Os jovens habitantes das fronteiras
Sei como é violento falar de jovens assim, como nuvem indistinta, particularmente quando reclamam originalidade, singularidade e subjectividade. É violento e tantas vezes sociologicamente enganador: colocam-se no mesmo saco gatos desavindos. Mas, sem perder de vista a necessidade de articular e multiplicar escalas de observação (das mais individuais às mais vastas, ditas “estruturais”), importa vislumbrar grandes linhas de força (tendências, padrões e regularidades) de forma a sentir o espírito dos tempos numa altura em que os tempos parecem escapar-se-nos como areia fina.
Falarei por isso dos jovens como grandes tradutores. Sem disso se aperceberem transitam, no seu quotidiano, através dos múltiplos papéis sociais que encarnam, entre culturas e repertórios francamente heterogéneos. Nem sempre é fácil lidar com semelhante parafernália; negociar, integrar e traduzir numa identidade referências tão díspares requer ferramentas exigentes (e que são desigualmente distribuídas – desde logo a literacia da imagem e do hipertexto: um link pode ser uma ligação com pistas mil ou, ao invés, um labirinto de onde jamais se sairá sem as feridas do caos). Mas habitar na fronteira, entrar e sair de territórios e universos distintos, faz deles artesãos da adaptabilidade (disposição que o capitalismo recupera e aprecia…) e da apropriação, com viagens frequentes entre a alta cultura, a pop mais comercial e globalizado, o "kitsch" ou o popular localizado (trânsitos bem visíveis na fruição audiovisual).
João Teixeira Lopes, 2.11.2011
Sem comentários:
Enviar um comentário