sexta-feira, dezembro 07, 2018

12 gráficos para tomar as medidas às desigualdades - França, 2018



Por detrás das desigualdades de rendimentos estão outras desigualdades igualmente decisivas para o sentimento de não se terem as mesmas oportunidades, e nomeadamente a capacidade de mobilizar um capital escolar, cultural, ou social para sair dessa situação. " A cólera dos coletes amarelos (...) inscreve-se numa evolução ao mesmo tempo económica (a perda ou a estagnação do poder de compra), social (o cruzamento das desigualdades, as dificuldades de habitação, do acesso à universidade, o desaparecimento dos serviços públicos de proximidade...), territorial (a desvalorização real ou como tal sentida pelos habitantes das periferias, dos peri-urbanos e dos rurais) e política." resume Laurent Mucchielli, sociólogo e investigador do CNRS, 
12 extraordinários gráficos, interativos, enriquecem esta publicação (em francês)

12 graphiques pour prendre la mesure des inégalités

sábado, dezembro 01, 2018

“Todos nós seremos obsoletos”

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Temos de estimular compromissos pessoais com a aprendizagem, com o conhecimento e com a abertura à inovação e à diversidade. Temos de compreender que se insistirmos em modelos educativos avessos ao erro e estritamente expositivos, com pouco feedback, onde se espera que o aluno acumule e reproduza informação, sentado e calado, estaremos a educar para a dependência, a passividade e a conformidade – características que limitarão muito a realização do seu potencial.

Que competências identifica como críticas neste novo paradigma?
Existem diferentes modelos teóricos que organizam as competências sociais e emocionais em taxonomias. O mais consensual, “The Big Five”, organiza-as em cinco domínios: 1) A abertura à experiência; 2) Consciência; 3) Amabilidade; 4) Extroversão e 5) Estabilidade Emocional. Todas são muito importantes. Nas Academias Gulbenkian Conhecimento selecionámos três grandes áreas de resultado – Agência, Compromisso e Colaboração – que se desdobram em sete competências: Adaptabilidade, Autorregulação; Comunicação; Pensamento Criativo; Pensamento Crítico, Resiliência e Resolução de Problemas.




“Todos nós seremos obsoletos”

sexta-feira, novembro 30, 2018

ANTES ISSO

Livro Poemas


COMPLICAÇÃO


As ondas indo, as ondas vindo — as ondas indo e vindo sem
parar um momento. 
As horas atrás das horas, por mais iguais sempre outras. 
E ter de subir a encosta para a poder descer. 
E ter de vencer o vento. 
E ter de lutar.
Um obstáculo para cada novo passo depois de cada passo. 
As complicações, os atritos para as coisas mais simples. 
E o fim sempre longe, mais longe, eternamente longe.
Ah mas antes isso!
Ainda bem que o mar não cessa de ir e vir constantemente. 
Ainda bem que tudo é infinitamente difícil. 
Ainda bem que temos de escalar montanhas e que elas vão
sendo cada vez mais altas. Ainda bem que o vento nos oferece resistência 
e o fim é infinito.
Ainda bem. 
Antes isso.
50 000 vezes isso à igualdade fútil da planície.





Mário Dionísio


[Livro Poemas - Mário Dionísio] Centro Mário Dionísio

Libros en la bolsa: el último tipo de clubes de lectura

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Clubes de lectura en una bolsa es un nuevo tipo de club de lectura entre personas que pueden ser un grupo de amigos o una asociación, la biblioteca proporciona un kits de libros en una bolsa con suficientes copias del título seleccionado para cada uno de los miembros y una guía para el grupo de lectura con preguntas para iniciar la sesión de lectura en grupo. El periodo de préstamo suele ser de unas 6 u 8 semanas, y cada bolsa contiene una media de entre 6 y 12 libros. La mayoría de las bibliotecas ofrecen más de 100 títulos para elegir, incluyendo ficción, no ficción, clásicos y best sellers.
Esta nueva forma de clubes de lectura es ideal para grupos de amigos. La biblioteca ofrece diferentes bolsas con distintos títulos que se pueden reservar con antelación, lo ideal es planificar las lectura que el grupo va a hacer a lo largo del año y que el miembro encargado de coordinarlo planifique y reserve las lectura  que va a hacer con tiempo suficiente para que cuando vaya a devolver una de las bolsas, pueda tener a disposición la siguiente.
Libros en la bolsa: el último tipo de clubes de lectura

domingo, novembro 18, 2018

Paulo Nozolino - lutar contra a desmemória

 Paulo Nozolino durante a inauguração de uma das suas últimas exposições em Lisboa, em 2011

ANA BAIÃO
A fotografia é agora um lugar comum, uma prática chinesamente democrática graças ao telemóvel. A voracidade de fazer imagens e de as disseminar criou um novo problema. A mediocridade e a banalização de tudo o que nos rodeia. Niepce ficaria estupefacto, se fosse vivo. O que demorou quase dois séculos a ser consolidado, foi destruído em apenas dez anos", disse referindo-se ao Instagram e às redes sociais sem nunca as citar.
Das suas palavras ficam ainda dois sinais de esperança: no livro ("o único meio de preservar a memória") e na promessa de continuar a trabalhar ("a fotografia é a minha maneira de lutar contra a desmemória, a minha maneira de estar vivo e a única coisa que tenho para dar"). O livro em causa é também isso mesmo: um repositório das viagens e das memórias de um fotógrafo. 


Paulo Nozolino: “Entre vós estão cínicos, invejosos e inimigos. Se tivessem coragem sairiam neste momento da sala”

quinta-feira, novembro 15, 2018

NeoRealismo: The New Image in Italy, 1932–1960

Piergiorgio Branzi Piazza Grande in Burano Venice, 1957 © Piergiorgio Branzi


NeoRealismo: The New Image in Italy, 1932–1960

Aprenderemos alguma coisa com os índios?

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Imagem daqui
Para mostrar que nem tudo se aplica em todo o lado, sem olhar às características particulares de cada povo ou de cada cultura, recordou uma carta antiga, enviada por chefes índios aos governantes de dois estados norte-americanos, Virgínia e Maryland, na sequência de um tratado de paz. Os índios tinham enviado alguns dos seus “bravos” para estudar com os “caras-pálidas” (para usar a linguagem do faroeste, disse Zau), estes regressaram às tribos e depois a proposta renovou-se: queriam eles enviar mais alunos? A resposta, já reproduzida muitas vezes em livros e na internet, por ter sido à data divulgada por Benjamim Franklin (1706-1790), diz o seguinte: “Estamos convencidos (...) que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa. (...) Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens.” Não interessa aqui o discurso do bom selvagem nem o da inutilidade da educação ou do progresso, ambos falsos. Interessa, sim, a noção de desajuste. Porque mesmo a mais avançada das tecnologias deve, ao ser aplicada, ter em conta a comunidade a que se destina. Porque é inegável a importância da diversidade.
Nuno Pacheco, Público, 2018 


Aprenderemos alguma coisa com os índios?

quinta-feira, novembro 08, 2018

RiseUP Portugal: O Neoliberalismo é um Fascismo

 A performer in Garth Knight’s “living sculpture” Submission.
A performer in Garth Knight’s “living sculpture” Submission. Photograph: Jodie Barker

A salvação por aliança
Este contexto ameaça, sem alguma duvida, os fundadores das nossas democracias, mas por isso mesmo condena ao desespero e desencorajamento? Certamente que não. Há 500 anos, no auge das derrotas que fizeram cair a maior parte dos estados italianos, impondo-lhes uma ocupação estrangeira de mais de três séculos, Nicolas Maquievel exortava os homens virtuosos a enfrentar o destino e, face à adversidade dos tempos, preferir a acção e a audácia do que a prudência. Por mais que a situação seja trágica, mais ela pede acção e recusa "o abandono".(O Príncepe,capitulos XXV XXVI).
 

Essa lição impõe-se de forma evidente à nossa época, na qual tudo parece comprometido. A determinação dos cidadãos profundamente ligados aos valores democráticos constitui um inestimável recurso que, pelo menos na Bélgica, ainda não revelou o seu potencial de mobilização e o poder de modificar o que é inelutável. 
Graças às redes sociais e à liberdade de expressão que estas facilitam, cada um pode agora se manifestar particularmente no seio dos serviços públicos, nas universidades, no mundo estudantil, na magistratura e nos tribunais para levar o bem comum e a  justiça ao seio do debate público e ao seio da administração do Estado e dascomunidades. 
O neoliberalismo é um fascismo. Deve ser combatido e um humanismo total deve ser restabelecido.

RiseUP Portugal: O Neoliberalismo é um Fascismo: Este é um excelente texto escrito por Manuela Cadelli, Presidente da Associação Sindical dos Magistrados Belgas, publicado no site belga ...

quarta-feira, outubro 31, 2018

Projeto educativo criado pela Universidade do Minho vence primeiro Prémio Ler+


A plataforma Ainda Estou a Aprender é um recurso didático e interativo para ajudar as crianças do 1.º ciclo a ler melhor, em desenvolvimento desde 2014, num projeto que envolve 18 investigadoras, coordenado pela Professora Doutora Iolanda Ribeiro, da Universidade do Minho.

São objectivos da Plataforma:
  • uma revisão das questões e problemáticas em torno da avaliação e da intervenção nas DAL (Dificuldades de Aprendizagem da Leitura);
  •  materiais e atividades de avaliação que permitam a caraterização do padrão de aquisições e de dificuldades dos alunos na leitura;
  • materiais e atividades de intervenção que permitam responder às dificuldades de leitura apresentados pelos alunos.
  • paralelamente, espera-se facilitar o acesso dos agentes da ação educativa aos resultados da investigação em dificuldades de aprendizagem na leitura, contribuindo para a formação e ação informadas de professores neste âmbito específico.




https://www.aindaestouaprender.com/





Fonte da informação:

Projeto educativo criado pela Universidade do Minho vence primeiro Prémio Ler+, 2018



Blogue RBE, 2016


domingo, outubro 28, 2018

Bolsonaro, anti-sistema - só contaram para você...

 
"Em 1988, Bolsonaro declarava ter bens avaliados em pouco mais de 10 mil reais em valor atual. Desde essa data até hoje, o deputado declarou apenas o salário de parlamentar e o que recebe do Exército como capitão na reserva. No entanto, nesse mesmo espaço de tempo, o seu património e o da sua família multiplicaram-se exponencialmente.Conseguiu construir essa imagem por nunca ter exercido nenhum cargo de governo e nunca se ter candidatado à Presidência. O seu discurso radical de direita fala para os que estão contra “tudo o que está aí”, frustrados com anos de governos do PT e de polarização PT-PSDB.
Mas o capitão é o mais sistémico que se possa imaginar. Está na política há 30 anos, foi deputado por diversos partidos, na maior parte do tempo filiado ao PP, um dos centros de corrupção do país.
Acumulou fortuna nesses 30 anos em que viveu do erário público. O seu atual partido, o PSL, foi o que mais votou a favor das iniciativas do governo Temer(link is external), mais ainda do que o próprio MDB. Na verdade, dizer que Bolsonaro é antissistema é a maior de todas as fakenews"




Perguntas e respostas sobre Jair Bolsonaro

Os livros na corda bamba da democracia brasileira | PublishNews



 
"O grande editor Jason Epstein, no seu O negócio do livro, nos recorda que “publicar livros não é um negócio convencional”. E certamente cabe a esse negócio, como já demonstraram os grandes autores, editores e livreiros do Brasil e de muitos países do mundo, que resistir ao pensamento único e à restrição das liberdades democráticas é uma das nossas tarefas mais sublimes e impositivas."
J. Castilho, 2018 


Os livros na corda bamba da democracia brasileira | PublishNews

segunda-feira, outubro 22, 2018

REDES DE CONHECIMENTO - Olhares - Ana Luisa Amaral

Um privilégio, e uma descoberta ainda maior. Obrigada, Ana Luísa Amaral, Cristina Taquelim, Luís Carmelo, Mafalda Milhões, Miguel Horta, São Correia, Luis Barbieri e Memoriamedia. Obrigada Andarilhas 2018.

REDES DE CONHECIMENTO - Maria José Barriga e Alexis Pimienta


Destaco aqui o video da conversa na Mouraria "Redes de Conhecimento", com Alexis Pimienta, repentista, Maria José Barriga, investigadora, que desmontam o conceito do "inatismo", de que não se pode aprender a improvisar... A começar pelo que se aprende por imitação.


Mas as Palavras Andarilhas 2018 já conta em emória 11 videos Youtube.
Ora espreitem lá, escutem, aproveitem. Vencemos a barreira do calendário, e de repente estamos em Beja, e em Agosto, andarilhos e andarilhas
A aprender, uns com os outros.

A vida é tão rara!


Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...


terça-feira, outubro 16, 2018

Paulo Freixinho, leitor





Partilhar o que se leu, e contar a história de como nos fazemos leitores, em voz calma e pausada, usando o meio Youtube para sugerir leituras... porque gostamos.

Paulo Freixinho, cruciverbalista, escreve palavras cruzadas que trazem prazer e sorrisos a muita gente, que gosta de magicar nestas coisas da fala e da escrita. Desta vez, saltou do jornal para o écran, e generosamente nos alerta para vários autores, dezenas de livros, sempre com aquele jeito simpático de quem gosta de viver e conviver.

Os livros?

Vejam o video (16 minutos), que até tem uma bibliografia (capas) nos últimos minutos, 150 títulos bem escolhidos e lidos.


quarta-feira, setembro 26, 2018

Mundo Cão - As mulheres que muito amamos sem regresso nem lamento



Dia 6, pelas 22h00, no FOLIO  http://obidosvilaliteraria.com/folio-festival-literario-internacional-de-obidos/

Ele não, ele nunca,ele jamais



 
Marcia Tiburi, 2018
"O fascista apresenta compulsão à submissão e, ao mesmo tempo, à dominação. É um submisso, que demonstra dependência com poderes ou instituições externas, mas que, ao mesmo tempo, quer dominar terceiros e eliminar os diferentes. É, portanto, um masoquista e um sádico, que não hesita em transformar o outro em mero objeto e goza ao vê-lo sofrer."

segunda-feira, setembro 17, 2018

Dedo na Ferida - Documentário de Silvio Tendler (Parte 5/5)

″Impor o celibato a um monge ou sacerdote é absurdo″





A sexualidade imposta aos clérigos é artificial, porque é imposta pura e simplesmente como um dever. Se formos ver bem, o próprio clero já nem considera o celibato como um ato de purificação. Portanto, a sexualidade faz parte do ser humano, se é reprimida pelo celibato, proibida, sublimada, irá ressaltar por qualquer outro lado
(...)

Enquanto no passado as igrejas poderiam ser as únicas instituições de solidariedade, de defesa dos pobres e de bem-estar dos indivíduos, etc., agora a própria sociedade desempenha esse papel e reclama-se detentora desses valores. A sociedade já não precisa de uma instituição universal para impor valores de segurança, de solidariedade e de amor, ela própria tem esses valores devido à evolução da mentalidade social e universal. Se as igrejas não percebem isto, se não se adaptarem aos novos valores da sociedade, valores de solidariedade social, em que há os pobres, o amor, o bem-estar dos indivíduos, correm o risco de ficar para trás. Se elas se fixarem nestes valores poderão conseguir mais adeptos, se se fixarem na moral antiga e nos dogmatismos antigos irão perder as suas audiências.


Isso significa que a sociedade de hoje construiu seres que não necessitam tanto de espiritualidade?

Construiu seres que já não precisam que alguém lhes imponha uma espiritualidade

″Impor o celibato a um monge ou sacerdote é absurdo″

sexta-feira, setembro 14, 2018

E por vezes

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E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos.
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos.

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.

David Mourão- Ferreira

segunda-feira, setembro 10, 2018

Bibliotecas, porquê? Porque o mundo não tem de ser sempre assim...

Page six of Neil Gaiman and Chris Riddell’s book Art Matters. ART MATTERS by Neil Gaiman, illustrated by Chris Riddell is published by Headline on 6th September



E muitas outras imagens inspiradoras
Neil Gaiman and Chris Riddell on why we need libraries – an essay in pictures

David Bowie - Starman







There's a starman waiting in the sky
He'd like to come and meet us
But he thinks he'd blow our minds
There's a starman waiting in the sky
He's told us not to blow it
Cause he knows it's all worthwhile
He told me:
Let the children lose it
Let the children use it
Let all the children boogie

sexta-feira, setembro 07, 2018

Imaginar para enxergar melhor

Em seus ensaios o senhor adiantou muitos dos problemas da sociedade atual: a fragmentação das experiências, os perigos da flexibilidade que iria melhorar nossa vida e acabou levando o trabalho a cada minuto e local de nossa vida privada... Simplesmente vejo o que acontece. Muitas vezes as pessoas enxergam mais com a imaginação do que com os olhos.



Entrevista | Richard Sennett: “O gratuito significa sempre uma forma de dominação”

Imaginar para enxergar melhor

Em seus ensaios o senhor adiantou muitos dos problemas da sociedade atual: a fragmentação das experiências, os perigos da flexibilidade que iria melhorar nossa vida e acabou levando o trabalho a cada minuto e local de nossa vida privada... Simplesmente vejo o que acontece. Muitas vezes as pessoas enxergam mais com a imaginação do que com os olhos.



Entrevista | Richard Sennett: “O gratuito significa sempre uma forma de dominação”

terça-feira, setembro 04, 2018

Direito à Vida Por Inteiro - Artes, Cultura

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“A gente não quer só comida”: o direito à arte e a uma vida por inteiro*

PEDRO RODRIGUES·TERÇA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2018
O primeiro semestre de 2018 foi relativamente agitado no que diz respeito ao financiamento público da criação e da programação artísticas em Portugal. Quase tudo foi dito e escrito sobre o que se passou e eu arrisco apenas fazer aqui um brevíssimo resumo:
- manteve-se o sub-financiamento da actividade artística por parte do Estado;
- houve um ligeiro alargamento da consciência dessa realidade por parte da população;
- houve mobilização entre os profissionais do sector e houve mobilização popular;
- houve um inaceitável comportamento por parte do Governo (Primeiro-Ministro incluído) na gestão de todo o processo de revisão do Modelo de Apoio Público às Artes;
- houve posições claras e fortes por parte do Bloco e do PCP;
- houve ligeiríssimas conquistas, que não resolveram nenhum dos problemas que subsistem nesta matéria nem permitem satisfazer as necessidades do país.
- em suma, repetindo o grito a que milhares de pessoas quiseram dar voz em várias cidades do país a 6 de Abril, “isto não acaba aqui”. Isto não pode acabar aqui, nem assim.

Creio que importa, à entrada de um novo ano político e quando se prepara o último Orçamento do Estado feito por um Governo que temos ajudado a viabilizar, reflectir sobre o que continua a estar em causa em matéria de política pública para as artes, parte importante do universo mais vasto a que se convencionou chamar “Cultura”.
Entendo que, para além da escassez das condições materiais para o exercício da actividade cultural de serviço público que subsistem em Portugal – consequência directa do investimento público que sucessivos governos têm decidido não fazer – o problema mais sério (porque estrutural, duradouro e a agravar-se) é o facto de continuar a ser ambíguo o lugar que a Cultura (e em particular a Arte) deve ocupar na vida da comunidade e, em consequência, no conjunto das políticas públicas. É na prática ambíguo (ou irregular, se preferirem) o lugar em que colocamos a Cultura entre os direitos sociais pelos quais lutamos diariamente – mesmo à Esquerda, mesmo, às vezes, no Bloco de Esquerda.
Por trás de um aparente (mas cínico e muitíssimo frágil) consenso sobre a importância da Cultura, subsiste no debate político, partidário e mediático uma confrangedora falta de discussão sobre as bases em que se funda este direito. Reflectir sobre elas, discutindo e divergindo onde tivermos de divergir (em particular com quem está à nossa Direita), parece-me essencial para que possamos finalmente construir algo de verdadeiramente transformador.

Concentremo-nos nas artes, campo da Cultura a vários níveis exemplar do que se passa com outras áreas relativas à produção e partilha de conhecimentos. Porque é tão importante para a democracia a disseminação do acesso às artes, quer ao nível da criação quer da fruição? Porque é tão importante que esta fruição da cultura, estabelecida como direito universal na Constituição que ainda nos rege, implique uma atitude activa, crítica, reflexiva por parte das cidadãs e dos cidadãos, contra o rolo compressor e homogeneizador que nos procura transformar em meros consumidores de formas, modelos e conteúdos impostos pelo mercado e pelos seus poderes?
A dificuldade em respondermos de forma simples, clara, directa e facilmente compreensível pela generalidade da população inibe-nos com frequência de respondermos aos ataques do liberalismo com a mesma firmeza com que respondemos noutras áreas, igualmente sob ataque cerrado e contínuo, como bem sabemos. Pior, tem-nos inibido, à esquerda, de aprofundarmos a reflexão e a construção da proposta transformadora, em consonância com a sociedade que queremos, com o país queremos. Demasiadas vezes também nós nos ficamos – nos discursos e na prática política – pela mera superfície da questão, sem que nos consigamos libertar das regras do jogo que nos são impostas, contrárias ao interesse público.

É realmente uma luta difícil. Sob um certo ponto de vista, mais difícil do que na Saúde, na Protecção Social, na Educação. Num país como Portugal, em que apesar de tudo subsistem traços de social-democracia:
- é consensual que quem está doente deve ter acesso a cuidados médicos;
- é consensual que devem ser garantidos tecto e comida a quem não tem meios de subsistência;
- é consensual que toda a gente tem o direito (e a obrigação) de aprender a ler e a fazer contas (até o mercado precisa disso).
Apesar dos ataques que afectam estas áreas essenciais da nossa vida colectiva e das limitações com que nos confrontamos a toda a hora e que a toda a hora denunciamos e combatemos, nestes campos ainda fazemos a luta, por paradoxal que possa parecer, numa situação de vantagem. A vantagem de que toda a gente sabe que temos razão, contra a qual se opõem apenas o estafado argumento da falta de meios ou a vontade de dar dinheiro a ganhar a privados na prestação destes serviços públicos. A vantagem de estarmos a falar de direitos sociais que felizmente conseguimos (também é mérito nosso, da esquerda que por eles lutou) que a generalidade da população sentisse como seus, depois do 25 de Abril. 
Na Cultura não é assim. Será por isso – adianto como primeira hipótese – que tem sido tão fácil cortar no financiamento público às artes aos primeiros sinais de austeridade e manter a parcela do Orçamento do Estado dedicada à cultura em níveis tão baixos, tanto em termos absolutos como relativos; será por isso que é tão difícil aprofundar a discussão – do outro lado temos quem precisamente não quer que as pessoas sintam que têm este direito e esta necessidade, que não lutem por ele; será por isso que os poderes (políticos e mediáticos) tantas vezes tratam os profissionais das artes ora como figuras decorativas, ora como pedintes, ora como crianças que não entendem as dificuldades de quem governa; será por isso que mesmo os nossos programas (apesar de se diferenciarem de forma muito significativa dos que são feitos à nossa direita) não têm sido capazes de assumir em pleno o potencial transformador e emancipatório de uma sociedade em que o direito à arte está realmente a par dos restantes direitos sociais.
É por isto que nesta área a luta é tão exigente e os trabalhos redobrados. Ao mesmo tempo que lutamos pela prestação de níveis mínimos de serviço público, estamos ainda – 44 anos depois de Abril – a lutar pelo reconhecimento de um direito.
O contacto regular com diferentes formas de expressão artística – literatura, cinema, música, dança, teatro, artes visuais, entre outras – enriquece a nossa capacidade de ler o mundo e de imaginar e construir alternativas; reforça os instrumentos de que dispomos para atribuir valor e sentido aos espaços e aos contextos sociais em que vivemos; estimula o pensamento crítico e a curiosidade; aumenta a capacidade (e a vontade) de comunicarmos com o outro e com a diferença; assume-se como campo propício à realização dos indivíduos, desafiados a identificarem, exercitarem, desenvolverem e partilharem as suas capacidades intelectuais; é fonte e veículo de conhecimentos plurais; auto-reproduz-se, propaga-se com facilidade em terrenos férteis ou minimamente preparados e raramente seca depois de enraizado; é, frequentemente, causa de felicidade para quem cria e para quem acede ao resultado.

É aqui – e não em eventuais retornos financeiros, contributos para o PIB, promoções dos territórios ou sequer na integração social de minorias mais ou menos desfavorecidas – que reside o papel essencial da Arte (e da cultura, em geral). É aqui que reside o potencial transformador e emancipatório das artes e o contributo imprescindível para o aprofundamento da democracia e da participação das cidadãs e dos cidadãos na vida colectiva.
É aqui, portanto, que reside o interesse público da Arte e a necessidade de o Estado assegurar a prestação de um serviço público nesta área, seja directamente através das suas instituições (bibliotecas, museus, monumentos, teatros nacionais, estruturas públicas de criação artística, equipamentos culturais nacionais e municipais, entre outros), seja através da contratualização com estruturas e indivíduos da sociedade civil (que faz particular sentido no caso das artes, dada a heterogeneidade e a pluralidade de vozes e expressões que é necessário assegurar).
É por isto (e não porque os artistas precisam de viver ou porque supostamente têm capacidade de fazer muito barulho) que um Orçamento do Estado em que a cultura representa pouco mais de 0,1% é uma vergonha e nos afasta da sociedade que desejamos, pela qual temos lutado e pela qual nos propomos continuar a lutar.
Ter, como eu tenho e vós certamente também, a consciência de que nada disto é novo é muito frustrante. Mas acredito que reavivar esta consciência, desde logo entre nós, é um pressuposto indispensável para que nos mantenhamos mobilizados e combativos.
Até porque a ofensiva liberal sobre um direito cujo reconhecimento universal nunca atingimos produziu riscos novos, a que é preciso estar atento.

Gostaria de chamar a atenção para três desses riscos, que proponho que debatamos já de seguida:
1. a retórica vazia
António Costa prometeu para 2019 o “maior orçamento da cultura de sempre”. Conhecemos a contradição entre o que prometia o programa do actual Governo e o que foi feito nestes três anos, sem nenhuma mudança significativa na forma de enquadrar e articular a cultura no conjunto das políticas públicas. Lembramo-nos dos títulos de jornais e da forma paternalista e ofensiva como o Primeiro-Ministro se dirigiu ao país, numa triste “carta aberta”, tentando esvaziar a contestação popular. Percebemos que os mecanismos de mercado (incluindo a sua tendência para a massificação e a homogeneização de conteúdos) funcionam em força nos meios de comunicação e que na esmagadora maioria das vezes isso não só não é coincidente com o interesse público como se opõe a ele, em nome de interesses e lucros particulares.
Não se trata já apenas de desconfiar das palavras bonitas que em momentos de crise responsáveis institucionais vêm publicamente dizer para acalmar os ânimos. Trata-se de assumir que quem governou o país nos últimos quarenta anos não quis colocar a cultura no centro do desenvolvimento do país e que continua a caber à esquerda lutar por isso.
2. o nevoeiro orçamental
Faço parte do Manifesto em Defesa da Cultura e defendo que o mínimo aceitável para o orçamento da cultura é 1% do Orçamento Geral do Estado. Trata-se de uma marca simbólica, que trabalha em duas frentes: ajuda a evidenciar que a realidade que temos tido se mantém muito abaixo deste mínimo; lembra que qualquer política pública digna desse nome implica, para ser levada a sério, uma dotação orçamental que não nos envergonhe e nos tome por estúpidos.
Nenhuma das pessoas que defende este mínimo orçamental ignora, contudo, que a radical alteração de que o país precisa na forma de encarar a cultura está longe de se esgotar na questão orçamental. O aumento do orçamento é essencial para essa transformação mas há muito mais a fazer na construção de uma política cultural que vise realmente a democratização do acesso à arte. Entre vários outros aspectos, destaco a necessidade de articulação com a Educação e com outras formas de produção e transmissão de conhecimentos; a atenção à descentralização e à correcção de assimetrias; a coerência e a sustentabilidade das medidas adoptadas (com repercussões directas, por exemplo, nos mecanismos de financiamento público criados pelo Estado); a valorização e a divulgação das actividades artísticas, entendidas em sentido lato (que vai desde os meios de divulgação propriamente ditos até à forma como responsáveis políticos publicamente se referem aos agentes culturais e ao trabalho que realizam).
Tenho as maiores dúvidas de que seja verdade que o orçamento do Estado para a cultura em 2019 venha a ser o maior de sempre. Se não for verdade, é mentira o que António Costa anda a dizer há dois meses e que ainda agora reafirmou, na rentrée do PS. Mas já nem é isso o mais importante. O importante é sabermos que, mesmo que em ano de eleições e no fim do mandato venha a haver algum aumento visível, ele não só vem tarde como vale de pouco se não for acompanhado de outras políticas.
3. a instrumentalização e o condicionamento
Da “cultura-flor-na-lapela” aos “artistas do regime”, a cultura é há muito alvo de diferentes tentativas de instrumentalização e a todas tem, apesar de tudo, resistido.
Nos últimos anos, contudo, duas ameaças sérias têm vindo a esconder ou a subverter ainda mais os fundamentos do interesse público das actividades artísticas. A primeira é a do turismo ou – na novilíngua dos financiamentos comunitários – a da “promoção do território”. Com a escassez de fundos específicos para a actividade cultural e atendendo ao que parece ser o novo-velho desígnio salvífico do país, cada vez mais artistas e projectos artísticos são atirados para as oportunidades de financiamento que vão abrindo para servir o turismo. Teoriza-se, até, sobre o papel importante que a cultura pode ter na promoção dos territórios, das cidades, do interior, do país. Tem-no, de facto, mas apenas enquanto não for especificamente criada para isso. A partir do momento em que o é, particularmente quando falamos de expressões artísticas, perde a sua marca de originalidade, a sua capacidade diferenciadora, desafiante e geradora de perplexidades, para se transformar num instrumento de propaganda ou num produto de entretenimento. Mais ou menos criativo, com maior ou menor qualidade, mas afastado do contributo essencial que é suposto oferecer-nos.
A segunda ameaça é construída a partir de uma ideia cuja validade me parece inquestionável: a de que a cultura e o contacto regular com as diferentes expressões artísticas contribuem para promover a inclusão social. O problema é que na maior parte das medidas que têm sido postas em prática (materializadas em concursos e programas de financiamento europeus, nacionais ou municipais) se entende essa qualidade como um fim em si mesmo das actividades artísticas. Chega-se ao ponto de, em concursos públicos de apoio à criação artística, promovidos pelo Ministério da Cultura, privilegiar os que abordem determinados temas ou se dirijam a determinados segmentos da população, condicionando à partida a liberdade de criação dos artistas nacionais. Talvez estejamos a conseguir ajudar a resolver alguns problemas sociais através de práticas artísticas, mas enquanto isto for feito à custa do que devia ser o eixo central de uma política pública para a cultura e para as artes, estamos sobretudo a empobrecer a oferta à disposição da população e a limitar ainda mais a efectiva democratização do direito à arte.
O painel em que estamos cita no título um verso de Arnaldo Antunes, ainda do tempo dos Titãs: “a gente não quer só comida / a gente quer comida, diversão e arte”.
Continua a ser preciso reivindicar o direito a uma vida por inteiro, recusando as metades (cada vez mais pequenas) que nos querem conceder.
Creio que é essa a luta que é preciso continuar a fazer.
* Comunicação apresentada no painel “A gente não quer só comida: Porque incomoda tanto o direito à arte?”, no âmbito do Forum Socialismo 2018, org. Bloco de Esquerda, Leiria, 31 de Agosto a 2 de Setembro de 2018.

sábado, setembro 01, 2018

Ofélia Paiva Monteiro — «A Literatura é um elemento perturbador»

 
"Os alunos não estão habituados à expressão explícita por escrito. Os meus colegas queixam-se muito da falta de domínio dos alunos das estruturas escritas mas das orais também. Não sabem compor um texto com coerência, já não ponderando a questão ortográfica. Os alunos estão habituados à fragmentação da comunicação ultra-rápida e a precisarem daquele contacto constante que, afinal de contas, não conduz a uma troca de conteúdos. Parecem satisfazer-se com contactos muito lineares e superficiais. É um tempo esquisito, o nosso! "
Ofélia Paiva Monteiro em entrevista — «A Literatura é um elemento perturbador»

quinta-feira, agosto 30, 2018

Contatinas


- Porque contas histórias se ninguém te está a ouvir? 
- Sabes, a princípio eu contava histórias para mudar o mundo, agora, conto histórias para que o mundo não me mude a mim.

in O NarradorLuis Correia Carmelo, Contatinas.Ed. BOCA, aqui:http://www.boca.pt/contatinas.html

sábado, agosto 18, 2018

Saber ler

 
Apesar de acreditar que a leitura de obras de diversas proveniências cronológicas e geográficas é extremamente útil para a formação de qualquer pessoa e pode de facto contribuir para atenuar fossos, pondo o leitor em contacto com realidades muito diferentes das que habitualmente conhece, isso por si só não basta. É preciso também saber ler de forma despreconceituosa. Se o leitor procura um manual de etnografia que corrobore todas as suas ideias já feitas, é bem possível que esta obra corra o risco de não atenuar qualquer fosso, ou mesmo de desiludir o leitor. Se não for esse o caso, é bem possível que o leitor fique enormemente espantado pela riquíssima imaginação e surpreendentes fantasias nela patentes. Talvez assim ganhe mais consideração por quem a concebeu, e consequentemente pelos descendentes dos povos que a produziram. Afinal, é precisamente pelo seu imaginário maravilhoso que estes contos se tornaram tão conhecidos universalmente.
Hugo Maia, Tradutor 


″É um milagre que 'As mil e uma noites' tenham sobrevivido até hoje″

quinta-feira, agosto 16, 2018

Eros, Tanathos


"Falarei sucessivamente dessas três formas, a saber: o erotismo dos corpos, o erotismo dos corações e, finalmente, o erotismo sagrado. Falarei dessas três formas a fim de deixar bem claro que nelas o que está sempre em questão é substituir o isolamento do ser, a sua descontinuidade, por um sentimento de continuidade profunda".
O Erotismo
Georges Bataille
 erotismo-georges-bataille
imagem daqui

quarta-feira, agosto 15, 2018

Palavras Andarilhas - Agosto de 2018


Beja
Prosseguimos até domingo, em dias intensos, outra vez, de palavra em silêncio, de conversa em partilha. Histórias, e livros, ideias, e exercícios,Inscrição - BOL (gratuita), aqui


Começamos no dia 22, 4ª feira... antecipando o Festival de Narração, ao fim da tarde, Eu conto para que tu sonhes
Certificado das Oficinas (13, a decorrer na 6ª feira e no sábado), cada sessão 90 minutos.
Programa aqui

On the same page = Na mesma página

I'm on the same page.



Em 2018, as Nações Unidas celebram o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (10.12.1948) e a Feira de Frankfurt realiza sua 70ª edição. 
Por isso, as duas resolveram juntar-se e lançaram a campanha On The Same Page, que pede que a indústria internacional de livros e media se envolva ativamente na garantia do respeito aos direitos humanos. 
Como os direitos mínimos estão sendo desafiados em várias partes do mundo, a campanha surgiu para mobilizar livreiros e editores em todo o mundo e garantir que estão todos “na mesma página”. 
Para participar, os livreiros são convidados a montar exposições de livros selecionados, enquanto os editores podem organizar leituras e eventos dedicados ao tema dos direitos humanos. O apelo para aderir estende-se a autores, tradutores, ilustradores, poetas, blogger, humoristas... e todos os visitantes da Feira.
Disponibiliza-se um banner (ver imagem) em inglês e alemão.
A campanha nas redes sociais começa em Setembro e diversos eventos sobre o tema estão sendo preparados para a Feira de Frankfurt. 
Se quiserem aderir, basta registar-se com um email para samepage@book-fair.com.
Ler mais aqui
A história do documento em pouco mais de 6 minutos; falado em inglês, com legendas em inglês, e possibilidade de tradução automática das legendas para muitas línguas:

sexta-feira, agosto 10, 2018

TER TEMPO E PENSAR - CONTRA O INEVITÁVEL, BUSCAR O IMPREVISÍVEL

 
A solidariedade é a maior ameaça para o capitalismo financeiro. A solidariedade é o lado político da empatia, do prazer de estarmos juntos. E quando as pessoas gostam mais de estar juntas do que de competir entre si, isso significa que o capitalismo financeiro está condenado. Daí que a dimensão da empatia, da amizade, esteja a ser destruída pelo capitalismo financeiro. Mas atenção, não acredito numa vontade maléfica. O que me parece é que os processos tecnológico e econômico geraram, simultaneamente, o capitalismo financeiro e a aniquilação tecnológica digital da presença do outro. Nós desaparecemos do campo da comunicação porque quanto mais comunicamos menos presentes estamos – física, erótica e socialmente falando – na esfera da comunicação. No fundo, o capitalismo financeiro assenta no fim da amizade. Ora, a tecnologia digital é o substituto da amizade física, erótica e social através do Facebook, que representa a permanente virtualização da amizade. Agora diz-se que é preciso “consertar o Facebook”. O problema não está em “consertar” o Facebook, mas sim em ‘consertarmo-nos’ a nós. Precisamos de regressar a algo que o Facebook apagou.
O pensamento crítico pode ajudar a “consertarmo-nos”?
Não há pensamento crítico sem amizade. O pensamento crítico só é possível através de uma relação lenta com a ciência e com as palavras. O antropólogo britânico Jack Goody explica na sua obra “Domesticação do Pensamento Selvagem” que o pensamento crítico só é possível quando conseguimos ler um texto duas vezes e repensar o que lemos para podermos distinguir entre o bem e o mal, entre verdade e mentira. Quando o processo de comunicação se torna vertiginoso, assente em multicamadas e extremamente agressivo, deixamos de ter tempo material para pensarmos de uma forma emocional e racional. Ou seja, o pensamento crítico morreu! É algo que não existe nos dias de hoje, salvo em algumas áreas minoritárias, onde as pessoas podem dar-se ao luxo de ter tempo e de pensar. 
Franco Berardi 
'O pensamento crítico morreu', afirma o filósofo italiano Franco Berardi - Revista Prosa Verso e Arte



Entrevista completa, aqui (17.06.2018)

Palavras Andarilhas, Beja, 23 a 26 agosto 2018



Programa de truz!

Inscrições abertas!



Palavras Andarilhas

quinta-feira, agosto 02, 2018

Ler é um verbo activo




"Como a Literatura nos transforma", Alberto Manguel
"A literatura pode ser transformadora, mas não necessariamente. Uma pessoa pode ler a Divina Comédia e não sentir nada, entediar-se. Porque o livro que o leitor cria lendo-o é o produto da troca entre essas palavras que estão na página e a experiência íntima do leitor. (...)
A Comédia que eu leio responde a dúvidas secretas, desejos ocultos, paixões não confessadas que estão diante de mim. Então eu respondo à leitura da Comédia que me dá a possibilidade de transformação. Eu me sinto transformado depois da leitura de certos livros. Mas essa transformação ocorre porque, nos elementos que o texto me dá, eu encontrei a matéria para estimular a minha transformação. É um verbo activo o verbo "ler". É um verbo que preciso de um sujeito que quer transformar-se, que busca transformar-se."

segunda-feira, julho 23, 2018

“La lectura obligada para después hacerte un examen sobre el libro:ese tipo de prácticas es lo peor que se puede hacer” - El Diario de la Educación

 
Cristina Novoa, Rede de Bibliotecas Escolares Galega, 2018
Si algo tenemos que hacer los maestros es contribuir a que los chicos salgan del sistema con un dominio suficiente para saber expresarse de manera autónoma, tener sus propios pensamientos y ser capaces de codificar y entender los mensajes que les llegan teniendo una mínima idea, no solo del contenido que tienen, sino de dónde reciben esos mensajes (un periódico, una película, un libro) y qué intereses tienen detrás. Que nadie se sienta manipulado por no tener suficiente dominio del lenguaje oral o escrito. El fomento de la lectura y de la lectura literaria es imprescindible que sea con textos de calidad. Necesitamos textos que nos conformen como personas. Hacerlo con textos banales, que no dicen nada y solo repiten frases estereotipadas o conceptos cómodos para la sociedad o el sistema, tampoco sirve de mucho. Siempre propongo que mejor poquitos libros, bien elegidos y en actividades que sean significativas.
Mantener la curiosidad. Y cuando me refiero a textos también digo el audiovisual. Si una familia en vez de leer está viendo la tele, una serie, hay formas para conseguir una aproximación crítica a esa serie. Luego hay un momento en el que se abandona al crío porque ya sabe leer. Lo que funciona es que hay que seguir acompañando al adolescente en la lectura. No leerle por la noche, no lo va a aceptar, pero sí hablar de libros en casa, igual que se habla de fútbol o de una noticia local. Se puede hablar del último libro que se han leído o por qué han cogido tal libro de la biblioteca. Acudir a la biblioteca, sacarle el carné. Ir a una ciudad y hacer una visita a la biblioteca, ir a la Feria del Libro, que el libro y la lectura estén presenten en la vida familiar igual que otras cosas. Lo que estamos viendo es que los adolescentes necesitan seguir siendo acompañados en compartir experiencia lectora. Hay que hacerlos consumidores activos de lectura. En los regalos que siempre haya un libro y el niño vaya haciendo su biblioteca personal. Nunca obligar a la lectura es una máxima. Todas las actividades que incluyen el vínculo afectivo favorecen lo cultural. Lo que se vive como una obligación no funciona.


Vale mesmo a pena ler toda a entrevista. Fresquinha, fresquinha...

“La lectura obligada para después hacerte un examen sobre el libro: ese tipo de prácticas es lo peor que se puede hacer” - El Diario de la Educación

Qualidade



E quando o poema é bom 
não te aperta a mão: 
aperta-te a garganta


Ana Hatherly

quinta-feira, julho 19, 2018

Leituras obrigatórias

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A propósito de uma discussão efémera sobre a obrigatoriedade da leitura de Os Maias de Eça de Queirós no Ensino Secundário.

As histórias do que lemos e quando são sempre curiosas.

A primeira vez que li Os Maias foi há imensos anos, quase às escondidas. Na época, incentivada por uma frase de grande efeito:"esse não é para a tua idade" (13 anos), seguida de uma outra ainda melhor "isso não é próprio para meninas".. Não há nada como uma beatice para promover a leitura num adolescente... Já agora, não era mesmo para a minha idade, achei-o uma chatice, ao contrário de outros do Eça, como A cidade as serras, ou os Contos...

Depois, com 15 ou 16 anos, li-o com mais gosto, mas mesmo assim sem grande entusiasmo, e com ajuda de professora em sala de aula. O incesto era tabu, nesse tempo, mas por essa altura tive a sorte de a professora de Português e a de Grego falarem uma com a outra, e ambas connosco, e ambas estarem disponíveis para nos escutarem. E ambas terem lido o livro, e muitos outros livros.

Mas quando o entendi melhor foi quando tive de reler para o ensinar a alunos adultos, num curso noturno, tinha eu 18 anos, e todos eles muitos mais - ajudou imenso imaginarmos a história num filme, e claro que descobri que a idade interessa para apreciar o romance. As palavras saltaram do livro para a nossa voz, e foi um prazer que ainda recordo, grata. Mais tarde, o Botelho fez o filme. Ou fez um dos filmes possíveis. Não vi, acredito que será bom, pelo que me disseram.

Voltei ao livro algumas vezes, e de cada vez reagi de modo diferente. Uma das grandes vantagens dos livros é que alguns - os bons - não são como os iogurtes, e não têm prazo de validade... Como leitora livre, aluna da escola secundária e professora, fui sempre poupada aos resumos para efeitos escolares, até ter que apoiar estudantes em tarefas sujeitas a avaliação. Foi uma trabalheira conseguirmos chegar ao livro propriamente dito... mas os resumos ajudavam imenso a treinar as respostas para exames e testes. Aprendi assim que se pode escrever sobre um livro sem nunca o ter lido. Parecer que se leu - na verdade, lemos outra coisa, a versão do livro, uma imagem numa fotografia de alguém que nunca conhecemos.
O Eça, hoje, faria disto um romance, inventava uma casa de espelhos e traria para papel as dores e os amores da gente real. De tal modo o escreveria, que o leríamos, não por estar numa lista de obrigações, mas porque a vida nos obriga a procurar compreender, sentir e imaginar. Uma empresa diária, em que contamos com ajudas - por exemplo, dos bons livros, acessíveis no momento certo, é da nossa disponibilidade interior para nos encontrarmos com eles, e neles.

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito : « Quem alcançou o topo, passou a acreditar que o sucesso foi um feito seu, uma medida do seu ...