossos problemas. Portugal, a Grécia, a Irlanda são apenas o elo mais fraco da cadeia, aquele que parte mais depressa. É a Europa inteira que vai entrar em crise.
O capitalismo global localiza parte da sua produção no antigo Terceiro Mundo e este exporta para Europa mercadorias e serviços, criados lá pelos capitalistas de lá ou pelos capitalistas de cá, que são muito mais baratos do que os europeus, porque a mão-de-obra longínqua não custa nada. À medida que países como a China refinarem os seus recursos produtivos, menos viável será este modelo e ainda menos competitiva a Europa. Os capitalistas e os seus lacaios de luxo (os governos) sabem isso muito bem. O seu objectivo principal não é salvar a Europa, mas os seus investimentos e o seu alvo principal são os trabalhadores europeus com os quais querem despender o mínimo possível para poderem ganhar mais na batalha global. É por isso que o “modelo social europeu” está ameaçado, não essencialmente por causa das pirâmides etárias e outras desculpas de mau pagador. Posto isto, tenho a seguinte declaração a fazer: 
Sou professor há mais de 30 anos, 15 dos quais na universidade.
Sou dos melhores da minha profissão e um investigador de topo na minha área. Emigraria amanhã, se não fosse velho de mais, ou reformar-me-ia imediatamente, se o Estado não me tivesse já defraudado desse direito duas vezes, rompendo contratos que tinha comigo, bem como com todos os funcionários públicos.
Não tenho muito mais rendimentos para além do meu salário. Depois de contas rigorosamente feitas, percebi que vou ficar desprovido de 25% do meu rendimento mensal e vou  provavelmente perder o único luxo que tenho, a casa que construí e onde pensei viver o resto da minha vida.
Nunca fiz férias se não na Europa próxima ou na Índia (quando trabalhava lá), e sempre por pouco tempo. Há muito que não tenho outros luxos. Por exemplo: há muito que deixei de comprar livros.
Deste modo, declaro:
1) o Estado deixou de poder contar comigo para trabalhar para além dos mínimos indispensáveis. Estou doravante em greve de zelo e em greve a todos os trabalhos extraordinários;
2) estou disponível para ajudar a construir e para integrar as redes e programas de auxílio mútuo que possam surgir no meu concelho;
3) enquanto parte de movimentos organizados colectivamente, estou pronto para deixar de pagar as dívidas à banca, fazer não um, mas vários dias de greve (desde que acompanhados pela ocupação das instalações de trabalho), ajudar a bloquear estradas, pontes, linhas de caminho-de-ferro, refinarias, cercar os edifícios representativos do Estado e as residências pessoais dos governantes, e resistir pacificamente (mas resistir) à violência do Estado.
Gostaria de ver dezenas de milhares de compatriotas meus a fazer declarações semelhantes.
Texto publicado por Paulo Varela Gomes* no Público a 23 de Outubro de 2010
 *Licenciado em história pela Universidade Clássica de Lisboa (1978), mestre em história da arte pela Universidade Nova de Lisboa (1988), doutorado em história da arquitectura pela Universidade de Coimbra (1999). Docente do DARQ desde 1991, professor convidado do Dep. Autónomo de Arquitectura da Universidade do Minho desde 2001, docente convidado de outras universidades portuguesas e estrangeiras. A principal área de investigação e publicação tem sido a história da arquitectura e da cultura arquitectónica portuguesa dos séculos XVII e XVIII.

domingo, dezembro 18, 2011

Para todos um bom Natal

Os Presentes no Cata Livros from Cata Livros on Vimeo.

Quem quer fazer fraca a forte gente?

Hoje acordei sem notícias sobre a formação da iniciativa cidadã para uma auditoria à dívida pública portuguesa - nenhuma televisão falou nisso - mas com a novidade de que no Governo do meu País há quem ache e diga que o que os portugueses devem fazer é emigrar. Há uns tempos fora um Secretário de Estado que no Brasil assim falou a gente jovem, agora é o próprio primeiro-ministro que aconselha o mesmo a professores que queiram continuar a ser professores - porque no País não irá haver lugar para tal ofício, pelos vistos. E tudo isto sem um lamento, que o mais importante não é desenvolver a sociedade, a economia, mobilizar o povo, os que têm preparação, mas recolher dinheiro venha de onde vier.

Há 50 anos, a 19 de Dezembro de 1961, outros queriam calar assim aqueles que não tinham emigrado, como Dias Coelho. A AJA Norte comemora a data no Porto, porque nestas nossas terras ainda há gente, e porque o Zeca nos deixou também uma cantiga inolvidável e mobilizadora.





Sem memória não há futuro. Com ela é muito mais difícil fazer fraca a forte gente. Aqui e em toda a parte.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

Pelo que muda o coração dos homens


"Mas o vale do Tua era o vale do Tua, um sítio belíssimo, onde o calor a pique do Verão, ou o despertar da Primavera ou as primeiras chuvas de Outono faziam a terra cheirar a terra, a urze, aos mil e um cheiros mediterrânicos que hoje só conhecemos dos livros, quando lemos os clássicos. (...) Estivessem vivos homens como Orlando Ribeiro, e eles dir-nos-iam os elos que estamos a quebrar, não com o passado, mas com o presente e connosco próprios.

Portugal é um país que tem destruído intensamente a sua paisagem natural nos últimos anos, tem uma grande densidade de barragens a norte e cada barragem é um vale de um rio que desaparece. As cumeadas dos montes já estão cheias de eólicas, e quase que não é possível em lado nenhum olhar à volta de um ponto alto, mesmo nos parques naturais, sem ver artefactos colocados bem diante dos nossos olhos nos últimos 20 anos. Já não sabemos, por exemplo, o que é uma noite escura, e por isso o espanto homérico com o céu e as estrelas é uma experiência que já "não nos assiste", para assentar os pés na terra em que verdadeiramente vivemos, a das trivialidades boçais.

Eu sei que uma parte desta destruição era inevitável e faz parte de um difícil trade-off  entre a economia, fonte de riqueza, os recursos a explorar, e o ambiente, mas, como estamos a chegar aos limites de tudo - últimos vales, últimos montes, ultimas paisagens -, esse trade-off esgotou-se nas suas virtualidades, e é hoje uma desvantagem cujos custos se pagarão num futuro próximo. As crianças que hoje nascem vão viver num mundo dominado pela poluição luminosa, de caos urbanístico, construções clandestinas mal-amanhadas e sem paisagem natural. Nunca vão ver a Via Láctea a não ser em fotografias, não sabem o que é um vale selvagem de um rio a não ser nos filmes americanos, nunca cheirarão a urze, nem saberão o que é uma giesta, não terão o vento na cara no cimo duma montanha, sem este trazer a marca conspurcada do mundo de lixo que começa logo uns metros mais abaixo, nunca verão um carvalho, nunca comerão uma truta sem ser de viveiro, não saberão o que é o silêncio "habitado" que muda o coração dos homens que o sabem ouvir." 
J. Pacheco Pereira

Lido e escrito em Dezembro de 2011, perante a perspectiva de mais uma barragem que aniquilará o Vale do Tua e de caminho compromete o Douro vinhateiro, há poucos anos consagrado como Património Mundial pela Unesco.

Blogado aqui a pensar nos nossos netos e nos filhos dos nossos netos por nascer, em memória dos Mestres como Orlando Ribeiro e do aparentemente perdido Bom Senso Elementar. E, já agora, de Portugal, meu e nosso País.

Ler o resto do texto citado:
ABRUPTO

quarta-feira, novembro 30, 2011

Antes que feches a luz



Senhor, permite que adormeçamos 

antes que feches a luz,

que os rebanhos estejam recolhidos

e os credores se tenham afastado da nossa porta,

... mas que tenhamos pago as dívidas aos que nos serviram

e aos que nos amaram e aos que nos esperaram;


as tuas grandes mãos sustentarão o telhado e as paredes


e moerão o grão e fermentarão o trigo,


apaga com as tuas mãos o nosso rasto


e que repousemos


sem motivo para nos culparmos


por não termos sido felizes.



Manuel António Pina


Imagem e inspiração daqui

Ler e sorrir :)


 A propósito do Colóquio "João Martins Pereira e o seu, nosso tempo"
Talvez alguns, conheço casos, sejam capazes de gerir a vida como se gere uma empresa (estou a exagerar: a maioria das empresas são, elas também, geridas às apalpadelas…): estabelecer objectivos (uma carreira!), definir os meios necessários para os atingir, aplicá-los controlando a progressão, avaliando e corrigindo os desvios. Nunca o fiz – e talvez haja quem me julgue frio a esse ponto…
Foram sempre os pequenos prazeres do «logo à tarde» ou do «logo à noite» que me ajudaram a sobreviver, e não qualquer longínqua certeza ou desígnio. E se alguns planos fiz, foram sempre de curto prazo, para me libertar de tutelas insuportáveis e aumentar a margem desses pequenos prazeres. Pequenos, mas não diria fúteis: a conversa de café (ou a saborosa solidão do café), as leituras, os cinemas, os encontros, os amores passageiros, os passeios pela cidade, os pés de dança, mais tarde as viagens, as chamadas «acções colectivas» (não diria, no meu caso, militantes). Para não falar dos prazeres maiores, das amizades, dos amores «definitivos», e também da Gazeta e das escritas. Tudo isto foi a construção de mim próprio, num pano de fundo de enorme curiosidade pelo futuro, que sempre foi para mim uma aventura no desconhecido, nunca um projecto.
João Martins Pereira, O Dito e o Feito. Cadernos 1984-1987
Bibliografia on-line pela linda mão do CD 25 de Abril :)

O Fado Do Futuro Tem de Ser Outro



Gonçalo Tocha fala para jovens.
E noutro local escreve para todos sobre o convite que deu origem a este video.
"Vocês (a juventude) são o único tesouro que existe, e é isso que o Estado tem de perceber."

domingo, novembro 27, 2011

quarta-feira, novembro 23, 2011

Por estas e por outras, adiro à Greve Geral


(imagem do nuno oliveira, para o miguel relvas,via gui castro felga)

Quando desaparecemos | iOnline

A pior existência torna-se tolerável se nos virmos como uma persona, que um dia será tão estimada como David Copperfield ou Jane Eyre. Mas esta operação, o método de Dulce, envolve uma dificuldade. É preciso ter lido algum autor, como Dickens ou as irmãs Brontë. É preciso ter lido. Na biblioteca itinerante da Gulbenkian ou na biblioteca municipal de uma aldeia obscura de Trás- -os-Montes. Livros grandes, como preferia a Dulce, que durassem uma semana ou toda a quinzena da requisição, até ao regresso da esplendorosa viatura com portas de estribos, faróis como olhos perscrutantes, abrindo-se pela retaguarda como uma baleia invertida e revelando estantes laterais por dentro da chapa ondulada.


Quando desaparecemos | iOnline

terça-feira, novembro 22, 2011

Fazer sentido a muitas mãos e vozes


George Siemens, Novembro 2011

Participatory sense meaning - from everyone and all to each one of us, in order to improve (our) self-organization as a learner.

sábado, novembro 19, 2011

Do que um homem é capaz

Faixa 10

Do que um homem é capaz

As coisas que ele faz

P'ra chegar aonde quer

É capaz de dar a vida

P´ra levar de vencida

Uma razão de viver



A vida é como uma estrada

Que vai sendo traçada

Sem nunca arrepiar caminho

E quem pensa estar parado

Vai no sentido errado

A caminhar sozinho



Vejo a gente cuja a vida

Vai sendo consumida

Por miragens de poder

Agarrados alguns ossos

No meio dos destroços

Do que nunca vão fazer

Vão poluindo o percurso

Co'as sobras do discurso

Que lhes serviu pr'abrir caminho

À custa das nossas utopias

Usurpam regalias

P´ra consumir sozinho


Com políticas concretas

Impõem essas metas

Que nos entram casa dentro

Como a Trilateral

Co'a treta liberal

E as virtudes do centro

No lugar da consciência

A lei da concorrência

Pisando tudo p´lo caminho

P´ra castrar a juventude

Mascaram de virtude

O querer vencer sozinho


Ficam cínicos, brutais

Descendo cada vez mais

P´ra subir cada vez menos

Quanto mais o mal se expande

Mais acham que ser grande

É lixar os mais pequenos


Quem escolhe ser assim

Quando chegar ao fim

Vai ver que errou o seu caminho

Quando a a vida é hipotecada

No fim não sobra nada

E acaba-a sozinho


Mesmo sendo poderosos

Tão fracos e gulosos

Que precisam do poder

Mesmo havendo tanta gente

P´ra quem é indiferente

Passar a vida a morrer


Há principios e valores

Há sonhos e há amores

Que sempre irão abrir caminho

E quem viver abraçado

À vida que há ao lado

Não vai morrer sozinho

E que morrer abraçado

À vida que há ao lado

Não vai viver sozinho



José Mário Branco

quinta-feira, novembro 17, 2011

 

Catarse

Hoje é o meu terceiro dia como aposentada.
Acordei à hora habitual e lembrei-me que, pelo menos hoje, os meus alunos não teriam tantas substituições;  a sexta-feira era o único dia em que não tinham  aulas comigo.
Até à última semana  tinha com eles: 6 tempos de Língua Portuguesa, 3 de Língua Inglesa, 2 de Atividades de Apoio ao Estudo, 1 de Formação Cívica, 1 de Oficina de Leitura e Escrita e 2 de apoio a Língua Inglesa.  Muitas horas, ao longo de um ano e dois meses… uma ligação profunda interrompida abruptamente. Sinto-lhes a falta e, de acordo com alguns emails recebidos, eles também sentem a minha, mesmo os mais complicados.
Então por que saí? Limite de idade? Incapacidade física comprovada? Reforma compulsiva?
Nada disso. Fui mesmo eu que pedi a aposentação antecipada. Tenho 57 anos e meio, 36 anos de serviço efetivo, todos na escola pública, sem licenças nem destacamentos.  Saí com 24% de penalização e com a noção clara que ainda tinha muito para dar à profissão que segui por vocação, a que me dediquei  em regime de exclusividade, seguindo o lema “I’m a teacher, I touch the future!”.
Então o que me levou a pedir a aposentação em Dezembro último? É preciso recuar uns anos, lembrar o ano em que começaram a transformar a profissão docente numa doença terminal.
Em 2005, cheguei de férias em setembro  e tomei o primeiro contato com as grandes reformas da então Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Surgiram as famosas  OTEs- ocupação de tempos escolares, acabaram os chamados “feriados” e os meninos deixaram de poder libertar energias nos recreios quando um professor faltava e passaram a ficar na sala com outro professor, a fazer…  . Eu, que nunca tinha problemas disciplinares (a partir de outubro de cada ano letivo estavam sempre resolvidos) passei por algumas situações bem desagradáveis. O mais curioso é que, lá no pequeno mundo onde me movia, quem faltava muito continuou e continua a fazê-lo, quem não faltava começou a ficar exausto e a adoecer. Infelizmente são vários os colegas que se encontram afastados por doença, principalmente a partir do ano passado. Até concordo com as OTEs, mas com professores específicos, com tarefas próprias e a crise não deixa…
Depois vieram mais pérolas: o Estatuto do Aluno com as célebres Provas de Recuperação (os atuais PITs –Plano Individual de Trabalho também não são muito diferentes ), as alterações ao Estatuto da Carreira Docente e a Avaliação de Desempenho Docente. Divulgou-se a mentira da ausência de avaliação e da progressão automática. Estávamos em 2007: exigiam a definição de objetivos individuais e eu defini apenas um: chegar à aposentação em pleno uso das minhas faculdades mentais. Não entreguei os ditos objetivos individuais, fui notificada por incumprimento. Até foi interessante. Nessa altura ainda sentia fôlego para estas lutas e até me davam algum gozo. Maior ainda foi o que me deu ver que as ameaças deram em nada, como seria de esperar.
Em 2008, criaram-se os professores titulares. Eu que sempre quis ser apenas professora, uma professora significativa mas nada mais do que isso, tornei-me titular. A escola partiu-se completamente. Ainda por cima, o mundo burocrático desabou sobre os ditos titulares. Sempre desempenhei cargos, não existe no meu registo biográfico um ano em que tivesse apenas dado aulas, mas ter de desempenhar dois e três cargos por ser titular e ter a redução máxima do art.º 79.º era muito pesado. Existiam muitos formulários, muitas siglas, muitas reuniões; escasseava o tempo para fazer o importante, para preparar aulas a sério e não de memória, para fazer avaliação diferenciada ou remediação ativa. Comecei a sentir-me deprimida. Não me deixavam cumprir a meu gosto o conteúdo funcional da minha profissão.
Ainda por cima os titulares eram prisioneiros, não podiam concorrer, eram “propriedade” dos quadros dos respetivos agrupamentos. Vi colegas serem ultrapassados por outros com menores qualificações. Conheço alguns que continuam a fazer muitos quilómetros por dia graças a serem titulares.
Depois chegou a Drª Isabel Alçada e pensei que as coisas podiam melhorar. Puro engano. Escreveu uma aventura suicida, envolta em sorrisos e mensagens pueris, como aquela de votos de bom ano letivo, que passou em todos os blogues. O novo modelo da Avaliação de Desempenho Docente, a reformulação do Estatuto do Aluno com os tais Planos Individuais de Trabalho, a requalificação das  escolas que  deixou ao país uma dívida incomensurável (para não falar das dificuldades das ditas para pagarem a conta da luz e outras) e, finalmente, a reorganização da rede com a criação dos Mega-agrupamentos.
Em setembro de 2009, regressei de férias com a sensação de não ter reposto as energias, como já vinha sucedendo desde 2006. Mal entrei, informaram-me que tinha de ir     apresentar-me noutra escola, a escola sede do Mega-agrupamento. Fiquei siderada. Então nós éramos Agrupamento TEIP e agora íamos ficar na dependência de uma escola secundária, sem a mínima experiência do que é ser agrupamento, até porque as secundárias eram não-agrupadas? A resposta foi afirmativa.
Ainda em choque, dirigi-me à nova Direção. Fui muito bem recebida. Na reunião geral ouvi falar de uma fusão não desejada, de um processo doloroso que teríamos de digerir, encarar como um desafio e transformar num caso de sucesso. A economia manda! Vamos a isso!
Ah, mas esta não era a única novidade: em 2009/10 eu seria Diretora de Turma, Coordenadora dos Diretores de Turma do 2.º ciclo, Gestora de Disciplina e Professora Relatora. Por último seria professora das áreas já referidas.  A função de Relatora era a que mais me custava. Tentei escusar-me. Nada feito. Em nome da senioridade, de acordo com os critérios legais, tinha mesmo de ser eu.
Em dezembro deixei de ser Gestora de Disciplina, pois finalmente perceberam que a minha redução estava há muito ultrapassada. O resto continuou igual. Reuniões infindáveis, deslocações quase diárias entre escolas, às vezes três idas e vindas por dia. As reuniões de avaliação seriam também na escola sede, pois o programa informático estava lá sediado ( onde mais poderia estar?). Lá iríamos com os dossiers, todos ao monte a lançar níveis, faltas e observações. Isto não estava a acontecer!
Mas ainda aconteceu pior. A escola onde trabalhei desde 1987/88 tinha uma boa avaliação externa, estava cotada como das melhores a nível nacional, nos famosos rankings aparecia colocada bem acima das que não eram Territórios Educativos de Intervenção Prioritária. Tudo isto era fruto de muito, muito trabalho. Mas afinal comecei a ouvir que era tudo engano. Expressões veladas anunciavam que não era assim, frases em que ninguém era nomeado ( por razões éticas, dizia-se) afirmavam que a escola era um monte de dívidas e compadrios. Até a um sindicato chegaram estas informações. Foi talvez a gota de água. Comecei a ter perturbações de sono, dores de cabeça inexplicáveis, perdas de memória ( até do local onde estacionara o carro, ou, durante a noite, onde era a minha própria casa de banho, num T2 minúsculo). O médico avisou-me do perigo que corria, aumentou-me a medicação, quis que ficasse em casa. Não obedeci ao último conselho. Em vez disso, entreguei o meu pedido de aposentação antecipada em dezembro. Calculava sair em julho/agosto, de acordo com os prazos previstos.
Até ao fim do ano letivo desenvolvi todas as funções com o máximo profissionalismo, mas sem nunca me subjugar às fações que se foram criando, sem me calar sobre a paulatina destruição de tudo o que estava construído e fora avaliado positivamente, para ser substituído pelo que se considera agora um bom trabalho e não passa de um conjunto de números, grelhas, estatísticas e documentos.  A minha escola descaracterizou-se completamente: os Serviços Administrativos estão desertos, as assistentes operacionais são deslocadas conforme as “necessidades”, ainda não há mediador/a social, os concursos arrastam-se, o número de professores ausentes continua alto…
Senti e sinto o Mega-agrupamento como uma anexação hitleriana. Conheci pessoas admiráveis, é certo, mas perdeu-se a articulação que existia dentro da própria escola; com o primeiro ciclo nem se fala.
A 10 de outubro,  chegou a comunicação oficial da minha aposentação. Trabalhei conforme o previsto até ao fim do mês, fiz os primeiros testes, a reunião intercalar do conselho de turma, o preenchimento das 44 páginas de dados para estatística do modelo de Projeto Curricular de Turma, orientei as planificações da disciplina de Inglês e a grelha de propostas para o Plano Anual de Atividades do Agrupamento e a primeira grande atividade: um concurso de chapéus para celebrar o Halloween. Tudo direitinho.
No dia 31, entreguei os prémios do referido concurso, sorridente e vestida a preceito. Consegui suster as lágrimas na minha última aula, cantando Ghostbusters com os meus alunos.
Quando tocou saltaram das cadeiras num abraço em cacho, que me projetou contra a parede, fizeram-me prometer que os iria visitar. Passei  o bloco à colega de História e Geografia de Portugal, pedindo-lhes que se concentrassem, pois até iam ter teste na aula seguinte.
Já tinha entregue as chaves do cacifo e o computador da equipa PTE que integrei desde início.
Saí de cena.
Não irei para o ensino privado, fui sempre escola pública. Não irei ocupar vagas ou postos de trabalho nesta ou noutra qualquer profissão, muito menos numa altura destas. Além disso, eu só sei educar e ensinar. Encontrarei uma ocupação válida. Partirei para uma coisa nova, ainda não sei bem o quê.
Empurraram-me para a aposentação, que a paguem muitos anos.

4 de novembro de 2011, Maria Amélia Ribeiro Vieira, professora aposentada
via Educação do Meu Umbigo

Collection development vs Connection development


Só a falta de imaginação ameaça as bibliotecas (em ingês)
O nosso negócio não são os livros mas as aspirações das pessoas. As bibliotecas foram criadas por gente para gente. Para toda a gente.
A missão primordial dos bibliotecários não é cuidar do edifício, nem sequer cuidar dos livros, é melhorar a sociedade. Como? Facilitando o conhecimento a toda a comunidade.
Servindo a comunidade. O que nos dá todo o direito e toda a obrigação de pensar MAIOR.
Inspirador.

David Lankes, 2011

Também interessante: The future of librarianship

sexta-feira, novembro 11, 2011

A língua a quem a trabalha


http://videos.sapo.pt/OunWBqLal0sB8maQHe4C

Clube da Palavra, amanhã, 12 de Novembro, 23.30, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa.
Depois eu conto, que a Cultura ainda persiste e floresce quando a gente assim não falha, em como eles dizem, assume "a língua a quem a trabalha"

Se acabarem com os transportes públicos urbanos depois das 21h, por enviesamento de políticas em decurso, podemos sempre ir treinando e ocupar as noites.
Temos de começar por qualquer lado.

terça-feira, novembro 08, 2011

Os grandes tradutores

Os jovens habitantes das fronteiras


Sei como é violento falar de jovens assim, como nuvem indistinta, particularmente quando reclamam originalidade, singularidade e subjectividade. É violento e tantas vezes sociologicamente enganador: colocam-se no mesmo saco gatos desavindos. Mas, sem perder de vista a necessidade de articular e multiplicar escalas de observação (das mais individuais às mais vastas, ditas “estruturais”), importa vislumbrar grandes linhas de força (tendências, padrões e regularidades) de forma a sentir o espírito dos tempos numa altura em que os tempos parecem escapar-se-nos como areia fina.

Falarei por isso dos jovens como grandes tradutores. Sem disso se aperceberem transitam, no seu quotidiano, através dos múltiplos papéis sociais que encarnam, entre culturas e repertórios francamente heterogéneos. Nem sempre é fácil lidar com semelhante parafernália; negociar, integrar e traduzir numa identidade referências tão díspares requer ferramentas exigentes (e que são desigualmente distribuídas – desde logo a literacia da imagem e do hipertexto: um link pode ser uma ligação com pistas mil ou, ao invés, um labirinto de onde jamais se sairá sem as feridas do caos). Mas habitar na fronteira, entrar e sair de territórios e universos distintos, faz deles artesãos da adaptabilidade (disposição que o capitalismo recupera e aprecia…) e da apropriação, com viagens frequentes entre a alta cultura, a pop mais comercial e globalizado, o "kitsch" ou o popular localizado (trânsitos bem visíveis na fruição audiovisual).

João Teixeira Lopes, 2.11.2011

segunda-feira, outubro 31, 2011

Zona de conforto??


Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia 
Até a voz do mar se torna exílio 

E a luz que nos rodeia é como grades

 
Sophia de Mello Breyner, Exílio




Por causa disto



Governo aconselha jovens a emigrarem | agência financeira

«Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras»

quinta-feira, outubro 20, 2011

Ver, vigiar e escutar


O que é que nos olha de frente?

A escuta, a vigilância, a atenção são ferramentas para uma viagem humana fecunda. Os Padres do deserto diziam: «O maior dos pecados é a distração».
Vivemos num mundo que nos atropela continuamente, pela quantidade e velocidade da informação. As imagens que vemos também nos obsidiam, aprisionam e devoram. Na sobreposição de discursos e factos, nem sempre somos capazes de contrariar a alienação. E depois: quantos dos nossos gestos não se tornaram, entretanto, meros automatismos! Quantas das nossas escolhas não se esvaziaram de conteúdo, cabendo-nos administrar apenas a forma! É assim que acontece que numa cultura marcada por um excesso de signos, vivamos mergulhados numa inesperada e dramática pobreza simbólica. De certa maneira, enfraqueceu-se a nossa capacidade de ver, e com isso perdemos o acesso a dimensões necessárias de profundidade.
O verbo mais importante é o ver, diziam os gregos. E para ver não basta olhar, não basta deslocar a visão para o outro lado da janela. É preciso, como avisa Fernando Pessoa, «não ter filosofia nenhuma». Só uma atitude de desprendimento nos permite aceder à vigilância autêntica. E não esqueçamos: só um coração pobre vigia. Só um peregrino descobre. Só o olhar do que não tem defesas consegue colher, no instante, a verdadeira presença. 

Escreve o místico Silesius: «a rosa é sem porquê, floresce porque floresce, não cuida de si própria, não pergunta se a vemos». Quando se diz ‘a rosa é sem porquê’, ou ‘a rosa é de ninguém’, propomo-nos investir num modo de construir o real que já não passa por sermos predadores e o real ser uma presa que vamos dominar ou domesticar. Entramos num espaço não já de predadores e presas, mas de vigilantes, de contemplativos, de operadores do assombro.

Vigiar é colocar-se na disponibilidade para a surpresa, para aquilo que vem, tendo consciência que o fundamental da vida não é o que adquirimos, o que fizemos, o que de alguma maneira dominámos, mas sim a incessante prática da hospitalidade. Toda a música que ouvimos, nos preparou, no fundo, para o ato da escuta. Todos os textos que estudamos, toda a poesia que lemos nos prepararam melhor para o ato da leitura. Toda a relação em que investimos, todo o afeto que partilhámos, todo o amor com que amámos, preparam-nos para o ato simples de amar. A vigilância é isso. Não está no apego ao mapa, mas no amor pela viagem. Temos mesmo de deixar a zona de conforto dos mapas para nos tornarmos viajantes, enamorados, vigilantes, sentinelas.
Dir-se-ia que a vida nos pede uma escuta que atravesse o tempo, que perfure os séculos, que transcenda a paisagem, sintonizando com aquilo que verdadeiramente temos diante de nós. E, por isso, temo-nos de perguntar muitas vezes, pela vida fora: Qual é a nossa fronteira? O que é que nos olha de frente? O que trazemos diante de nós?

José Tolentino Mendonça

In Diário de Notícias (Madeira)

19.07.11

quarta-feira, outubro 19, 2011

Um gosto moral | iOnline

Um gosto moral | iOnline
Temos de nos reconhecer, trocar sinais e de nos apoiar com abrigos wireless, alimentos, vinho, e iPads da última geração.

Um belo texto de Luís Januário sobre os nossos tempos.

domingo, outubro 16, 2011


Programa de Rádio sobre Manuel da Fonseca (TSF, 14.10.2011)
Vale a pena ouvir as vozes sobre o escritor que faria agora 100 anos.

Aos media

Aos professores



O mundo não nasceu connosco. 
Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objectos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos actualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.
O material que é trabalhado pelos professores não pode ser quantificado. Não há números ou casas decimais com suficiente precisão para medi-lo. A falta de quantificação não é culpa dos assuntos inquantificáveis, é culpa do nosso desejo de quantificar tudo. Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efectiva. O trabalho dos professores é a generosidade.
Basta um esforço mínimo da memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos-lhes muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado. Com as suas pastas de professores, os seus blazers, os seus Ford Fiesta com cadeirinha para os filhos no banco de trás, os professores de hoje são iguais de ontem. O acto que praticam é igual ao que foi exercido por outros professores, com outros penteados, que existiram há séculos ou há décadas. O conhecimento que enche as páginas dos manuais aumentou e mudou, mas a essência daquilo que os professores fazem mantém-se. Essência, essa palavra que os professores recordam ciclicamente, essa mesma palavra que tendemos a esquecer.
Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu.
Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar. Quando as dificuldades são maiores é quando o esforço para ultrapassá-las deve ser mais intenso. Sabemos que estamos aqui, o sangue atravessa-nos o corpo. Nascemos num dia em que quase nos pareceu ter nascido o mundo inteiro. Temos a graça de uma voz, podemos usá-la para exprimir todo o entendimento do que significa estar aqui, nesta posição. Em anos de aulas teóricas, aulas práticas, no laboratório, no ginásio, em visitas de estudo, sumários escritos no quadro no início da aula, os professores ensinaram-nos que existe vida para lá das certezas rígidas, opacas, que nos queiram apresentar. Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que, como nas aulas de matemática ou de filosofia, não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontra soluções.
Recusar a educação é recusar o desenvolvimento.
Se nos conseguirem convencer a desistir de deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, o erro não será tanto daqueles que forem capazes de nos roubar uma aspiração tão fundamental, o erro primeiro será nosso por termos deixado que nos roubem a capacidade de sonhar, a ambição, metade da humanidade que recebemos dos nossos pais e dos nossos avós. Mas espero que não, acredito que não, não esquecemos a lição que aprendemos e que continuamos a aprender todos os dias com os professores. Tenho esperança.

Cronica de José Luís Peixoto na "Revista Visão" de 13.10.2011

segunda-feira, setembro 26, 2011

Estoril; Agosto 2011

Fundação Gulbenkian inicia estudo sobre leitura digital - Cultura - PUBLICO.PT

Fundação Gulbenkian inicia estudo sobre leitura digital - Cultura - PUBLICO.PT
“Apesar de isto parecer estranho, mesmo no estrangeiro existem poucos estudos sobre a questão da leitura digital”, acrescenta Gustavo Cardoso. Existem muitos estudos sobre o que as pessoas lêem ou não lêem, sobre a edição de livros, outros mais ligados à parte tecnológica, mas “sobre a dimensão do fenómeno do que é que é ler” não existem muitos.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Passamos pelas coisas sem as ver


Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, setembro 15, 2011

O beijo do sol



Pedro Osório, 2011, mesmo agorinha
O essencial vive na música, todos os dias e para todos os sóis.
A pensar no meu neto também chamado Sol que brinca nos instrumentos como um gato na rua.

segunda-feira, setembro 05, 2011

Outra vez?

Like a tiger


65º aniversário de Freddy Mercury. Seria hoje. Homenagem do Google.

Indispensável


Via Bibliotecar, que o apanhou com a sua habitual sagacidade via teaching literacy.

Indispensável não é o caminho "inevitável" ou que como tal nos é apresentado, para que o aceitemos mais ou menos acossados mais ou menos enredados.
Indispensável é o impensável dentro do convencionado, do do costume... e como sempre, simples, como todas as coisas realmente boas, radicado em boas visões "por dentro" do que existe, e regado pela Cultura, como todas as coisas realmente eficazes.
Indispensável e urgente.

domingo, setembro 04, 2011

Cidadania


Foi-me preciso descobrir que: 
a lógica é a ciência de gerir os rendimentos da estupidez; 
os políticos não são inteiramente porque cacarejam e não põem ovos; 
as pastas dos executivos levam dentro aranhas para urdirem as teias que nos imobilizam; 
os militantes de todos os partidos têm pele de camisas enforcadas; 
a família é um cardume de prianhas ao redor da carcaça de uma vaca sagrada; 
a sociologia é uma completa falta de humor perante a decadência; 
os gestores destilam um suor frio que constipa; 
as nações içam as bandeiras para porem o falo a pino e masturbarem-se; 
as esquerdas e as direitas resultam do pacto de não inverterem os papéis; 
o socialismo é um estratagema para negar aos exploradores o direito ao desaparecimento; 
o liberalismo é uma  manha do Estado para forjar algemas com a liberdade; 
os intelectuais são uma chatice com que o Criador não contava; 
sendo a educação a providência dos imbecis que são em maior número, o mundo está imbecilizado pela educação; 
o sistema é a creche da debilidade mental e a vala comum da inteligência; 
a economia é adquirir-se o vício do fumo porque se comprou um isqueiro; 
dos vencidos não reza a história porque se renderam à razão, 
para concluir que: 
chegou a hora romântica dos deuses nos pedirem desobediência. 
Faço-lhes a vontade. A partir de hoje, se alguém me quiser encontrar, procure-me entre o riso e a paixão. 
Natália Correia
Lisboa, 10 de Janeiro de 1983

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito : « Quem alcançou o topo, passou a acreditar que o sucesso foi um feito seu, uma medida do seu ...