Presto muita atenção. Minha arma é o olhar.
A literatura infantojuvenil pode ser um veículo de educação?Ela é um veículo de educação, mas Educação com letra maiúscula, porque é um veículo estético, uma vez que hoje temos ilustradores maravilhosos como Roger Mello, Graça Lima, artistas gráficos ilustrando para as crianças, dando para as crianças uma visão estética rica. E o conteúdo de literatura é sempre formador, porque a literatura existe não é pra distrair, encher o tempo, para isso se leem livros policiais. A literatura existe para filosofar a vida, para falar dos sentimentos, para pluralizar os sentimentos, para nos dar mais entrada naquilo que é ou pretendemos que seja a essência do ser humano. Nós não sabemos dos sentimentos dos animais, mas sempre nos arvoramos a ser os donos do sentimento. E a literatura serve para isso. Por isso ela é formadora.
Temas como o envelhecimento e a finitude da vida são importantes na literatura infantojuvenil? Por quê?Os jovens passaram a ter uma vida, de certa forma, mais fácil, que foi vindo com a modernidade, com o passar dos séculos e dos anos. É uma vida onde o desejo está acima de tudo, tanto o desejo de objetos quanto o desejo sexual. Se a pessoa não vive dentro de uma guerra, como estamos vivendo agora na Rocinha, por exemplo, ela não traz a iminência da guerra, o perigo da guerra, a dificuldade da guerra dentro de si porque seus parentes, seus pais, seus avós, seus tios não passaram por isso e não lhe transmitem isso. Essa é uma sociedade do prazer, do entretenimento, do have fun, do divirta-se. Muita selfie, muita foto e o prazer em dose máxima.
O que perdemos com isso? Perdemos a compreensão do outro que está sofrendo, perdemos a vivência anterior da doença, da morte, da precariedade das coisas, perdemos a verticalidade da vida. A vida não é horizontal, a vida é vertical. Ninguém mais acompanha a morte, a morte não acontece em casa, não se vela em casa. Eu vi várias pessoas morrerem, mas isso é uma coisa da minha geração.
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