Os passos a que ando, um atrás do outro, como as letras em carreirinha, do fim para o princípio.
sábado, outubro 08, 2005
Retomo a escrita, a partir do meu lugar, estas margens do Tejo a que alguns chamam Lezíria e outros oportunidade imobiliária. Terras e águas de voos rasantes, como a da imagem, de resto disponível no site da Câmara Municipal, com autor anónimo e beleza imensa. Assim, na largueza, aprendíamos a respirar. Por isso me doi tanto que nos cortem o horizonte, alimento das asas. A quem tiverp aciência de ir lendo, vou avisando que não há grande selecção a não ser a do momento e do coração, neste caso o meu.
sábado, agosto 06, 2005
O dia até parecia noite
Tenho vergonha e aflição. Combato de mãos nuas a estupidez há tantos anos que me sinto irmã dos aldeões e dos bombeiros. E no entanto, a estupidez e o fogo rodeiam-nos, avançam e retornam. Saltam da secura dos campos e das árvores, das folhas que tombam e ficam em monte, sem humidade que baste para apodrecer, granadas prontas ao cego combate.
quinta-feira, junho 30, 2005
Prenda de anos (2) para o Mal
domingo, junho 19, 2005
Geremos
- Mia Couto, em Pensatempos
E ao terceiro dia consegui voltar a lê-lo
Agora é Verão, eu sei.
Tempo de facas, tempo
em que as cobras perdem os anéis
à míngua de água.
Tempo em que se morre
de tanto olhar os barcos.
É no Verão, repito.
Estás sentada no terraço
e para ti correm todos os meus rios.
Entraste pelos espelhos:
mal respiras.
Vê-se bem que já não sabes respirar,
que terás de aprender com as abelhas.
Sobre os gerânios
te debruças lentamente.
Com rumor de água
sonâmbula ou de arbusto decepado
dás-me de beber
um tempo assim ardente.
Poisas as mãos sobre o meu rosto,
e vais partir,
sem nada me dizer,
pois só quiseste despertar em mim
a vocação do fogo ou do orvalho.
E devagar, sem te voltares,
pelos espelhos entras na noite acesa.
Tempo em que se morre, de Eugénio de Andrade
transcrito da pag. 65 de Antologia breve seguida de Palavra ao Silêncio, com prefácio de Óscar Lopes, editada no Porto pela saudosa Inova, em 1972, o nº 13 da colecção (maravilhosa) Duas horas de leitura
Há livros de que não nos conseguimos apartar.
Nunca mais deixei de perder os anéis nas luas quentes do meu país, e de em cada espelho sentir os passos de quem não se voltou.
Baixinho
Eu não senti nada na morte de Cunhal. O dirigente histórico, o partido, morreram para mim há muito tempo. Quando os comunistas reconheceram os crimes do estalinismo Kundera disse-lhes que não bastava que se arrependessem, era preciso que, como Édipo, vazassem os olhos e fossem para o deserto. Ora os comunistas portugueses mostraram sempre uma total insensibilidade à natureza criminosa do estalinismo e das suas manifestações. Sempre prontos a perdoar, em nome da dureza da luta de classes, sempre mansos para a tentativa de reabilitação histórica do herói da segunda guerra. Sempre confundindo firmeza ideológica com catecismo.
Mas, na morte de Cunhal, ouvi o grito das multidões nas ruas. Dizia, aos senhores deste mundo, que outro mundo é possível. Aos homens do cálculo que a Sophia detestava, aos que traçam a régua e esquadro a nossa vida, sempre prontos a salvar a economia e a nação, a interpretar a história, a explicar a racionalidade da opressão, a soprar aos desempregados e aos excluídos que devem ter paciência, a insinuar que a desigualdade é merecida e está inscrita na nossa inferioridade genética. O grito da rua irritou os comentadores inteligentes que há anos se apoderaram das colunas de opinião da imprensa, da rádio e da televisão e construíram a nossa ignorância. O mundo tem-lhes corrido de feição. Derrotaram os inimigos, uns broeiros, aliás, quase todos incultos, incapazes, carentes de argumentos e fluência. Estavam tão satisfeitos, lá de onde se via o fim da história. E de repente aquele rumor. Parecia o PREC contado às criancinhas. Havia muitos velhos, eu sei. Mas no presente, no futuro, vai haver muitos velhos. Talvez não tenham dado conta. Há muitos velhos em casas, lares, em quartos. À espreita. Há aldeias quase só de velhos, e nos pinhais ardidos, velhos habitam casas como barcos. Quando as ruas das cidades dormitório se esvaziam, os velhos tomam conta das crianças pequeninas e contam-lhes, baixinho, uma história ainda secreta.
Transcrevo do Mal
Sei que para muitas crianças os sussurros ao adormecer surgem do seu coração, e não de gerações anteriores, interditas no cruel e urbaníssimo quotidiano que as transfere de infantário para escola de casa sem pai ou sem mãe, ou só com um adulto. Para outras, a própria rua desapareceu, e entre portas brincam dentro de automóveis e carrinhas, espaços de sonhar ou sofrer como eram os passeios, as travessas, os becos, os quintais e os campos dos anos sessenta.
Mais valor têm ainda as histórias secretas que conseguem capturar, melhor ainda se directas em fala corrente e quente de carinhos e tremor de voz.
A comoção não se decreta, e poucos a dominam.
Na memória das crianças fica o único futuro possível. Nas pontes que com elas se fazem o derradeiro dicionário do entendimento. A ler baixinho, claro...
sábado, junho 04, 2005
ETC Teixeira Coelho, conheces?
quinta-feira, junho 02, 2005
Da minha terra vê-se a língua, ouve-se o mar
Foto retirada de espaço público da Câmara Municipal
Sentei-me à beira do Tejo
A ouvir a gente falar
Da terra, dizemos Campo
Ao rio, chamamos Mar
Pôr a Língua de Fora é Booooooom!
Prémio Príncipe de Astúrias da Cooperação Internacional
Simone VeilPrémio Príncipe de Astúrias da Comunicação e Humanidades
Alliance Française
Società "Dante Alighieri"
British Council
Goethe Institut
Instituto Cervantes
Instituto Camões
Apesar das críticas justas a fazer a cada um dos Institutos, é de aplaudir o Prémio conjunto a quem cuida de promover Língua e Cultura para lá das fronteiras políticas, e a opção por incluir 6 línguas diferentes, pelo menos. Curiosidade: como trata cada um destes Institutos os idiomas minoritários/regionais e os crioulos/variantes?
Já agora, esta é uma alegria Simonetta
Língua à vista
Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação.
quarta-feira, junho 01, 2005
Bi-empréstimo sobre os indexes
publica uma lista dos 10 livros mais perigosos dos séc. XIX e XX. Sendo a revista conservadora e americana, não é de estranhar encontrar Nietzche, Marx, Keynes (10º) e Darwin entre os terríveis autores. Dewey, o da Educação e Democracia, tam bém não escapa. Reparem no fundamento:
"In Democracy and Education, in pompous and opaque prose, he disparaged schooling that focused on traditional character development and endowing children with hard knowledge, and encouraged the teaching of thinking “skills” instead."
Thinking skills: capacidade de pensamento crítico, terrível doença que hoje mata tanto como o cancro, a sida, a fome... Que seria de nós sem estas luminárias? Que vai ser feito de nós com Poder nas mãos de leitores de tal calibre?
O link no título do "horroroso" panfleto revela no entanto uma outra face - remete para a Amazon, que vende ainda hoje o livro...
Mais um índice de livros perigosos para os bons costumes, nos inigualáveis EUA
Notícia no Bicho carpinteiro, comentário aguçado no Barnabé
Porque será que há tanta gente piedosa que quer velar pelo entendimento alheio, sem confiar minimamente na capacidade de cada um ler e criticar?
terça-feira, maio 31, 2005
A propósito do NON - Pedi emprestado ao Bicho Carpinteiro
A Trapalhada Europeia
Desde1992 que se assiste a uma fuga para a frente sem ter em conta o estado da opinião nos diferentes países. A arrogãncia com que os convencionais sem mandato chamaram Constituição ao presente diploma acabou ontem. O povo de esquerda em França desautorizou a sua representação na convenção a começar pelo seu presidente, o tambem françês Giscard D'Estaing. Mas PR, Chirac, governo de direita e PS de François Hollande tambem sofrem na respectiva proporção. Laurent Fabius é o grande vencedor à esquerda pois teve a coragem de se desatrelar da carruagem onde viajam pela Europa fora os socialistas passivos ou pacientes.
As causas da vitória do Não em França não são só internas.Longe disso. Desde 1992 que aumentou a insegurança das populações e a desconfiança entre Estados dada a mutação permanente de objectivos e de regras na U E. O último alargamento foi conduzido sem nenhuma espécie de racionalidade.Os inimigos da U E não teriam feito melhor.
Em Portugal os reciclados de várias aventuras agarraram-se à dogmática europeia com fervor. Haverá agora mais pensamento crítico entre nós?
posted by josé medeiros ferreira @ 15:33 no Bicho carpinteiro
segunda-feira, maio 23, 2005
Amina não sabe ler
Neste mesmo mundo, à distância de umas horas de avião, a vida que tão poucos defendem, ou tão mal se defende. Apetece gritar, e ninguém grita, apetece chamar e ninguém chama... ecos de um poema da minha infância, rastos dos olhares que tantas vezes encontro, menos pano negro por fora, cheios de lutos por dentro.
Amina não sabe que eu sei dela, e tudo isto afinal é pouco demais para transformar as coisas.
Nunca deem o nome de Amina a uma menina. Lembra esta, de Sanaa, Iemen, condenada por um crime que não cometeu, por ser fraca e mulher, e a outra, a da Nigéria, condenada por ser mulher e não cumprir a sharia, ou lá o que os homens da terra dela querem que haja para confirmar que as mulheres são fracas e perigosas. Gritem o nome de Amina, que não sabe ler, como milhões de mulheres no planeta. Nestas coisas da leitura e das condenações à morte, as mulheres detêm a maior cota. Ainda. E o mundo é certamente muito pior por isso
domingo, maio 15, 2005
Leitura partilhada - vale a pena visitar este blog, com moderação
Nessa altura seria aconselhável que os livros fossem postos à venda com uma etiqueta "leia com moderação. Leitura compulsiva pode secar-lhe o cérebro e fazer de si um cavaleiro andante"...
Está no blog Leitura partilhada, que agora a anda a ler Dom Quijote, esse mesmo, o de Cervantes
Sobre o autor e a obra:
Fundación Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Proyecto Cervantes
segunda-feira, maio 09, 2005
Questionário de Leeds
(Desafio do Mal)
1-Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Sairia do Farenheit, ou escrevia de cabeça mais livros. Recuso a ideia de monoleitura: no mínimo, estéreo
2- Já alguma vez ficaste perturbado por uma personagem de ficção?
Sim, muitas vezes
3- O último livro que compraste?
O gato e o escuro, Mia Couto (para dar)
4- O último livro que leste?
O medo de existir, José Gil
5- Que livros estás a ler?
As lições dos mestres, George Steiner
Evidentemente, António Nóvoa
6- Seis livros que levarias para uma ilha deserta?
Alice no País das Maravilhas, L. Carroll
Os livros de Coetzee
O Quixote, Cervantes
O princepezinho, Saint-Exupery
Os poemas da Sophia
Autobiografia, Agatha Christie
1+1=1, Almada Negreiros
São mais de 6? Não faz mal, dão-se ou perdem-se sempre alguns pelo caminho....
7 – Três pessoas a quem vais passar este testemunho e porquê?
Ao Miguel Horta, ao Zé Sousa Dias, à Aninhas. Porque leem sempre de mais maneiras que eu
Sejas Feliz
Ler como se tudo tivesse sido escrito de outra maneira?
quarta-feira, maio 04, 2005
Ler-se por benefício de catástrofe suspensa
Dantes, a frase «nunca ninguém se arrependeu à hora da morte de não ter passado tempo suficiente no escritório» era uma pequena verdade engraçada; agora é uma evidência.
Sou professor e gosto de o ser. O produto do meu trabalho é a interjeição «ahá» proferida por quem não entendia uma coisa e agora entende. Não sei qual é o valor de mercado dessa interjeição, por isso não posso dizer se sou bem pago ou mal pago.
no blog do zé luís, professor hobbesiano
sábado, abril 30, 2005
sinais de vida
segunda-feira, abril 25, 2005
domingo, abril 24, 2005
Ler a vida para inscrevermos outra
o gel de banho,
a manteiga, o pão de forma,
quando se vive sózinho,
a botija de gaz,
o terço entre os dedos,
o calgonite,
demora tudo,
o esfregão da louça,
o fim-de-semana,
o meio-do-mês,
as prestações do carro,
muito tempo,
o aperto do laço,
as dores do período,
o absinto, a ginginha,
as pilhas do transistor,
o alprazolam,
a falta que me fazes,
a acabar.
domingo, abril 17, 2005
ler é coisa lá de casa - ou não é!
"Depois de viver muito e prestar muita atenção na vida e nos vivos é fácil perceber que as pessoas mais criativas, mais felizes, mais produtivas, mais bem ajustadas ao mundo tiveram uma infância povoada pelos livros. Estou seguro de que uma infância em que a imaginação tenha sido mais atendida -seja por um avô contador de histórias, seja por um ambiente povoado de livros- ajuda muito o ser humano no seu trajeto pela vida futura. Se o lar é bem constituído e seus componentes se comunicam intensamente; se a família se reúne para conversar, para comentar fatos e coisas, para falar de livros, de filmes e de histórias, para comentar a notícia do dia, a presença da literatura é fundamental para criar pessoas mais felizes. Num núcleo familiar em que isso não acontece, fica difícil para a literatura ter importância. " (Ziraldo - MAIS, Folha de S.Paulo - 13/08/2000) |
Dom Jorge
"Ao longo da história o homem tem sonhado e forjado um sem-fim de instrumentos. Criou a chave, uma barrinha de metal que permite que alguém penetre num vasto palácio. Criou a espada e o arado, prolongações do braço do homem que os usa. Criou o livro, que é uma extensão secular de sua imaginação e de sua memória. A partir dos Vedas e das Bíblias, temos aceitado a noção dos livros sagrados. Em certo modo, todo livro é. Nas páginas iniciais de Quixote, Cervantes deixou escrito que recolhia e lia qualquer pedaço de papel impresso que encontrava na rua. Qualquer papel que encerra uma palavra é uma mensagem que um espírito humano manda a outro espírito. Agora, como sempre, o instável e precioso mundo pode perder-se. Somente se podem salvar os livros, que são a melhor memória de nossa espécie."
"Como todos os actos do Universo, a dedicatória de um livro é um acto mágico. Também caberia defini-la como o modo mais grato e mais sensível de pronunciar um nome."
"Um livro é uma coisa entre as coisas, um volume perdido entre os volumes que povoam o indiferente Universo, até que encontra o seu leitor, aquele destinado a seus símbolos. Ocorre então a emoção singular chamada beleza, esse mistério formoso que não decifram nem a psicologia nem a retórica."
Jorge Luís Borges
e mais Borges
e quem o estuda
sexta-feira, abril 08, 2005
Livros eram libres na fala nortenha dos meus maiores
por abril, pero eso sí...
libros de yedra, libros sin horas,
libros libres;
cada página un día,
cada día el assombro
de ser vino y piedra, aire,
agua, palabra, parpadeo.
Octavio Paz
quinta-feira, abril 07, 2005
Os que leem
Michel de Certeau
citado in
A ordem dos livros, de Roger Chartier (Vega, 1997)
terça-feira, março 08, 2005
Poucas, muito poucas as palavras
Com vénia para o Luís e os leitores
Al cabo, son muy pocas las palabras
que de verdad nos duelen, y muy pocas
las que consiguen alegrar el alma.
Y son también muy pocas las personas
que mueven nuestro corazón, y menos
aún las que lo mueven mucho tiempo.
Al cabo son poquísimas las cosas
que de verdad importan en la vida:
poder querer a alguien, que nos quieran
Y no morir después que nuestros hijos.
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
Passar das horas, segredo de ler
Mas eram sobretudo o vento
Havia quem dissesse
Nós só procurávamos a sombra
quarta-feira, fevereiro 16, 2005
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
sábado, fevereiro 12, 2005
Ver desafios onde outros veem destinos
"Existe uma identidade indissolúvel entre o fim e os meios. Os meios têm que ter uma identidade inconfundível com os objetivos que a gente se propõe conquistar. A maneira de chegar até esses objetivos, passo a passo, consciência a consciência, casa a casa, precisa manter a identidade daquilo que você faz com aquilo que você quer fazer. Porque às vezes, em nome do realismo, o cinismo vira uma sorte de destino inaceitável.
Eu sou condenado a aceitar a realidade porque não posso mudá-la. Não é assim.
Não vemos a realidade como um destino, mas sim como um desafio. Ela está nos desafiando. A definição de quais são os meios para enfrentá-la é um ponto mais complicado. Você pode cair na tentação de começar a trair demais os seus objetivos em nome de seus objetivos imediatos, perdendo de vista a sua própria imagem. Você procura você no espelho e não percebe que não está lá”.
Dá que pensar, não é?
segunda-feira, fevereiro 07, 2005
Dispender com a leitura como o fazem com outras "recreações"?
Newspapers will presumably continue until television technique reaches a higher level, but apart from newspapers it is doubtful even now whether the great mass of people in the industrialized countries feel the need for any kind of literature. They are unwilling, at any rate, to spend anywhere near as much on reading matter as they spend on several other recreations. Probably novels and stories will be completely superseded by film and radio productions. Or perhaps some kind of low grade sensational fiction will survive, produced by a sort of conveyor-belt process that reduces human initiative to the minimum.
(in "The Prevention of Literature", George Orwell)
posted by Draw at 3:31 PM no blog O EsquemaVera Drake
Artigo notável de Maria José Oliveira, sobre o filme Vera Drake.
Se os homens engravidassem, o aborto seria um sacramento, diz ela, e mais coisas.
O filme vale a pena e dá vontade de escrever e falar e contar desta terra onde o que em Inglaterra há 50 anos ainda havia, aqui, e hoje, em modo pior mesmo que na Irlanda e na Polónia, ainda (!) há.
Como em qualquer leitura, ouvir contar pode entusiasmar, mas não substitui o individual olhar e entender. Isto vale para o artigo e para o filme, claro.
Também eu!
Como gostaria de ser recordado?
Que me recordem como alguém que foi feliz na sua profissão - fiz o melhor que soube sempre com imensa alegria.(memória de Canto e Castro, actor recentemente partido daqui, em entrevista à Pública)
domingo, janeiro 30, 2005
A língua esquecida
Mas esta necessária leitura do sentido, leitura rápida, torna-se a única maneira de ler. Mesmo num romance, os leitores procuram a história, a sequência de acontecimentos e já não as palavras, o estilo, a poesia. A produção literária cola-se de resto cada vez mais a este tipo de leitura: já que é necessário ler depressa, a escrita funciona na base de lugares comuns, sinais convencionais, códigos, sempre idênticos para que o leitor os identifique e compreenda facilmente. Pouco importa como é dito: o que conta é a trama. (...) Um outro tipo de leitura é a leitura que dá atenção à língua "Eu, que sou um leitor lento; eu leio todas as frases, eu leio musicalmente."
O livro é como uma partitura musical. (...) Leitura do sentido, leitura da língua: o adulto tem necessidade destes dois tipos de leitura.
A criança, ela, deve aprender, não apenas a ler, mas, com a leitura, a manejar uma língua.
quarta-feira, janeiro 26, 2005
No meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho
Acho que é um poema do Carlos Drummond de Andrade, que nos força a reparar. No caminho. Na pedra.
Como o filme do Bergman, Saraband . Recomendo. E vou rever. Força-nos a reparar em nós, pedra e caminho. E de como a educação para a solidão é essencial, e impossível de escolarizar.
Até que nos serenamos sabendo-nos pedra, caminho e meio. No meio. Nada começa nem termina em nós.
Ohoh
E ainda me lembro como são demasiado quentes em tantos verões...
Será impossível, no século vinte um, projectar melhor os edifícios para este clima em mutação? Usar painéis solares que poupem os rios de euros de kilowats em aquecimento ou ar condicionado? Pelo menos, procurar soluções que climatizem os espaços de aprender para todas as crianças.
Mesmo assim, trabalha-se em projectos. Como se tudo fosse possível, cautelosamente, arrojadamente.
Às vezes um bocadinho descrentemente. Mas, pelo menos hoje, sempre com bom humor. Ah gente do Ribatejo, muito me consolais dos quilómetros sem fim. Mesmo que ainda surjam vozes mais interessadas no imediato - os recursos a crescer, quando e quanto - que no essencial - para quê e como os utilizar, em que dificuldades dos meninos e meninas podem assentar, e até onde as poderão ajudar a resolver.
Para que daqui a 20 anos os alunos de agora, directores de escola então, sejam mais afirmativos nas condições de aprender e de criar. E já não haja frio que rache nem calor que desanime.
Ohoh!
segunda-feira, janeiro 24, 2005
Os portugueses acham muito e investigam pouco
Portuguesa ela também Inês não concretiza a fonte dos dados, e já agora era útil que o fizesse.
No entanto, levanta esta frase uma inquietação que todos sentimos - a de como combater ideias feitas ou promovidas pelo que se "acha", num senso comum promovido rapidamente a bom senso incontestável, iliteracia militante e manipuladora.
Nas bibliotecas, na promoção da leitura e das literacia. também há campeões do achamento. Resista-se pois aos achados, sobretudo quando nos são simpáticos, e invista-se na verificação rigorosa. Os jovens agora não leem... no meu tempo é que se aprendia muito... Ultrapasse-se a consolada fase contentinha e olhem-se os valores crescentes de obras para jovens compradas, requisitadas em bibliotecas... sem desviar os olhos das respostas patetas a perguntas simples ou também elas patetas (quem é que se lembra de repente do nome dos reis de Portugal numa situação de comoção como é a de saber que se entrou na universidade depois de meses e meses de agonia? e o que é que isso prova? que se despachou uma reportagem em 10 minutos sem se tratar tema nenhum?)
O artigo da Inês?
Ah, gostava de o ter aqui, claro, mas comprei o jornal - nao me apetece pagar outra vez o mesmo para ler on-line e descarregar o texto - e ainda não tive tempo de o digitalizar.
Procurem na biblioteca - quem sabe está lá, e a custo zero, e ainda por cima sem ter de dar o nome para bases de difusão de publicidade.
domingo, janeiro 23, 2005
Primeira noite
Tartaruga pois nos caminhos da filosofia, pachorrentamente me queria na vida e no imaginar.
Ler também porque disso quase faço ofício, em peripécias diárias para criar bibliotecas ou nelas viajar, e com outros em conversas combinar estratégias de crescimento, e , quase sempre - felizmente! - humor...
Iniciação neste mundo blogueiro, forma de escrita "à moderna", caderno de apontamentos que não pesa no bolso e se apanha em qualquer ciberponto, e se perde em qualquer capricho de agora já não me apetece.
Convite aos que disto gostam ou não gostam e ainda não perderam o prazer do ABC (o das letras de ler, e ainda o que em castelhano afugenta bispos espanhóis...)
Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito
Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito : « Quem alcançou o topo, passou a acreditar que o sucesso foi um feito seu, uma medida do seu ...
-
PORTUGAL (de Jorge Sousa Braga, 1981) Portugal Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos Que ...
-
Senhores, sou mulher de trabalho, e falo com poucas maneiras, porque as maneiras, são como a luva que calça o ladrão. Ás vezes, eu ponho-me...
-
CANTIGA PARA QUEM SONHA Tu que tens dez reis de esperança e de amor grita bem alto que queres viver. Compra pão e vinho, mas rouba uma fl...