domingo, janeiro 30, 2005

A língua esquecida

A leitura é uma actividade de linguagem e é lendo (por que mistério o esqueceremos?) que se forja o amor pela língua. Mas a maioria dos leitores, crianças ou adultos, leem e prendem-se a um livro pela história que ele conta e de forma alguma pela língua que canta a história. Porque leem depressa demais. A aceleração do progresso no domínios científico, cultural e técnico, a acumulação dos conhecimentos impoem a leitura antes de mais para decuplicar o seu saber: é preciso, assim, ler depressa para estar mais e melhor informado. (...)
Mas esta necessária leitura do sentido, leitura rápida, torna-se a única maneira de ler. Mesmo num romance, os leitores procuram a história, a sequência de acontecimentos e já não as palavras, o estilo, a poesia. A produção literária cola-se de resto cada vez mais a este tipo de leitura: já que é necessário ler depressa, a escrita funciona na base de lugares comuns, sinais convencionais, códigos, sempre idênticos para que o leitor os identifique e compreenda facilmente. Pouco importa como é dito: o que conta é a trama. (...) Um outro tipo de leitura é a leitura que dá atenção à língua "Eu, que sou um leitor lento; eu leio todas as frases, eu leio musicalmente."

O livro é como uma partitura musical. (...) Leitura do sentido, leitura da língua: o adulto tem necessidade destes dois tipos de leitura.
A criança, ela, deve aprender, não apenas a ler, mas, com a leitura, a manejar uma língua.

in L'enfant lecteur. Autrement. Série Mutations. Nº 97 (Março 1988), p. 21-22 - ISSN 0751 0144. Traduzido do francês

1 comentário:

Anónimo disse...

bom texto

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