Os passos a que ando, um atrás do outro, como as letras em carreirinha, do fim para o princípio.
quinta-feira, dezembro 29, 2011
terça-feira, dezembro 27, 2011
quarta-feira, dezembro 21, 2011
A cabana de Thoreau | iOnline
A cabana de Thoreau | iOnline
Arrebatador o texto de Luís Januário, inquirindo por firmeza, serenidade, solidariedade. Armas no combate necessário de hoje e em diante, neste tardocapitalismo a que, seguramente, sobreviveremos com a nossa música, gestos e palavras de que sempre se fizeram os sonhos, os desassombros e os futuros.
Arrebatador o texto de Luís Januário, inquirindo por firmeza, serenidade, solidariedade. Armas no combate necessário de hoje e em diante, neste tardocapitalismo a que, seguramente, sobreviveremos com a nossa música, gestos e palavras de que sempre se fizeram os sonhos, os desassombros e os futuros.
segunda-feira, dezembro 19, 2011
A quem é macio
Hoje topei com alguns conhecidos meus
Me dão bom-dia, cheios de carinho
Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho
Me dão bom-dia, cheios de carinho
Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho
Hoje a cidade acordou toda em contramão
Homens com raiva, buzinas, sirenes, estardalhaço
De volta a casa, na rua recolhi um cão
Que de hora em hora me arranca um pedaço
Homens com raiva, buzinas, sirenes, estardalhaço
De volta a casa, na rua recolhi um cão
Que de hora em hora me arranca um pedaço
Hoje pensei em ter religião
De alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício
Por uma estátua ter adoração
Amar uma mulher sem orifício
De alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício
Por uma estátua ter adoração
Amar uma mulher sem orifício
Hoje afinal conheci o amor
E era o amor uma obscura trama
Não bato nela nem com uma flor
Mas se ela chora, desejo me inflama
E era o amor uma obscura trama
Não bato nela nem com uma flor
Mas se ela chora, desejo me inflama
Hoje o inimigo veio me espreitar
Armou tocaia lá na curva do rio
Trouxe um porrete a mó de me quebrar
Mas eu não quebro porque sou macio, viu
Armou tocaia lá na curva do rio
Trouxe um porrete a mó de me quebrar
Mas eu não quebro porque sou macio, viu
Declaração solidária inter-cidadãos
Neste buscar de palavras e silêncios, li ou reli uma declaração que absoutamente subscrevo, com as devidas adaptações: sou professora há 36 anos, tendo ensinado em quase todos os graus de ensino, incluindo a universidade; sinto reconhecimento nacional e internacional pela minha qualidade profissional; vivo do rendimento do meu trabalho, e também eu há muito que abdiquei de luxos como comprar livros, estou velha demais para emigrar e sem condições para me aposentar. Subscrevo esta declaração integralmente, na medida das minhas possibilidades mas com a mesma desmedida indignação.
DECLARAÇÃO
As medidas que o Estado português se prepara para tomar não servem para nada. Passaremos anos a trabalhar para pagar a dívida, é só. Acresce que a dívida é o menor dos nossos problemas. Portugal, a Grécia, a Irlanda são apenas o elo mais fraco da cadeia, aquele que parte mais depressa. É a Europa inteira que vai entrar em crise.O capitalismo global localiza parte da sua produção no antigo Terceiro Mundo e este exporta para Europa mercadorias e serviços, criados lá pelos capitalistas de lá ou pelos capitalistas de cá, que são muito mais baratos do que os europeus, porque a mão-de-obra longínqua não custa nada. À medida que países como a China refinarem os seus recursos produtivos, menos viável será este modelo e ainda menos competitiva a Europa. Os capitalistas e os seus lacaios de luxo (os governos) sabem isso muito bem. O seu objectivo principal não é salvar a Europa, mas os seus investimentos e o seu alvo principal são os trabalhadores europeus com os quais querem despender o mínimo possível para poderem ganhar mais na batalha global. É por isso que o “modelo social europeu” está ameaçado, não essencialmente por causa das pirâmides etárias e outras desculpas de mau pagador. Posto isto, tenho a seguinte declaração a fazer:
Sou professor há mais de 30 anos, 15 dos quais na universidade.Sou dos melhores da minha profissão e um investigador de topo na minha área. Emigraria amanhã, se não fosse velho de mais, ou reformar-me-ia imediatamente, se o Estado não me tivesse já defraudado desse direito duas vezes, rompendo contratos que tinha comigo, bem como com todos os funcionários públicos.Não tenho muito mais rendimentos para além do meu salário. Depois de contas rigorosamente feitas, percebi que vou ficar desprovido de 25% do meu rendimento mensal e vou provavelmente perder o único luxo que tenho, a casa que construí e onde pensei viver o resto da minha vida.Nunca fiz férias se não na Europa próxima ou na Índia (quando trabalhava lá), e sempre por pouco tempo. Há muito que não tenho outros luxos. Por exemplo: há muito que deixei de comprar livros.Deste modo, declaro:1) o Estado deixou de poder contar comigo para trabalhar para além dos mínimos indispensáveis. Estou doravante em greve de zelo e em greve a todos os trabalhos extraordinários;2) estou disponível para ajudar a construir e para integrar as redes e programas de auxílio mútuo que possam surgir no meu concelho;3) enquanto parte de movimentos organizados colectivamente, estou pronto para deixar de pagar as dívidas à banca, fazer não um, mas vários dias de greve (desde que acompanhados pela ocupação das instalações de trabalho), ajudar a bloquear estradas, pontes, linhas de caminho-de-ferro, refinarias, cercar os edifícios representativos do Estado e as residências pessoais dos governantes, e resistir pacificamente (mas resistir) à violência do Estado.Gostaria de ver dezenas de milhares de compatriotas meus a fazer declarações semelhantes.
Texto publicado por Paulo Varela Gomes* no Público a 23 de Outubro de 2010
*Licenciado em história pela Universidade Clássica de Lisboa (1978), mestre em história da arte pela Universidade Nova de Lisboa (1988), doutorado em história da arquitectura pela Universidade de Coimbra (1999). Docente do DARQ desde 1991, professor convidado do Dep. Autónomo de Arquitectura da Universidade do Minho desde 2001, docente convidado de outras universidades portuguesas e estrangeiras. A principal área de investigação e publicação tem sido a história da arquitectura e da cultura arquitectónica portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
domingo, dezembro 18, 2011
Quem quer fazer fraca a forte gente?
Hoje acordei sem notícias sobre a formação da iniciativa cidadã para uma auditoria à dívida pública portuguesa - nenhuma televisão falou nisso - mas com a novidade de que no Governo do meu País há quem ache e diga que o que os portugueses devem fazer é emigrar. Há uns tempos fora um Secretário de Estado que no Brasil assim falou a gente jovem, agora é o próprio primeiro-ministro que aconselha o mesmo a professores que queiram continuar a ser professores - porque no País não irá haver lugar para tal ofício, pelos vistos. E tudo isto sem um lamento, que o mais importante não é desenvolver a sociedade, a economia, mobilizar o povo, os que têm preparação, mas recolher dinheiro venha de onde vier.
segunda-feira, dezembro 12, 2011
Pelo que muda o coração dos homens
"Mas o vale do Tua era o vale do Tua, um sítio belíssimo, onde o calor a pique do Verão, ou o despertar da Primavera ou as primeiras chuvas de Outono faziam a terra cheirar a terra, a urze, aos mil e um cheiros mediterrânicos que hoje só conhecemos dos livros, quando lemos os clássicos. (...) Estivessem vivos homens como Orlando Ribeiro, e eles dir-nos-iam os elos que estamos a quebrar, não com o passado, mas com o presente e connosco próprios.Portugal é um país que tem destruído intensamente a sua paisagem natural nos últimos anos, tem uma grande densidade de barragens a norte e cada barragem é um vale de um rio que desaparece. As cumeadas dos montes já estão cheias de eólicas, e quase que não é possível em lado nenhum olhar à volta de um ponto alto, mesmo nos parques naturais, sem ver artefactos colocados bem diante dos nossos olhos nos últimos 20 anos. Já não sabemos, por exemplo, o que é uma noite escura, e por isso o espanto homérico com o céu e as estrelas é uma experiência que já "não nos assiste", para assentar os pés na terra em que verdadeiramente vivemos, a das trivialidades boçais.
Eu sei que uma parte desta destruição era inevitável e faz parte de um difícil trade-off entre a economia, fonte de riqueza, os recursos a explorar, e o ambiente, mas, como estamos a chegar aos limites de tudo - últimos vales, últimos montes, ultimas paisagens -, esse trade-off esgotou-se nas suas virtualidades, e é hoje uma desvantagem cujos custos se pagarão num futuro próximo. As crianças que hoje nascem vão viver num mundo dominado pela poluição luminosa, de caos urbanístico, construções clandestinas mal-amanhadas e sem paisagem natural. Nunca vão ver a Via Láctea a não ser em fotografias, não sabem o que é um vale selvagem de um rio a não ser nos filmes americanos, nunca cheirarão a urze, nem saberão o que é uma giesta, não terão o vento na cara no cimo duma montanha, sem este trazer a marca conspurcada do mundo de lixo que começa logo uns metros mais abaixo, nunca verão um carvalho, nunca comerão uma truta sem ser de viveiro, não saberão o que é o silêncio "habitado" que muda o coração dos homens que o sabem ouvir."
J. Pacheco Pereira
Lido e escrito em Dezembro de 2011, perante a perspectiva de mais uma barragem que aniquilará o Vale do Tua e de caminho compromete o Douro vinhateiro, há poucos anos consagrado como Património Mundial pela Unesco.
Blogado aqui a pensar nos nossos netos e nos filhos dos nossos netos por nascer, em memória dos Mestres como Orlando Ribeiro e do aparentemente perdido Bom Senso Elementar. E, já agora, de Portugal, meu e nosso País.
Ler o resto do texto citado:
ABRUPTO
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