Muito longe de serem escritores, fundadores de um lugar próprio, herdeiros dos lavradores de antanho mas na terra da linguagem, cavadores de poços e construtores de casas, os leitores são viajantes; circulam pelas terras do próximo, nómadas furtivos através dos campos que não escreveram, arrebatando os tesouros do Egipto para os desfrutar. A escrita acumula, amontoa, resiste ao tempo pelo estabelecimento de um lugar, e multiplica sem produção pelo expansionismo da reprodução: a leitura não é uma garantia contra o desgaste do tempo (esquecemo-nos e esquecemo-lo), não conserva. As suas aquisições, e cada um dos lugares por onde passa é repetição do paraíso perdido.
Michel de Certeau
citado in
A ordem dos livros, de Roger Chartier (Vega, 1997)
Sem comentários:
Enviar um comentário