quinta-feira, abril 07, 2005

Os que leem

Muito longe de serem escritores, fundadores de um lugar próprio, herdeiros dos lavradores de antanho mas na terra da linguagem, cavadores de poços e construtores de casas, os leitores são viajantes; circulam pelas terras do próximo, nómadas furtivos através dos campos que não escreveram, arrebatando os tesouros do Egipto para os desfrutar. A escrita acumula, amontoa, resiste ao tempo pelo estabelecimento de um lugar, e multiplica sem produção pelo expansionismo da reprodução: a leitura não é uma garantia contra o desgaste do tempo (esquecemo-nos e esquecemo-lo), não conserva. As suas aquisições, e cada um dos lugares por onde passa é repetição do paraíso perdido.

Michel de Certeau

citado in
A ordem dos livros, de Roger Chartier (Vega, 1997)

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