"não podemos dizer que em Itália não se produza cultura, antes pelo contrário existe um número significativo de pessoas que se ocupam de cultura a vários níveis. Publicam-se muitíssimos livros, há uma oferta cultural variada, o problema é que ela se dilui cada vez mais num sistema de eventos, festivais, lançamentos e recensões mútuas e de cortesia, elementos que acabaram por criar um sistema fechado, solipsista e interdito à maioria das pessoas que o rotula como prerrogativa da “esquerda”, que representa para muita gente a velha ordem e que falhou infelizmente o seu objetivo de criar uma sociedade mais justa.
O problema é que dentro de um sistema desse tipo, poucos e quase nada exercem um verdadeiro ofício crítico útil para a sociedade, vindo-se assim a esgotar qualquer função civil da cultura.
Acaba assim por se construir na cena cultural uma contra-narrativa apenas superficial do populismo e do racismo reinante, que exerce uma função auto-reconfortante alimentada pela constante autopromoção do que se escreve, se filma, se pinta, se encena etc.
São práticas que se tornam produtos de um mercado cultural profundamente narcisista incapaz de se abrir para um “nós sincero” como escreve ainda Fofi e que cria um sistema de hábitos sociais vistos pela maioria dos italianos, que hoje vivem descomplexadamente a sua ignorância, como manifestações sem sentido que promovem, muitas vezes contraditoriamente, valores vistos como inúteis quando não nocivos para a sociedade porque não respeitam o lema “prima gli italiani” e porque se inspiram em princípios solidários.
Falta militância, pressuposto do verdadeiro exercício intelectual, no sentido de promover a capacidade de repensar o país partindo da educação."
https://www.buala.org/pt/a-ler/la-grande-bellezza-breve-apontamento-sobre-a-cultura-hoje?fbclid=IwAR2MJe_mNWTRcLdjtPKhRQU0w7Y-LpCFERrhVZWG8yMHyp9mftG2O12518I
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