A INFÂNCIA
Era uma nebulosa
com seus silêncios
percorrendo todos os espaços
da memória
Ou talvez uma anémona
ainda brilhando devagar
num manto de cor
no fundo do mar
No céu cantavam milhafres
entre a alegria e o medo
vasculhando a noite com o poder
das suas asas
em busca de alimento
Mas eram sobretudo o vento
as papoilas vermelhas no monte
e os vinhedos do vale
o gosto da cana-de-açucar
mastigada às escondidas
e os livros de aventuras
os mistérios que o tempo nos trazia
Havia quem dissesse
como era boa esta infância
Nós só procurávamos a sombra
debaixo das latadas
para acompanharmos as viagens
de Ulisses ou do Príncipe Valente
e deixar passar as horas
até chegar outro dia
José António Gonçalves
(inédito.17.02.05)
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