domingo, junho 28, 2020

Destemidas

Destemidas: Leymah Gbowee - Histórias de mulheres excecionais, ousadas e decididas que fizeram o que quiseram e lutaram pelos seus sonhos. Mulheres de ideais, épo

quarta-feira, junho 24, 2020

Como um peixe que voa por cima de um país

Desmanchamos o tempo como se um sobressalto
nos atingisse o corpo e o metesse dentro de uma caixa.
Precisamos de ar,
de respirar no meio da gente,
subir aos degraus com os pássaros,
gritar para o asfalto,
para que acordem as crianças e os velhos,
dizendo que está aí a luz do Verão,
os dias abertos para as encostas e para os rios.
Estamos aqui dentro de uma aldeia
pintada de xisto e de oliveiras,
ouvindo a água que corre das cascatas para os vales
longe das cidades, mas no coração das casas,
como um peixe que voa por cima de um país.

Poema a partir de José Mário Silva e Margarida Vale de Gato, a partir de Ruy Belo

Ouvir aqui https://conta-meumconto.blogspot.com/2013/09/poema-partir-de-jose-mario-silva-e.html?fbclid=IwAR2K6S3O2Q12e06ZRROHJdmYgC5UTHot-prE5RHFOaK0GspD8gHReB_9tzE

Capitalism Rethinking?

2 economistas de renome convergem na sinalização da crise e em propostas para o capitalismo.

Nobel Prize - Winning Economist And Columbia University Professor Of Economics Joseph Stiglitz Interview


Joseph Stiglitz

Photographer: Simon Dawson/Bloomberg
"Speaking at the Bloomberg Invest Global virtual conference, Nouriel Roubini predicted the recovery from the pandemic crisis will soon fizzle out and be more anemic than the one that followed the global financial meltdown more than a decade ago. Joseph Stiglitz said politicians must fight that by assuring citizens that public support programs will continue as long as needed.
The pandemic has spurred fears globally that social inequalities will deepen, dampening overall consumption as people put more money aside as they face uncertain future. U.S. savings rates have already soared to an unprecedented one-third of disposable income. 
It has also sparked renewed debate over whether this is a moment to fix some of the pre-existing weaknesses of the modern political economy.
Stiglitz said countries where there’s bigger trust in government have done better getting out of the pandemic. The U.S. should focus on a green transition, fix its infrastructure, health-care and school systems, and make sure and making sure everyone who “wants a job, has a job.”
Still, he said he’s “hopeful” that this crisis will provoke a changed attitude toward running the economy. "
Stiglitz Urges Capitalism Rethink as Roubini Invokes Stagflation - Bloomberg

domingo, junho 21, 2020

Carlos Do Carmo - Bernardo Sassetti/Gracias A La Vida

O Amor é (Fim de Semana)

O Amor é (Fim de Semana): A saúde mental e o tanto que nos afecta - Série de episódios de 'O Amor é', na Edição de fim-de-semana, versão longa. Júlio Machado Vaz em conversas s

Amor fóssil



POEMA DO AMOR FÓSSIL

Quem de nós falará aos homens que hão de vir
quando o grande clarão encher de luz
e pasmo as nossas bocas?
E como?
Que língua entenderão eles?
Que símbolos, que sinais, que apagados murmúrios,
lhes falarão de nós,
desta fluida e versátil multidão,
destes seres que aparentam rosto humano
e como tal comovem
mas que olhados do alto são lepra do planeta.

Que significará sofrer, amar, lutar,
quando as nossas misérias e tormentos
não forem mais do que pégadas fósseis?
Que palavras há-de o poeta reservar
para o coração de plástico dos homens que hão-de vir?
Que santo e senha entenderão?
Que de nós restará neles?
Que parecenças terão com estes hominídeos
que amaram a Natureza porque lhes era hostil
e suportaram o próximo porque não eram livres?

Que verbo deverá ficar gravado na pedra que o vento não corroa,
que lhes fale dos humilhados e dos ofendidos,
dos sonhadores e dos impotentes,
dos ansiosos, dos bêbados e dos ladrões,
desta ridícula, miserável e corrupta humanidade
que instala os arraiais da morte alegremente
num campo que foi verde e que não volta a sê-lo?

Amor?
Como será amor em língua cibernética?

António Gedeão
Poemas escolhidos : antologia organizada pelo autor. Lisboa : João Sá da Costa, 2010, p. 90

Carlos Do Carmo, Bernardo Sassetti - O Sol

Carlos Do Carmo, Bernardo Sassetti - O Sol

sexta-feira, junho 19, 2020

Sonho Impossível - Chico Buarque e Maria Bethania Ao Vivo


Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão


Chico Buarque faz hoje 76 anos


Que bom!

quarta-feira, junho 17, 2020

Não há pachorra para o faz de conta: pobreza e desemprego a subir e anda tudo entretido a falar de estátuas

Os números do Emprego - Notícias & Actualidade - Geral - Guia de ...

A autora não tem olhado muito para os debates em meios sindicais e de movimentos de trabalhadores e trabalhadoras, mas não deixa de ter razão na denúncia do que mais interessa e tantas vezes se apaga dos temas visíveis - nas discussões, e o que é pior, nas decisões políticas que afectam o futuro próximo.
"A recuperação no próximo ano espera-se que apareça robusta, mas para já há aumento da pobreza, desemprego e perspetivas mais escuras. Leio que em Portugal 90% dos empregos destruídos pela resposta à covid foram empregos de mulheres. Das cerca de 50 mil pessoas que perderam o emprego entre fevereiro e abril, 44 mil foram mulheres. Em dois meses, o desemprego feminino aumentou 1,9%, face ao masculino, que aumentou 0,2%. Algo para que a OIT já havia alertado.

Esta catástrofe que cai em cima das mulheres junta-se às desigualdades já pré-existentes. É porque as mulheres geralmente têm vínculos laborais mais precários, ocupam posição mais baixa na hierarquia das empresas, ganham menos (logo as indemnizações são mais baratas) que são agora mais despedidas. A isto junta-se os empregos concentrarem-se nos serviços, no comércio e no turismo, setores mais afetados pelo confinamento. Este período de desemprego não é um mero capítulo na vida das mulheres. Tempos de paragem diminuem ordenados futuros e significam, décadas mais tarde, pensões mais baixas.

Com o emprego dos jovens, o mesmo: 38% dos empregos que desapareceram eram ocupados por jovens. Sendo que a geração dos adultos mais novos vai já na segunda crise económica em poucos anos.

Parecem-me factos mais graves e urgentes que uns gatafunhos desenhados em estátuas.
Se as mulheres e os mais novos são desproporcionalmente afetados pela presente crise, é de elementar justiça que as políticas públicas se concentrem em compensar estes efeitos junto destes grupos. Mas já viu em algum lado esta discussão? Eu não vi."
Maria João Marques, 2020

segunda-feira, junho 15, 2020

é aqui

Escola da Palavra : urgente

Lamberto Maffei - WOOKElogio da Palavra - Livro - WOOKElogio da Rebeldia - Livro - WOOK



"Maffei refere-se ao cérebro em todos os seus elogios. No Elogio da Palavra:  “A evolução demorou milénios a modificar o cérebro para dar a palavra ao homem. Este depois inventou a escrita para que as palavras tivessem significados permanentes e fossem próteses da memórias.” Embora reconhecendo o primado do social no humano chama a atenção dos perigos do “cérebro globalizado.” Como diria Magritte, “isso não é um cérebro”. A Internet está inundada de exibição em vez de informação, tagarelice em vez de debate, propaganda em vez de racionalidade: “O cérebro globalizado é entregue gratuitamente no domicílio através dos meios visuais e verbais, autênticos traficantes da mente, como o melhor dos cérebros possíveis, indispensável para o futuro, para o progresso e para o aumento do PIB”. O cérebro do autor – que é único - revolta-se contra esse “cérebro globalizado”, que recusa a lentidão e a palavra que o cérebro individual exigem.   
Para termos cérebros precisamos de escola. Maffei defende a “escola da palavra”. A sua posição está em linha com obras recentes da filósofa norte-americana Martha Nussbaum e do professor italiano de Literatura Nuccio Ordine, que ele cita. A primeira, em Sem Fins Lucrativos (Edições 70, 2019), defende que a democracia precisa das humanidades e o segundo, em A Utilidade do Inútil (Faktoria K, 2017), pugna pela necessidade do saber desinteressado. A escola deveria recuperar o poder da palavra, em vez de dar certificados a analfabetos funcionais. Maffei levanta a hipótese de que a actual incúria da escola tenha sido programada: “Súbditos mudos, não educados para a palavra e para o pensamento, são cidadãos funcionais para uma democracia de fachada.” Receio que ele tenha razão.
(...)
Se temos um cérebro, só nosso, é nossa obrigação usá-lo. Deveria ser óbvio, mas talvez valha a pena lembrar que não há liberdade se não houver pensamento, ou se apenas houver o pensamento único do “cérebro globalizado."
Carlos Fiolhais, numa bela recensão, aqui Lamberto Maffei. Elogio de Três Elogios (2020)

sexta-feira, junho 12, 2020

Um festival de incerteza. Artigo de Edgar Morin

Foto: Pixabay


2020. 9 junho



"A crise deveria, sobretudo, abrir nossas mentes, há bastante tempo reduzidas ao imediato, ao secundário e ao frívolo, para o essencial: a importância do amor e da amizade para nosso florescimento pessoal, para a comunidade e para a solidariedade de nossos “eus” nos “nossos”, para o destino da Humanidade, dentro da qual cada um de nós é uma mera partícula. Em suma, o confinamento físico deveria favorecer o desconfinamento mental."


Um festival de incerteza. Artigo de Edgar Morin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU

quinta-feira, junho 11, 2020

Ou o vedes ou não o vedes


Eugène Grasset, 1845-1917, Three Women and Three Wolves, 1900


A Cegueira da Governação

Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. 
Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso do costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? 
Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. 
Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos? 
Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos.”

Padre António Vieira, "Sermões", séc. XVII
in


Retrato do Padre António Vieira, de autor desconhecido
 do início do século XVIII


Portugal - Jorge de Sousa Braga, dito por Mário Viegas





PORTUGAL
(de Jorge Sousa Braga, 1981)


Portugal

Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos

Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse

combater os infiéis ao norte de África

só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais

e nunca mais voltasse

Quase chego a pensar que é tudo uma mentira

que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney

e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente

Portugal

Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional

(que os meus egrégios avós me perdoem)

Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo

Anda na consulta externa do Júlio de Matos

Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar

àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas
Portugal

Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império

mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado

Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse

das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal

Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes

Estou loucamente apaixonado por ti

Pergunto a mim mesmo
Como me pude eu apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu

mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal

e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada de ressentimentos

O meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram nada de ressentimentos

Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos

Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga

ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional

Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou
Portugal

Sabes de que cor são os meus olhos?

São castanhos como os da minha mãe
Portugal

gostava de te beijar muito apaixonadamente

na boca

Em De Manhã Vamos Todos Acordar Com Uma Pérola No Cu, Fenda, 1981

quarta-feira, junho 10, 2020

José Mário Branco - "Camões e a tença" do disco "A Noite" (LP 1985)

Descalça vai para a fonte de Luís Vaz de Camões





Os jovens não leem?

Hom'essa!

Leitura destacada no site do PNL2027 no dia 10 de Junho. Diogo, 10º ano, séc. XXI, mediando Luís, séc. XVI

Projeto Ler+14/20 Forte da Casa, 2019-2021

Parceiros:
Agrupamento de Escolas do Forte da Casa, Laredo Associação Cultural, Biblioteca Municipal da Quinta da Piedade, Casa da Juventude do Forte da Casa, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira


sexta-feira, junho 05, 2020

Soneto da viagem a Marte



O tempo não tem sul e não tem norte
seja qual fôr a hora de quem parte,
não tem fronteiras, não possui estandarte,
quem fôr a Marte irá sem passaporte.

Nós teremos partido para a morte
quando os homens partirem para Marte
e embora Marte já não nos importe,
importante, ó futuro, é importar-te.

Importante, ó futuro, é quando a terra
falar da fome e descrever a guerra
como histórias lendárias de gnomos.

Os dias forem lúcidos, translúcidos,
e a vida, ao sabor dos dias lúcidos,
se esqueça dos selvagens que nós fomos.

Sidónio Muralha, "O Pássaro Ferido", 1972

Grande Entrevista

Grande Entrevista: Filipe Froes - Todas as perguntas e todas as respostas. O que é preciso saber sobre o coronavírus na nova fase da pandemia. O médico Filipe Froes regr

segunda-feira, junho 01, 2020

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito : « Quem alcançou o topo, passou a acreditar que o sucesso foi um feito seu, uma medida do seu ...