sexta-feira, julho 10, 2020

Ser aluno das aves do céu

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Recebemos uma generosa oferta de livros para a Laredo e o seu projeto Livralhada, em que fazemos circular exemplares entre bibliotecas de todo o tipo e, assim, entre quem ama a partilha e a leitura. De um deles, partilho uma história que veio ao meu encontro.
SER ALUNO DAS AVES DO CÉU
Conta o P. Schaluck que nas montanhas frias da sua aldeia natal, as aves voam em geral aos bandos e em forma de V. E dizem os entendidos nesses segredos das aves, que voando dessa maneira, umas aproveitando o esforço das outras, todo o bando ganha mais 71 por cento de capacidade de voo do que se cada uma voasse sozinha por sua conta e risco.
E quando alguma ave sai dessa formatura e cede à tentação de voar por sua conta e risco, ao sentir a resistência do ar e a dificuldade em manter o ritmo do bando, logo volta à formatura para poder tirar vantagem da ave que vai à sua frente.
E se o chefe do bando se sente cansado, passa para trás e outro toma naturalmente o seu lugar na liderança do grupo, sem que dispute esse lugar mas também sem fugir a essa responsabilidade.
E diz ainda a parábola que em geral as aves que vão atrás grasnam para encorajar as que vão à frente e todas sentirem que o bando caminha unido.
E quando uma ave fica doente ou é ferida ou abatida por algum caçador indesejado, duas outras saem da formatura e acompanham aquela que está em dificuldade para a amparar e proteger. E ficam com ela até a ave ferida poder de novo voar ou então até que ela morra. Depois, as duas partem de novo e, ou recuperam o seu próprio bando ou se integram noutro que esteja ao seu alcance.
Estais a ver como ao contar a história destas aves eu estou a pensar na história das nossas comunidades.
A melhor maneira de caminhar das pessoas que têm o mesmo voo e caminham para as mesmas distências é juntar-se às outras e com elas repartir o custo da caminhada. O milagre da multiplicação das forças repete-se todos os dias numa comunidade que acerta o passo, tendo em conta as forças de cada um. É natural que os que vão à frente se cansem mais depressa, mas lá estão os que vêm atrás para os substituir. É um ciclo que devia ser normal numa comunidade onde a liderança não é um privilégio de classe nem um carisma de carreira.
O grasnar das aves da retaguarda fala-nos do espírito de entreajuda, da colaboração de todos, da convergência na caminhada.
E se alguém adoece ou por qualquer motivo não pode acompanhar o ritmo do conjunto, não é abandonado à sua sorte ou à sua crise. Há sempre alguém que em nome da comunidade fica ao seu lado para o encorajar e amparar. Uma comunidade não rejeita aqueles que se cansaram do voo, mas antes procura ajudá-los a recuperar a alegria de voar.
NEIVA, P. Adélio Torres (2017). Parábolas, ed. do autor, p. 241/242

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