segunda-feira, dezembro 18, 2017

Pedir livros, pedir horizontes


Foto de Manuela Barreto Nunes.
Ed. Casa Museo Federico Garcia Llorca de Fuente Vaqueros
Llorca, séc. XX (via Manuela Barreto Nunes, séc. XXI). Iberia: Alocución al pueblo de Fuente Vaqueros, 1931. Leiam a tradução em português do Brasil aqui  (via Youtube- Focus Portal Cultural, 2016)

"Cuando alguien va al teatro, a un concierto o a una fiesta de cualquier índole que sea, si la fiesta es de su agrado, recuerda inmediatamente y lamenta que las personas que él quiere no se encuentren allí. «Lo que le gustaría esto a mi hermana, a mi padre», piensa, y no goza ya del espectáculo sino a través de una leve melancolía.


Foto de Henrique Barreto Nunes.
Trad. português de Portugal, 1ª ed. 2004
Ésta es la melancolía que yo siento, no por la gente de mi casa, que sería pequeño y ruin, sino por todas las criaturas que por falta de medios y por desgracia suya no gozan del supremo bien de la belleza que es vida y es bondad y es serenidad y es pasión.
"Por eso no tengo nunca un libro, porque regalo cuantos compro, que son infinitos, y por eso estoy aquí honrado y contento de inaugurar esta Biblioteca del pueblo, la primera seguramente en toda la provincia de Granada.

"No sólo de pan vive el hombre”. Yo, si tuviera hambre y estuviera desvalido en la calle no pediría un pan; sino que pediría medio pan y un libro. Y yo ataco desde aquí violentamente a los que solamente hablan de reivindicaciones económicas sin nombrar jamás las reivindicaciones culturales que es lo que los pueblos piden a gritos.

Bien está que todos los hombres coman, pero que todos los hombres sepan. Que gocen todos los frutos del espíritu humano porque lo contrario es convertirlos en máquinas al servicio de Estado, es convertirlos en esclavos de una terrible organización social.

Yo tengo mucha más lástima de un hombre que quiere saber y no puede, que de un hambriento. Porque un hambriento puede calmar su hambre fácilmente con un pedazo de pan o con unas frutas, pero un hombre que tiene ansia de saber y no tiene medios, sufre una terrible agonía porque son libros, libros, muchos libros los que necesita y ¿dónde están esos libros?

¡Libros! ¡Libros!
Hace aquí una palabra mágica que equivale a decir: «amor, amor», y que debían los pueblos pedir como piden pan o como anhelan la lluvia para sus sementeras.
Cuando el insigne escritor ruso Fedor Dostoyevsky, padre de la revolución rusa mucho más que Lenin, estaba prisionero en la Siberia, alejado del mundo, entre cuatro paredes y cercado por desoladas llanuras de nieve infinita; y pedía socorro en carta a su lejana familia, sólo decía: «¡Enviadme libros, libros, muchos libros para que mi alma no muera!».
Tenía frío y no pedía fuego, tenía terrible sed y no pedía agua: pedía libros, es decir, horizontes, es decir, escaleras para subir la cumbre del espíritu y del corazón. Porque la agonía física, biológica, natural, de un cuerpo por hambre, sed o frío, dura poco, muy poco, pero la agonía del alma insatisfecha ura toda la vida.
Ya ha dicho el gran Menéndez Pidal, uno de los sabios más verdaderos de Europa, que el lema de la República debe ser: «Cultura». Cultura porque sólo a través de ella se pueden resolver los problemas en que hoy se debate el pueblo lleno de fe, pero falto de luz".

domingo, dezembro 10, 2017

Miguel Hernandez


Miguel Hernández, séc. XX
Daqui
Entre 10 e 14 de Dezembro de 2017, A Escola da Noite publica no seu weblog um poema de Miguel Hernández por dia, antecipando a chegada a Coimbra do espectáculo “Un encuentro con Miguel Hernández”, do Teatro Guirigai.

Não podendo ir a Coimbra, resta-me leitura, e um vago exercício de tradução modesta, para que se agradece o recordatório.

Si me muero, que me muera
con la cabeza muy alta.
Muerto y veinte veces muerto,
la boca contra la grama,
tendré apretados los dientes
y decidida la barba.
Cantando espero a la muerte,
que hay ruiseñores que cantan
encima de los fusiles
y en medio de las batallas.

Miguel Hernandez


Se morro, pois que morra
de cabeça muito alta.
Morto e vinte vezes morto,
a boca contra a erva,
terei cerrados os dentes
e decidida a barba.

Cantando espero pela morte,
que há rouxinóis que cantam
bem acima dos fusis
e no meio das batalhas.

Tradução repentina
Maria José Vitorino

sábado, dezembro 09, 2017

Conversar no Natal, com os meninos e as meninas

 Strive to 5 2
Estudos indicam que crianças que participam frequentemente em conversas mais extensas com adultos apresentam melhores resultados ao nível do desenvolvimento da linguagem e aprendizagem da literacia. Importa, portanto, procurar que a criança se envolva e contribua ativamente no diálogo, ao invés de terminar a conversa ou mudar o tema logo após o primeiro comentário ou resposta. 
David Dickinson (2015) cunhou a expressão “Strive for 5” – “Apontar para os 5” – sugerindo uma abordagem em que o adulto e a criança desenvolvem conversas em que interagem pelo menos durante 5 turnos de conversação sobre o tópico, aprofundando o tema e explorando a conversa.
O Cão Leitor | Livros, Literacia e Literatura para crianças

sexta-feira, dezembro 08, 2017

Depois de amanhã, gente e trabalho

Freelancing in America


Freelancing in America
Freelancing in America (USA)
Image: Freelancers Union and Upwork

Futuro do Trabalho, e de quem trabalhar . Quatro previsões (World Economic Forum, 2017):

(1) Inteligência artificial não vai reduzir trabalho, mas sim exigir novas competências
(2) Cidades vão competir entre si pela posse dos maiores talentos. 
(3) “Freelancing” vai aumentar. 
(4) Educação vai quebrar os silos que a limitam.

1. AI and robotics will create more jobs, not mass unemployment  as long as we responsibly guide innovation
(...) In 2018, we must finally realize that it’s no longer a matter of human versus machine, but rather human and machine working in tandem to solve the world’s problems. It is humans who ultimately decide the next course of action.(...)
2. Cities will compete against other cities in the war for top talent
(...) The talent war of the future will no longer be between companies, it will be between cities. As technology untethers society, and remote work becomes the norm, people will live in the cities of their choosing, rather than the ones that are nearest to where they workThe cities of their choosing will have a certain “vibe” by offering attractive living options in tech-friendly environments.(...)
3. The majority of the US workforce will freelance by 2027
(...) The youngest workforce generation is leading the way, with almost half of millennials freelancing already. (...)
4. Education breaks out of the silo
Our education system is broken. The way we educate future generations no longer prepares them adequately for the skills and jobs of today. The idea that you study math and science and art in your youth as separate disciplines, and then work to solve real world problems in today’s economy, does not add up. Preparing students for tomorrow’s jobs requires breaking down the silos within education.

Fonte inspiradora: https://www.weforum.org/agenda/2017/12/predictions-for-freelance-work-education/

Dias úteis


Dias úteis 
às vezes pretextos fúteis 
pra encontrar felicidades 
no percurso de um só dia 
Dias úteis 
são tão frágeis, as verdades 
que se rompem com a aurora 
quem as não remendaria? 
Dias úteis 
mesmo se a dor nos fizer frente 
a alegria é de repente 
transparente 
quem a não receberia? 
Mesmo por pretextos fúteis 
a alegria é o que nos torna 
os dias úteis 

Dias raros 
aqueles que por amparos 
do bom senso e da imprudência 
fazem os prazeres do dia 
Dias raros 
como os ares, rarefeitos 
amores mais do que perfeitos 
quem os recomendaria? 
Dias raros 
em que os mais dados às rotinas 
ouvem sinos, seguem sinas 
cristalinas 
quem as não perseguiria? 

Por motivos talvez claros 
o prazer é o que nos torna 
os dias raros 
Por pretextos talvez fúteis 
a alegria é o que nos torna 
os dias úteis 
Por motivos talvez claros 
o prazer é o que nos torna 
os dias raros 
Por pretextos talvez fúteis 
por motivos talvez claros

Sérgio Godinho

quinta-feira, dezembro 07, 2017

Coisas que nos animam - ler, ler muito, leeer, e contar como

Ler e contar como. Respirar e inspirar
Os operários e a Cristina Taquelim, 2017, Lagos, Portugal 

Os operários são fixes!: Histórias que cabem num ouvido: Hoje voltámos à Biblioteca Municipal de Lagos para termos uma sessão com a contadora de histórias Cristina Taquelim. A ativida...

Coisas que nos animam - ler, ler muito, leeer, e contar como

Ler e contar como. Respirar e inspirar
Os operários e a Cristina Taquelim, 2017, Lagos, Portugal 

Os operários são fixes!: Histórias que cabem num ouvido: Hoje voltámos à Biblioteca Municipal de Lagos para termos uma sessão com a contadora de histórias Cristina Taquelim. A ativida...

Miúdos & Neorealismo

Foto de Fátima Faria Roque.

14 de dezembro - já para a semana, 5ªfeira. Inaugura-se a exposição, no Museu do Neorealismo, com curadoria de Violante Magalhães e Ana Carina Infante do Carmo.

Em Janeiro, e inicia-se um Curso Livre / Curso de Formação associado:http://www.comparatistas.edu.pt/…/miudos-a-vida-as-maos-che…
Entrada sessão a sessão - livre.  Frequência do curso completo, creditado e certificado, sujeita a inscrição.

Até setembro de 2018, esta exposição traz no regaço outras flores - valerá a pena percorrer o programa http://www.comparatistas.edu.pt/images//programa%E7%E3o_mi%FAdos_05122017.pdf

Entre outras coisas, há sessões de cinema gratuitas, desde 10 de janeiro. As escolas do concelho podem pedir transporte à Câmara Municipal... A programação pode ser interessante para os mais velhos - 3º ciclo, Ensino Secundário.
Tudo em Vila Franca de Xira, acessível.
Recordo que há muito desapareceram todas as salas de cinema do concelho.

O Neorealismo é património cultural comum nosso, e uma riqueza a partilhar com as próximas gerações. O mais importante é mesmo isso - o que permanece depois da espuma dos dias, por mais intenso que hoje nos pareça o frio de alguns dias de Inverno.

Está prevista a publicação dos textos do Curso na revista Nova Síntese, da Associação Promotora do Neorealismo, que desde há décadas amorosamente labora pela Cultura e pelo desenvolvimento e divulgação do Museu, e que tenho a honra de integrar.

domingo, dezembro 03, 2017

Histórias do Natal - 1


Aquilo que é necessário

Na manhã do dia 1 de Janeiro de 1962, eu, o meu irmão e as minhas duas irmãs fomos acordados, não pelo meu pai ou a minha mãe como era costume, mas por um tio e uma tia. Mandaram-nos vestir um roupão sobre os pijamas e acompanhá-los. Atravessámos a curta distância que separava da casa do meu avô materno a casa onde vivíamos, e à qual nunca mais voltei. Durante semanas só nos disseram coisas vagas. As empregadas do meu avô calavam-se de repente quando passávamos. Soubemos depois que a família não tinha a certeza que o meu pai sobrevivesse aos ferimentos de bala que sofrera no ataque ao quartel de Beja na madrugada daquele dia 1. A minha mãe estava presa. Voltou para casa um ano e meio depois. Ele, ao fim de seis anos. Lembro-me: a minha mãe, a quem não deixaram abraçar os filhos pequenos, encharcando com lágrimas os punhos cerrados de fúria com que agarrava as grades do parlatório de Caxias. O nosso terror. O meu pai, numa cela da Penitenciária de Lisboa, entubado, magríssimo, a voz quase apagada, um fantasma desvanecido contra a luz da janela, aquele homem que eu recordava grande, alegre, garboso na sua farda. Desapareceu de vez a infatigável alegria do meu irmão, um miúdo palrador e de olhos cheios de luz. Ganhou dificuldades de fala e endureceu. Nunca mais encontrou a paz. Por mim, fui adolescente a querer ser homem sem ter para isso pai. Não foi fácil e não se tornou menos difícil depois. As minhas irmãs, eu sei lá, nunca falamos disso. A família juntou-se para nos acolher e ajudar, houve amigos que estiveram à altura da ocasião, mas vivíamos com alguma dificuldade. Quando a minha mãe foi libertada, tinha perdido a profissão que a PIDE a impediu de retomar. Arranjou os empregos possíveis. Dormia pouquíssimo, trabalhava loucamente e aguentou tudo. Só perdeu a juventude e a saúde.

Quando visitávamos os meus pais em Caxias, em Peniche, encontrámos pessoas que sofreram muito mais que nós e estavam muito mais desamparadas. Especialmente os familiares de militantes do PCP, gente heróica sem bravata. Aprendemos que, para além dos nossos pais e dos que, com eles, foram a Beja (alguns, com menos sorte e resistência física que o meu pai, para lá morrerem), havia em Portugal muitas pessoas rectas que, ao fazerem o que era necessário fazer, causaram danos colaterais como aqueles que a minha família sofreu. Aprendemos que é mesmo assim, que nada se consegue sem danos colaterais. Aprendemos também, todavia, que a maioria das pessoas não suporta esta ideia e quer somente paz e sossego. É a vida, mas felizmente haverá sempre aqueles que são maiores que a vida. Se os não houvera, a iniquidade venceria necessariamente.



Coincide com os 50 anos da Revolta de Beja a perseguição movida pelo regime que hoje vigora em Portugal contra Otelo Saraiva de Carvalho, o operacional responsável pela revolta seguinte, o 25 de Abril de 1974. Que isso não nos impeça de dizer e fazer o que é necessário. A iniquidade não pode vencer.

Paulo Varela Gomes
7.1.2012, in Público


Partilhado aqui

Entre as brumas da memória: Ainda a propósito do Golpe de Beja e de um texto de Paulo Varela Gomes

Mild Manual de Instruções para a Literacia Digital

Foto de Daniel Cassany.


Manual = recurso à mão de cada qual. Pensado para a faixa etária dos 15 aos 18 anos - em Portugal, a escolaridade obrigatória vai até este limite (12ºano), e os jovens desta idade usam intensamente os meios digitais, a internet, a web... sabendo utilizá-los com limitações.

É suficiente? Provavelmente não.

Faz falta? Faz.

Ainda temos, em 2017, em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas, e entre falantes e leitores de língua portuguesa no mundo - 4ª mais falada e a 5ª mais usada na internet (dados de 2017):
  • muitos jovens que não concluem a escolaridade básica, ou que não o fazem antes dos 18 anos
  • muitos jovens que não concluem o ensino secundário, ou que não o fazem antes dos 18 anos
  • muitos estudantes universitários com fracas competências em literacia da informação, e noutras literacias
Agora, é explorar o Portal criado por um Projeto Gulbenkian (2015-2017) e entregue pela Fundação à RBE Rede de Bibliotecas Escolares, para que o dinamize e desenvolva. 

Ver mais aqui:
Mild

Como lê Portugal - um video de quase 3 min, 2017

Imagem daqui, sem créditos  


Que somos um país de poetas já todos sabemos. Mas será que lemos tanto quanto escrevemos? A realidade entre aquilo que se edita e aquilo que a população lê é muito diferente. E, sobretudo, coloca-nos na cauda da Europa no que respeita a hábitos de leitura. Jornalismo de dados em dois minutos e 59 segundos para explicar quem lê, o que lê e como lê.

Serviço público - Pordata/Expresso

Expresso | Como lê este país

quarta-feira, novembro 29, 2017

A corda que faz o laço, em tempos de cegueiras


Imagem de Filipe Ferreira, daqui
Penso que o fenómeno que mostra estarmos numa época diferente é a desculturação – e que é maciça. Há 50 ou 60 anos, mesmo com muitos analfabetos e com uma vida quotidiana muito mais difícil nos aspectos vitais, existia uma ligação à terra que permitia haver uma cultura, haver raízes. E a cultura não só se massificou, como se desenraizou. Portanto há uma epidemia de amorfismo que, num aspecto, se assemelha com o que tínhamos na ditadura: parece que vivemos no meio de uma papa cinzenta. É a desculturação, a falta de assunto. Trata-se de uma característica geral da época da globalização do capitalismo, não é uma queixinha que estou a fazer em relação ao nosso país. Digamos que a estética pós-modernista é um resultado directo disso, é feita para alimentar essa visão do mundo que não é uma visão, é uma forma de cegueira. E por ter essa relação com os tais valores que não são os valores da Bolsa, não quero que esta conversa seja percebida como uma conversa amarga. Só que o mundo está diferente. Ainda não percebemos bem a gravidade do que está a acontecer de há 20 ou 30 anos para cá.  
A única coisa que vislumbro é que é preciso começar tudo de novo, mais uma vez, como o Ehrlich, e é preciso começar pelo que está perto, pelo que está em baixo, no chão. É um trabalho muito mais a partir das questões biológicas, animais, da sobrevivência, do medo, do prazer, das questões básicas. A estrutura de classes modificou-se imenso, mas não a forma de apropriação da mais-valia pelo capital. E hoje o que há é uma visão da arte que corresponde perfeitamente ao capitalismo pós-II Guerra Mundial. Quando vemos a história do Van Gogh ou do Modigliani e comparamos com a rapariga que faz galos de Barcelos isso é uma amostra do trabalho do pós-modernismo. Deixou de haver ética na criação artística. Deixou de haver compromisso. Deixou de haver sangue. É raro encontrar-se uma obra, mesmo de menor qualidade estética, em que se sinta a preocupação de comunicar com o outro. 
José Mário Branco, 2017
Entrevista. “Deixou de haver ética e sangue na criação artística”

terça-feira, novembro 28, 2017

Geringonças

Retirado daqui

Ilustração de Anabela Dias no livro Tepluquê e outras histórias, de Manuel António Pina, ed. Porto Editora, Col. Educação Literária, 2013

Águias, procuram-se

Foto daqui
Foto daqui



Por detrás do horizonte há sempre outro horizonte - falta alcance, ai de nós. Já é tempo de erguer os olhos e apontar mais longe.

No rescaldo de mais uma votação do Orçamento de Estado de Portugal, para 2018, envolvendo compromissos e desistências, com manifesta falta de águias no comando e no desejo, cito uma voz sábia:


Os próximos quatro anos "poderiam servir para implementar algumas das reformas estruturais que a esquerda defende para o país e para o Estado, mostrando que tem proposta, e não apenas resistência, que não é uma força conservadora, apenas defende caminhos diferentes na mudança."
Pois. Mas isso exigiria, não um golpe de asa como o que nos levou à solução parlamentar e governativa actual, mas um grande voo de águia, visando para além do horizonte.



sábado, novembro 25, 2017

Ser leitor, revelar os livros

Foto de Cristina Carvalho.
Foto partilhada por Cristina Carvalho, criança

De vez em quando, dou por mim a pensar nas fichas de leitura que muitas vezes encontramos na prática diária das escolas e, até, de bibliotecas escolares, e na dependência que tantas vezes noto desse recurso. Li hoje uma memória de infância deveras útil para refletir.

Os pais da Cristina foram grandes leitores, e criadores.
Como promoviam/mediavam a leitura da sua educanda? Ora vejam

  1. conheciam bem a filha, acompanhavam dia a dia o seu crescimento, sem estar com ela a todas as horas e minutos - sabiam quem era e como era o seu destinatário de educação / mediação
  2. liam os livros, escolhiam-nos pensando nela, liam-nos (repito a palavra, acho que não devia ser só uma vez) - conheciam os conteúdos a fundo, e por si mesmos, com opinião
  3. forneciam os livros, tinham-nos disponíveis - organizavam as coleções, e não um único livro, um único texto
  4. davam tempo para ler; confiavam que a filha os leria, e criavam expetativa - iriam saber como os tinha lido... - cuidavam da relação e das condições para ler
  5. entusiasmavam a partilha da leitura por métodos simples - conversar, partilhar frases; liam-nas, interagiam, comentavam, transformavam - davam valor, que é o que significa avaliar. 
Naquela época, ainda não havia tablets nem blogs nem sms nos telemóveis... mas havia uma corda, molas de roupa, papel/cartolina e lápis. E houve tempo e atenção entre leitores. Entre leitores, se faz leitura.

Tudo isto se fazia em casa, e pode ser feito na escola e em qualquer lugar, sejam quais foram as tecnologias disponíveis. Com a devida vénia, reproduzo a história inspiradora, partilhada na página do Facebook da sua autora, que muito prezo. 
OS MEUS LIVROS – sim, talvez fosse tudo muito esquisito, mas foi assim. E isto hoje vem a propósito. São memórias, são lembranças. 
Comecei pela leitura. Li desde muito cedo. Os meus pais “estudavam”, preparavam os livros que eu devia ler. E eu lia-os todos. E depois conversávamos sobre esses livros. Também fazia uma espécie de relatório daquilo que lia. As minhas melhores frases eram, então, escolhidas, escritas num recorte de cartolina e eu própria, mensalmente, fazia uma exposição com essas cartolinas com as minhas frases lá escritas, presas com uma mola da roupa e penduradas num cordel que ia de ponta a ponta do meu quarto. Quem assistia aquela exposição? Os meus pais que, geralmente, concordavam com a escolha das frases e se não concordassem, eu deveria arranjar outras frases melhores e tornar a escrevê-las. Eu adorava isto, por muito estranho que possa parecer. Mas as crianças gostam de coisas estranhas…

Certo é que tem sido sempre assim, ao longo da vida. Leituras, observações, notas, resumos. Claro que já não faço exposições com cordéis e molas da roupa a prender recortes, no meu quarto, mas de alguma outra forma exponho aquilo que vou escrevendo. 

Revelo os meus livros. Na foto, eu, 3 anos.
Cristina Carvalho, 2017
Pais leitores, criadores, educadores: Natália Nunes, Rómulo de Carvalho/António Gedeão

sexta-feira, novembro 24, 2017

José Afonso - "Canção do Mar" do disco "Cantares de José Afonso" (1ª edi...

Celebrar Gedeão

Fonte: BN Digital (20171124)

IMPRESSÃO DIGITAL

Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.


Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem lutos e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

António Gedeão
In Movimento Perpétuo (1956)

Luiz Melodia - Que Loucura

quarta-feira, novembro 22, 2017

O quiosque das Worst Tours pode fechar. Porquê? | P3

O quiosque das Worst Tours pode fechar. Porquê? | P3: O quiosque amarelo que leva turistas em “passeios do piorio” pelo Porto pode fechar no final deste ano. A Câmara do Porto diz que o contrato não foi cumprido pelos proprietários, mas os criadores das Worst Tours dizem desconhecer as razões para o encerramento

domingo, novembro 19, 2017

Copyright Reform for Education - International Communia Association

 
Imagem disponível aqui
The legal research on exceptions and limitations as well as the research on modern educational practices will help policymakers in developing a future-proof education exception that keeps teachers teaching instead of figuring out the intricacies of copyright law. We want to raise awareness about copyright in education, and the need to reform the copyright system, among educational institutions and educators. This way educators can raise their voice in the current copyright reform in order to reform copyright in such a way that it facilitates modern education. 
Would you like to know more about Copyright for Education? Contact us at info@communia-association.org. This project is funded by the Open Society Foundation.
Vejam mais aqui:



Copyright Reform for Education - International Communia Association

Lutar

Foto de Manuel Grilo.
Manifestação de professores,  junto à Asssembleia da República. 15.11.2017

Luta de classes já não há, dizem alguns com olhos baços. A ver se a gente se cala, amocha, aceita. Mas nós, como os mestres que no lo ensinaram, não vamos por aí.
Depois como sugere Chomski, a gente olha para os salários dos CEO das grandes empresas e fica a pensar... Repara na evolução dos muito ricos durante a "crise da austeridade" em Portugal e fica a pensar ainda mais...

Vem a leitura a propósito da greve de professores em Portugal, na semana que findou, com a agitação inerente e as maratonas negociais que, espero, ainda agora tenham começado. Lutar, pois, é disso que se trata, em todos os tabuleiros, com as razões do coletivo e as forças de cada um, cada qual onde consegue agir.

Desculpas para não lutar, sempre houve e haverá.

Críticas a quem dirige as lutas, é bom que sempre haja, e capacidade de as ouvir.

Preciso, sempre é que haja força e coragem, solidários e tenazes.

Saúdo os professores em greve, e todos os trabalhadores em luta, de tantas formas clamando "Não vou por aí!"



Cântico negroJosé Régio  
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos docesEstendendo-me os braços, e segurosDe que seria bom que eu os ouvisseQuando me dizem: "vem por aqui!"Eu olho-os com olhos lassos,(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)E cruzo os braços,E nunca vou por ali...A minha glória é esta:Criar desumanidades!Não acompanhar ninguém.— Que eu vivo com o mesmo sem-vontadeCom que rasguei o ventre à minha mãeNão, não vou por aí! Só vou por ondeMe levam meus próprios passos...Se ao que busco saber nenhum de vós respondePor que me repetis: "vem por aqui!"?Prefiro escorregar nos becos lamacentos,Redemoinhar aos ventos,Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,A ir por aí...Se vim ao mundo, foiSó para desflorar florestas virgens,E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!O mais que faço não vale nada.Como, pois, sereis vósQue me dareis impulsos, ferramentas e coragemPara eu derrubar os meus obstáculos?...Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,E vós amais o que é fácil!Eu amo o Longe e a Miragem,Amo os abismos, as torrentes, os desertos...Ide! Tendes estradas,Tendes jardins, tendes canteiros,Tendes pátria, tendes tetos,E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...Eu tenho a minha Loucura !Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;Mas eu, que nunca principio nem acabo,Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,Ninguém me peça definições!Ninguém me diga: "vem por aqui"!A minha vida é um vendaval que se soltou,É uma onda que se alevantou,É um átomo a mais que se animou...Não sei por onde vou,Não sei para onde vouSei que não vou por aí!
Fonte:

José Régio - Cântico negro

quinta-feira, novembro 16, 2017

Ler o mundo, bairro a bairro

 
Imagem daqui, publicada a 16.12.2016
"Vivem 65 crianças no Bairro da Torre e apenas cerca de metade de toda a população do bairro se encontra em idade activa e, dessa metade, menos de 1/5 é que está empregada.
Após os respectivos moradores já terem estado cerca de 9 meses sem abastecimento de água, acontece que no dia 19 de Outubro de 2016 a EDP [empresa fornecedora de energia elétrica], sob o pretexto da existência de baixadas ilegais e mesmo sabendo haver vários contratos de electricidade e centenas de Códigos Ponto de Energia (CPES) activos no bairro, cortou a linha de acesso à energia eléctrica a todo o bairro sem excepção.
Os moradores do bairro mostram-se dispostos, e já o declararam por diversas vezes, a pagar electricidade. Solicitaram à EDP a celebração de contratos individuais. Ou até de um contrato único para todo o bairro (com um único contador para o conjunto do aglomerado populacional e depois ligações individuais a cada casa, como foi feito, por exemplo, no Bairro das Terras da Costa, em Almada. Mas a EDP, do alto da sua arrogância, a todas essas propostas disse “NÃO”. Desesperados, os moradores propuseram à Câmara Municipal de Loures a construção de um painel fotovoltaico a ser pago pelos moradores em 5 anos, mas a mesma Câmara de Loures, invocando o preço do mesmo painel (95.000 euros), também recusou."
Garcia Pereira, Portugal, 16.11.2017 




A EDP E O BAIRRO DA TORRE – AS DUAS FACES DUMA MESMA SOCIEDADE INJUSTA E SELVAGEM - Notícias Online

terça-feira, novembro 14, 2017

Fingia não o ter

Capa de edição de 1998


Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. 
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”. 
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. 
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. 
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. 
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. 
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. 
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. 
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. 
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! 
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. 
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. 
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. 
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. 
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
CLARICE LISPECTOR, “Felicidade Clandestina”, in ‘FELICIDADE CLANDESTINA

Do lado da alegria e da liberdade

segunda-feira, novembro 13, 2017

Organizar a casa para arrumar a vida

 Mariana Vidal

“Eu acho que temos coisas que nos são tão importantes e estão no fundo de caixas a apanhar pó na garagem e no sótão”, explica. “Livros que nós adoramos e estão ali fechados, nunca mais vão ser abertos. Se venderes, se deres à biblioteca, vão ter outra vida.” É uma escolha: “ou dez anos de escuridão ou dez anos de amor”. 
Mariana não esconde que gosta de consumir coisas: gosta de comprar uma roupa em que se sinta confiante, de consumir livros, objectos de decoração. Mas o que percebe “é que as pessoas continuam a consumir e não libertam, não fazem o círculo, não fazem com que seja sustentável”.




Organizar a casa para arrumar a vida — é isto que Mariana ensina | P3

quinta-feira, novembro 09, 2017

De Marina e para Marina, com amor

 LC Agência de Comunicação/Divulgação
Presto muita atenção. Minha arma é o olhar.
A literatura infantojuvenil pode ser um veículo de educação?Ela é um veículo de educação, mas Educação com letra maiúscula, porque é um veículo estético, uma vez que hoje temos ilustradores maravilhosos como Roger Mello, Graça Lima, artistas gráficos ilustrando para as crianças, dando para as crianças uma visão estética rica. E o conteúdo de literatura é sempre formador, porque a literatura existe não é pra distrair, encher o tempo, para isso se leem livros policiais. A literatura existe para filosofar a vida, para falar dos sentimentos, para pluralizar os sentimentos, para nos dar mais entrada naquilo que é ou pretendemos que seja a essência do ser humano. Nós não sabemos dos sentimentos dos animais, mas sempre nos arvoramos a ser os donos do sentimento. E a literatura serve para isso. Por isso ela é formadora.
Temas como o envelhecimento e a finitude da vida são importantes na literatura infantojuvenil? Por quê?Os jovens passaram a ter uma vida, de certa forma, mais fácil, que foi vindo com a modernidade, com o passar dos séculos e dos anos. É uma vida onde o desejo está acima de tudo, tanto o desejo de objetos quanto o desejo sexual. Se a pessoa não vive dentro de uma guerra, como estamos vivendo agora na Rocinha, por exemplo, ela não traz a iminência da guerra, o perigo da guerra, a dificuldade da guerra dentro de si porque seus parentes, seus pais, seus avós, seus tios não passaram por isso e não lhe transmitem isso. Essa é uma sociedade do prazer, do entretenimento, do have fun, do divirta-se. Muita selfie, muita foto e o prazer em dose máxima.
O que perdemos com isso? Perdemos a compreensão do outro que está sofrendo, perdemos a vivência anterior da doença, da morte, da precariedade das coisas, perdemos a verticalidade da vida. A vida não é horizontal, a vida é vertical. Ninguém mais acompanha a morte, a morte não acontece em casa, não se vela em casa. Eu vi várias pessoas morrerem, mas isso é uma coisa da minha geração.






Marina Colasanti completa 80 anos e acumula livros e prêmios - Diversão e Arte - Correio Braziliense

quarta-feira, novembro 08, 2017

Portugal, Florestas, novembro 2017

 Produtores florestais denunciam “cenário de pós-guerra” e apoios insuficientes
Serra do Açor, no concelho de Arganil, após incêndios de outubro. Foto Esquerda.net.
1. A situação nos territórios afetados é ainda mais grave do que os meios de comunicação social têm propalado; 
2. Há medidas urgentes que têm de chegar ao terreno no curto prazo; 
3. A situação existente é de um cenário “pós-guerra” que exige uma atuação de emergência; 
4. A floresta, a agro-floresta e os produtores florestais raramente são referidos como parte da solução; 
5. Os apoios não chegaram e não se vislumbra que irão chegar no curto prazo; 
6. Há muito trabalho feito na floresta e nos territórios rurais pelo sector agroflorestal e pelas suas organizações, e está maioritariamente a ser feita “tábua rasa” de todo esse capital; 
7. É preciso atuar no imediato e pensar o futuro de forma diferente, tendo em consideração que sem o território e os seus agentes esse futuro vai estar decisivamente comprometido.
Coimbra, 3.11.2017 


Produtores florestais denunciam “cenário de pós-guerra” e apoios insuficientes | Esquerda

Democracia, luta diária

 É estranho que desejos democráticos sejam considerados perigosos, diz Judith Butler em SP
Judtih Butler organizou um seminário internacional em São Paulo, Brasil, 6 a 9.11.2017, na Sesc  Pompeia - 'Os fins da democracia' (Foto Erika Mayumi/Divulgação).  A sua presença foi alvo de manifestações de rua - 70 pessoas contra ("não à ideologia de gênero”, “meu filho, minhas regras”, "Fora Butler"), muitas outras a favor (coletivos Além Das Sombras, Pompeia Sem Medo, Democracia Corintiana e Ocupe a Democracia, "Fora Temer")

“Talvez a democracia seja uma aspiração, talvez seja uma forma de governo, além de servir a ideais como igualdade, liberdade e justiça. A democracia é uma luta diária que requer um agrupamento do pensamento crítico dedicado a responder às forças que censuram as palavras, restringem a nossa liberdade, condenam nossos amores e reproduzem legados de violência e dominação.”


Judith Butler, 2017




É estranho que desejos democráticos sejam considerados perigosos, diz Judith Butler em SP

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito : « Quem alcançou o topo, passou a acreditar que o sucesso foi um feito seu, uma medida do seu ...