Uma menina chamada Amina que não sabe ler, que me faz apertar o coração. Menina e mãe, aguarda a morte num país em que as mulheres, como diz o Daniel, são um pano negro com dois olhos.
Neste mesmo mundo, à distância de umas horas de avião, a vida que tão poucos defendem, ou tão mal se defende. Apetece gritar, e ninguém grita, apetece chamar e ninguém chama... ecos de um poema da minha infância, rastos dos olhares que tantas vezes encontro, menos pano negro por fora, cheios de lutos por dentro.
Amina não sabe que eu sei dela, e tudo isto afinal é pouco demais para transformar as coisas.
Nunca deem o nome de Amina a uma menina. Lembra esta, de Sanaa, Iemen, condenada por um crime que não cometeu, por ser fraca e mulher, e a outra, a da Nigéria, condenada por ser mulher e não cumprir a sharia, ou lá o que os homens da terra dela querem que haja para confirmar que as mulheres são fracas e perigosas. Gritem o nome de Amina, que não sabe ler, como milhões de mulheres no planeta. Nestas coisas da leitura e das condenações à morte, as mulheres detêm a maior cota. Ainda. E o mundo é certamente muito pior por isso
Os passos a que ando, um atrás do outro, como as letras em carreirinha, do fim para o princípio.
segunda-feira, maio 23, 2005
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