"O ideal era termos um idioma em que as palavras não tivessem género, como a língua persa, falada no Irão, Tajiquistão e Afeganistão." Ricardo Araújo Pereira, 2018
[Reflexão: e nem por isso são países em que haja ausência de discriminação por género!
Crónica de Ricardo Araújo Pereira, 22.02.2018
Para rir e pensar, em todos os géneros, e com uma piscadela ao sotaque algarvio: todes!
Substituam "totobola" por "euromilhões" e está pronto a usar.
"Ainda bem que é verdade Ainda bem que é mentira A acupunctura em Odemira Ainda bem que há quem viva Em Odeceixe E se peide à vontade Na Rua Espinha de Peixe Eu bem sei a Cergal a Super Bock A volta ao mundo pelo Cabo de S. Roque Em Abril águas mil Ponto final Ainda bem que é para breve O festival Ainda bem que amanhã É a ciclorama E o campeonato do mundo no primeiro programa Ainda bem que apostei no totobola Todos os dias são santos, Dona Aurora"
José Afonso
Ouvi aqui https://youtu.be/YSESReqJp3k (album Enquanto há força)
«Vieram de longe, dos lugarejos lá para o âmago das florestas de pinheiros e carvalhais nos planaltos e caramulinhos de onde se avista o Caramulo e já o vulto da Estrela. Levantaram-se ainda com escuro, beberam a malga de café ou engoliram o caldo de cebola adubado com unto, algumas talvez só um naquito de broa. Lá vieram dentro dos xailes, batendo os tamancos cardados sobre os caminhos pegajosos, rechinantes do gelo e da geada. Aqui estão, os pés roxinhos, mãos encolhidas e vermelhas, nariz dormente, olhos lacrimejantes de tanto frio, sentadas nos degraus de granito, muito juntas umas às outras, à espera que se abra a grande porta da escola. Estou entre elas. Estou com elas.»
Sobre as colegas da escola primária de uma aldeia beirã que frequentou no final dos anos 20 e início dos anos 30 do século passado.
«Na década de 30, do século XX, o Estado Novo acabava de se implantar. A nível político vivia-se ainda, sobretudo nas cidades, o rescaldo das lutas dos últimos tempos da República, embora de uma forma muito interiorizada, pois, dada a existência de polícia política, era pouco prudente expressar certas opiniões. Portugal era um país pobre, com cerca de 50% da população vivendo da agricultura, com um índice de analfabetismo de mais de 75% para as mulheres e 70% para os homens, que assim se viam privados do direito de votar. A mortalidade infantil era grande. Sendo as famílias numerosas, era usual ouvir-se "tive seis filhos mas morreu-me um".
A experiência parlamentar deste acordo à Esquerda mostra que a política nacional precisa de renovar, ampliar e aprofundar acordos à Esquerda e que o bloco central já deu o que tinha a dar como mega modalidade da política neoliberal em Portugal. Na Europa, os partidos socialistas estão todos a partir-se à volta desse dilema, dos políticos que querem novos acordos à Esquerda e outros que ainda se agarram aos velhos blocos centrais, com as direitas. Veja o que se está a passar na Alemanha ou na Europa de Leste e até em Inglaterra, ou o caso do partido socialista francês ou do italiano. Ou seja, a social-democracia começou por se aliar aos neoliberais. O neoliberalismo não se teria conseguido impor na Europa se não fosse a ‘traição’ da social-democracia, que fez esse pacto generalizado com essas políticas e que agora está a pagar por isso. Felizmente, Portugal despertou para a necessidade de se fazerem políticas alternativas de Esquerda e começou a reagir à miséria democrática que o neoliberalismo promove.
Alguns exemplos do que fizeram as cidades membros da Rede Global das Cidades de Aprendizagem da UNESCO para alcançar a equidade e a inclusão(em Portugal há sete cidades pertencentes a esta rede: Anadia, Câmara de Lobos, Cascais, Gondomar, Lagoa - Açores, Mação e Pampilhosa da Serra)
Fornecer oportunidades educacionais alternativas a todos os cidadãos, em particular para os grupos vulneráveis (por exemplo, jovens e adultos com baixos níveis de literacia, quem abandona a escola, refugiados e migrantes) que não estão na escolaridade formal ou em formação, permitindo-lhes adquirir literacia e outras capacidades básicas / vocacionais, bem como para participar na educação contínua para adultos
Oferecer aulas de aprendizagem on-line que permitem a participação das pessoas em palestras gratuitas numa variedade de tópicos relevantes para a sua comunidade local
Estabelecer escolas para migrantes que permitam aos trabalhadores migrantes obter qualificações profissionais, ajudando-os a integrar-se na sociedade
Promover iniciativas de aprendizagem intergeracional aproximando crianças e adultos
Fornecer orientações de carreira, particularmente para as mulheres, para as encorajar a obter qualificações mais elevadas que lhes permitam assumir posições de liderança
Criar bibliotecas móveis que proporcionem oportunidades de leitura para todos, especialmente para pessoas com deficiência, idosos e crianças abaixo da idade escolar
Usar centros culturais que sirvam de locais de aprendizagem, aproximando a cultura, arte e a aprendizagem, e acolhendo projetos organizados conjuntamente por instituições educacionais e culturais locais, como forma de permitir que as pessoas locais tenham acesso ao seu património cultural e promovam a tolerância intercultural
Lembremos Meninos de todas as cores, pequena história de Luísa Ducla Soares, já com uns anos de escrita, mas sempre viva e interrogadora - porque é que sendo o mundo redondo, ainda (ou já) não sabemos viver-de-roda, com gente de todas as cores, sentindo as cores que todos temos dentro de nós? Isto a propósito de um estudo desanimador publicado hoje sobre a opinião "dominante" em muitos países da União Europeia. Em Portugal, os estereótipos, mais agressivos ou mais "piedosos", amortecem consciências e aniquilam o peso de informação científica e espírito crítico:
"Somos dos países da Europa que mais manifestam racismo biológico e cultural. Ou seja, acreditamos que se podem hierarquizar grupos humanos em função de factores biológicos ou de factores culturais" (Jorge Vala em entrevista no Público de hoje)
Pessoas que pensam que "algumas raças nascem menos trabalhadoras que outras", 2014