A ler, imediatamente.
Estas práticas [PODAS ABUSIVAS], que em alguns países configuram crimes ambientais, mesmo quando perpretadas em terrenos privados, aqui são sempre justificadas por qualquer razão irracional e mesquinha, ou simplesmente, como se diz no Algarve, porque “as árvores querem-se cortas”. Não há travão ético, estético, nem legal, para refrear o apetite crescente por madeira e outros detritos vegetais, que é a verdadeira força motriz que impulsiona toda esta voracidade podadora recente. Árvores e restante vegetação são em geral vistas entre nós como um estorvo ou apêndice inútil da paisagem, mas – que azar para elas e demais criaturas que delas dependem – cada vez mais uma fonte de rendimento irresistível, desde a venda de madeiras nobres, que atingem no mercado centenas de euros por metro cúbico, como o plátano, o jacarandá ou o cedro, até à transformação para composto, pellets e afins, biogás e electricidade.
Quando podar, desvastar, recolher, só dava trabalho e nenhum lucro, esses serviços eram realizados por funcionários camarários. Embora as atrocidades tivessem aumentado na razão da evolução das “tecnologias da poda” e diminuição da formação dos podadores, ainda ia havendo uma certa indiferença tolerante. Quando começaram a dar lucro, e muito, rapidamente os mesmos serviços passaram para as mãos de empresas privadas, e desde então, não há erva ou árvore centenária que não esteja à merçê dos exércitos de sapadores recrutados por estas empresas – mão de obra barata não falta e quanto mais energúmeros melhor.
Maria José Castro
A grande desmatação de 2018 – Observador