quinta-feira, novembro 15, 2018

Aprenderemos alguma coisa com os índios?

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Para mostrar que nem tudo se aplica em todo o lado, sem olhar às características particulares de cada povo ou de cada cultura, recordou uma carta antiga, enviada por chefes índios aos governantes de dois estados norte-americanos, Virgínia e Maryland, na sequência de um tratado de paz. Os índios tinham enviado alguns dos seus “bravos” para estudar com os “caras-pálidas” (para usar a linguagem do faroeste, disse Zau), estes regressaram às tribos e depois a proposta renovou-se: queriam eles enviar mais alunos? A resposta, já reproduzida muitas vezes em livros e na internet, por ter sido à data divulgada por Benjamim Franklin (1706-1790), diz o seguinte: “Estamos convencidos (...) que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa. (...) Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens.” Não interessa aqui o discurso do bom selvagem nem o da inutilidade da educação ou do progresso, ambos falsos. Interessa, sim, a noção de desajuste. Porque mesmo a mais avançada das tecnologias deve, ao ser aplicada, ter em conta a comunidade a que se destina. Porque é inegável a importância da diversidade.
Nuno Pacheco, Público, 2018 


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