sábado, novembro 25, 2017

Ser leitor, revelar os livros

Foto de Cristina Carvalho.
Foto partilhada por Cristina Carvalho, criança

De vez em quando, dou por mim a pensar nas fichas de leitura que muitas vezes encontramos na prática diária das escolas e, até, de bibliotecas escolares, e na dependência que tantas vezes noto desse recurso. Li hoje uma memória de infância deveras útil para refletir.

Os pais da Cristina foram grandes leitores, e criadores.
Como promoviam/mediavam a leitura da sua educanda? Ora vejam

  1. conheciam bem a filha, acompanhavam dia a dia o seu crescimento, sem estar com ela a todas as horas e minutos - sabiam quem era e como era o seu destinatário de educação / mediação
  2. liam os livros, escolhiam-nos pensando nela, liam-nos (repito a palavra, acho que não devia ser só uma vez) - conheciam os conteúdos a fundo, e por si mesmos, com opinião
  3. forneciam os livros, tinham-nos disponíveis - organizavam as coleções, e não um único livro, um único texto
  4. davam tempo para ler; confiavam que a filha os leria, e criavam expetativa - iriam saber como os tinha lido... - cuidavam da relação e das condições para ler
  5. entusiasmavam a partilha da leitura por métodos simples - conversar, partilhar frases; liam-nas, interagiam, comentavam, transformavam - davam valor, que é o que significa avaliar. 
Naquela época, ainda não havia tablets nem blogs nem sms nos telemóveis... mas havia uma corda, molas de roupa, papel/cartolina e lápis. E houve tempo e atenção entre leitores. Entre leitores, se faz leitura.

Tudo isto se fazia em casa, e pode ser feito na escola e em qualquer lugar, sejam quais foram as tecnologias disponíveis. Com a devida vénia, reproduzo a história inspiradora, partilhada na página do Facebook da sua autora, que muito prezo. 
OS MEUS LIVROS – sim, talvez fosse tudo muito esquisito, mas foi assim. E isto hoje vem a propósito. São memórias, são lembranças. 
Comecei pela leitura. Li desde muito cedo. Os meus pais “estudavam”, preparavam os livros que eu devia ler. E eu lia-os todos. E depois conversávamos sobre esses livros. Também fazia uma espécie de relatório daquilo que lia. As minhas melhores frases eram, então, escolhidas, escritas num recorte de cartolina e eu própria, mensalmente, fazia uma exposição com essas cartolinas com as minhas frases lá escritas, presas com uma mola da roupa e penduradas num cordel que ia de ponta a ponta do meu quarto. Quem assistia aquela exposição? Os meus pais que, geralmente, concordavam com a escolha das frases e se não concordassem, eu deveria arranjar outras frases melhores e tornar a escrevê-las. Eu adorava isto, por muito estranho que possa parecer. Mas as crianças gostam de coisas estranhas…

Certo é que tem sido sempre assim, ao longo da vida. Leituras, observações, notas, resumos. Claro que já não faço exposições com cordéis e molas da roupa a prender recortes, no meu quarto, mas de alguma outra forma exponho aquilo que vou escrevendo. 

Revelo os meus livros. Na foto, eu, 3 anos.
Cristina Carvalho, 2017
Pais leitores, criadores, educadores: Natália Nunes, Rómulo de Carvalho/António Gedeão

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