Adriano Miranda, fotografia, Dulce Maria Cardoso, palavras, 2020, Dezembro, Portugal
Fonte: https://www.publico.pt/interactivo/porque-escolhemos-nao-ver-os-velhos
Os passos a que ando, um atrás do outro, como as letras em carreirinha, do fim para o princípio.
Fonte: https://www.publico.pt/interactivo/porque-escolhemos-nao-ver-os-velhos
LP – Estamos a viver uma crise que parece não ter fim. Quando sentíamos que nada podia parar o desenvolvimento, eis que uma pandemia vem mostrar a nossa fragilidade, a fragilidade do nosso modo de vida. Como enfrentar estes tempos?
SN – Estamos a viver tempos dramáticos. Estamos desorientados, perdidos. Não sabemos como agir, nem o que pensar, mas sabemos que precisamos de mudar de via, como escreveu Edgar Morin, e de vida. O presente já não é o que era, e o futuro muito menos.
Precisamos urgentemente de libertar o futuro, adoptando três caminhos: uma valorização do comum, uma outra relação com o planeta e a participação de todos, incluindo os jovens, na definição do seu futuro. Recentemente, falando na Reunião Mundial da Educação (22 de Outubro de 2020), Angelina Jolie afirmava: “Com a conectividade que temos não há nenhuma razão para que não haja uma conversa nos dois sentidos, entre líderes, educadores e os jovens que são quem conhece os melhores desafios que enfrentam. Da mesma forma que a educação, também a participação é um direito”.
O pior que nos poderia acontecer seria considerar esta pandemia como um parêntesis, como se fosse possível, e desejável, regressar ao “normal” que aqui nos trouxe. Precisamos de libertar o futuro de ideias feitas, de preconceitos, de visões únicas e totalitárias do mundo, de comportamentos que estão a destruir a vida e a humanidade. Para isso, é urgente substituir as certezas pelas dúvidas, dar lugar a conversas plurais. E ninguém pode pensar fora das possibilidades da língua em que pensa, como escreve Vergílio Ferreira. Cultivar e alargar estas possibilidades é abrir a língua aos futuros possíveis e escolher os desejáveis. Porque é na língua que está a liberdade.
Segundo Bernard-Henri Lévy, o século passado ensinou-nos que, quando apostamos na nostalgia, apenas pavimentamos o caminho para o totalitarismo, mas “quando, em vez disso, nos comprometemos a seguir em frente, mergulhar no desconhecido e abraçar a nossa humanidade com todas as suas incertezas, então embarcamos numa aventura verdadeiramente bela e nobre – o próprio caminho para a liberdade”. O nosso futuro comum precisa das línguas, e da língua portuguesa
Sei um ninho.E o ninho tem um ovo.E o ovo, redondinho,Tem lá dentro um passarinhoNovo.Mas escusam de me atentar:Nem o tiro, nem o ensino.Quero ser um bom meninoE guardarEste segredo comigo.E ter depois um amigoQue faça o pinoA voar...Miguel Torga
Fazer política é procurar construir felicidade para todos.
Triunfar na vida não é ganhar, é recomeçar.
Pepe Mujica, 28.10.2020
Questões para futura investigação:
À medida que aumenta a utilização de materiais digitais para uso educacional e pessoal,
surgem questões importantes sobre o futuro da leitura, a pedagogia da literacia e a importância
da comunicação textual:
• Em que contextos de leitura e para que leitores pode o uso de textos digitais ser mais
vantajoso?
• Inversamente, em que domínio de aprendizagem e da escrita literária deve ser
incentivado e defendido o suporte em papel?
• Estará a tendência da leitura em ecrã para ser mais fragmentada, menos focada e com
um processamento mais superficial, a ser transferida para a leitura em papel e, assim,
transformando este padrão naquele que é mais frequentemente adotado
independentemente do suporte?
• Estará a nossa suscetibilidade para as notícias falsas e ideias preconcebidas a ser
ampliada pelo excesso de confiança nas nossas competências para a leitura digital?
• O que pode ser feito para incentivar um tratamento mais aprofundado dos textos emDeclaração de Stavangen, Fevereiro 2020 (pdf)
geral e, em particular, daqueles que são lidos em ecrã?
O Open House Lisboa 2020 tem um formato adaptado às restrições desta fase de pandemia, numa edição onde não está incluída a visita a espaços e a entrada em apartamentos, museus ou casas privadas. Assim, convidamos a serpentear por Lisboa de forma independente e segura, através de passeios sonoros narrados na 1ª pessoa por oito personalidades de diferentes áreas da cultura.
Ao descarregar os oito podcasts ou optar pela versão em streaming, o seu telemóvel ou dispositivo electrónico acompanham esta viagem sonora de inegável riqueza e diversidade. De mãos dadas com vozes únicas, este Open House Lisboa sugere formas singulares de ouvir, ver, sentir e viver o espaço público de Lisboa.
Com uma duração que varia entre os 21 e 71 minutos, estes passeios sonoros estão disponíveis na plataforma Soundcloud e nas aplicações habituais para Iphone a Android. Se usar o Spotify, pesquise nos podcasts por Open House Lisboa. No seu telemóvel pode ainda pesquisar na aplicação de podcasts que costuma utilizar.
Em 2020, o Open House Lisboa convida a sair de casa e não inclui qualquer visita a espaços.
Partilhe a sua experiência no instagram #openhouselisboa2020
Existem neste momento áreas de enorme incerteza que condicionarão a forma como olhamos para a presente crise. No entanto, há uma ameaça que surge clara desde já: a pressa, o imediatismo e a ausência de reflexão dos agentes políticos que terão a tentação em repor a ‘normalidade’ pré-crise, e o retorno ao business as usual, quando foi precisamente essa ‘normalidade’ que nos trouxe até aqui.
Precisamos de visões de futuro, apoiadas em valores, e de políticos corajosos que as saibam implementar.
A aceitação da pobreza, da desigualdade e da injustiça como inevitáveis, impede uma verdadeira transformação e limita o potencial de crescimento social e humano de que Portugal e a Europa precisam. O apelo e incentivo ao consumo, como narrativa para a superação imediata da crise económica, esquecendo todos os impactos ambientais decorrentes, é um erro que nos sairá muito caro a curto prazo. Precisamos de instituições fortes, valorização do conhecimento; de aproveitar a promessa da “Revolução Digital” para reduzir a pegada ecológica, desenvolvendo serviços e produtos de alto valor. Acima de tudo, precisamos de ancorar as políticas em ideais, na confiança, na ética e assumir um novo paradigma. Um paradigma em torno do qual os cidadãos e cidadãs portuguesas se possam unir para liderar esta transformação a nível mundial e construir uma sociedade ética.
Documento coletivo divulgado por Susana Peralta, Portugal, Setembro 2020, no Público, aqui
"Choose your leaders with wisdom and forethought.To be led by a coward is to be controlled by all that the coward fears.To be led by a fool is to be led by the opportunists who control the fool.To be led by a thief is to offer up your most precious treasures to be stolen.To be led by a liar is to ask to be told lies.To be led by a tyrant is to sell yourself and those you love into slavery."
Octavia Butler (June 22, 1947–February 24, 2006)
Declaração dos Direitos de Literacia dos Cidadãos Europeus, ELINET - Rede Europeia de Literacia, 2016
Todas as pessoas na Europa têm direito à literacia. Os Estados-Membros da UE devem assegurar que sejam facultados às pessoas de todas as idades, independentemente da sua classe social, religião, etnia, origem e género, os recursos e as oportunidades necessários para desenvolverem competências de literacia suficientes e sustentáveis por forma a compreenderem e utilizarem de modo eficaz a comunicação escrita, seja ela manual, impressa ou digital.
Texto integral da Declaração aqui
"Speaking at the Bloomberg Invest Global virtual conference, Nouriel Roubini predicted the recovery from the pandemic crisis will soon fizzle out and be more anemic than the one that followed the global financial meltdown more than a decade ago. Joseph Stiglitz said politicians must fight that by assuring citizens that public support programs will continue as long as needed.
The pandemic has spurred fears globally that social inequalities will deepen, dampening overall consumption as people put more money aside as they face uncertain future. U.S. savings rates have already soared to an unprecedented one-third of disposable income.
It has also sparked renewed debate over whether this is a moment to fix some of the pre-existing weaknesses of the modern political economy.Stiglitz said countries where there’s bigger trust in government have done better getting out of the pandemic. The U.S. should focus on a green transition, fix its infrastructure, health-care and school systems, and make sure and making sure everyone who “wants a job, has a job.”
Still, he said he’s “hopeful” that this crisis will provoke a changed attitude toward running the economy. "Stiglitz Urges Capitalism Rethink as Roubini Invokes Stagflation - Bloomberg
"A recuperação no próximo ano espera-se que apareça robusta, mas para já há aumento da pobreza, desemprego e perspetivas mais escuras. Leio que em Portugal 90% dos empregos destruídos pela resposta à covid foram empregos de mulheres. Das cerca de 50 mil pessoas que perderam o emprego entre fevereiro e abril, 44 mil foram mulheres. Em dois meses, o desemprego feminino aumentou 1,9%, face ao masculino, que aumentou 0,2%. Algo para que a OIT já havia alertado.
Esta catástrofe que cai em cima das mulheres junta-se às desigualdades já pré-existentes. É porque as mulheres geralmente têm vínculos laborais mais precários, ocupam posição mais baixa na hierarquia das empresas, ganham menos (logo as indemnizações são mais baratas) que são agora mais despedidas. A isto junta-se os empregos concentrarem-se nos serviços, no comércio e no turismo, setores mais afetados pelo confinamento. Este período de desemprego não é um mero capítulo na vida das mulheres. Tempos de paragem diminuem ordenados futuros e significam, décadas mais tarde, pensões mais baixas.
Com o emprego dos jovens, o mesmo: 38% dos empregos que desapareceram eram ocupados por jovens. Sendo que a geração dos adultos mais novos vai já na segunda crise económica em poucos anos.
Parecem-me factos mais graves e urgentes que uns gatafunhos desenhados em estátuas.Se as mulheres e os mais novos são desproporcionalmente afetados pela presente crise, é de elementar justiça que as políticas públicas se concentrem em compensar estes efeitos junto destes grupos. Mas já viu em algum lado esta discussão? Eu não vi."Maria João Marques, 2020
"Maffei refere-se ao cérebro em todos os seus elogios. No Elogio da Palavra: “A evolução demorou milénios a modificar o cérebro para dar a palavra ao homem. Este depois inventou a escrita para que as palavras tivessem significados permanentes e fossem próteses da memórias.” Embora reconhecendo o primado do social no humano chama a atenção dos perigos do “cérebro globalizado.” Como diria Magritte, “isso não é um cérebro”. A Internet está inundada de exibição em vez de informação, tagarelice em vez de debate, propaganda em vez de racionalidade: “O cérebro globalizado é entregue gratuitamente no domicílio através dos meios visuais e verbais, autênticos traficantes da mente, como o melhor dos cérebros possíveis, indispensável para o futuro, para o progresso e para o aumento do PIB”. O cérebro do autor – que é único - revolta-se contra esse “cérebro globalizado”, que recusa a lentidão e a palavra que o cérebro individual exigem.Para termos cérebros precisamos de escola. Maffei defende a “escola da palavra”. A sua posição está em linha com obras recentes da filósofa norte-americana Martha Nussbaum e do professor italiano de Literatura Nuccio Ordine, que ele cita. A primeira, em Sem Fins Lucrativos (Edições 70, 2019), defende que a democracia precisa das humanidades e o segundo, em A Utilidade do Inútil (Faktoria K, 2017), pugna pela necessidade do saber desinteressado. A escola deveria recuperar o poder da palavra, em vez de dar certificados a analfabetos funcionais. Maffei levanta a hipótese de que a actual incúria da escola tenha sido programada: “Súbditos mudos, não educados para a palavra e para o pensamento, são cidadãos funcionais para uma democracia de fachada.” Receio que ele tenha razão.(...)Se temos um cérebro, só nosso, é nossa obrigação usá-lo. Deveria ser óbvio, mas talvez valha a pena lembrar que não há liberdade se não houver pensamento, ou se apenas houver o pensamento único do “cérebro globalizado."
Carlos Fiolhais, numa bela recensão, aqui Lamberto Maffei. Elogio de Três Elogios (2020)
Eugène Grasset, 1845-1917, Three Women and Three Wolves, 1900 |
do início do século XVIII
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