De Oblogouavida |
Ladrões de Bicicletas: Reflexão esperançada: "Helena Garrido diz que a 'Grécia é a nossa bola de cristal'. Formulação certeira. O pior é o que vem a seguir: "Se não quisermos que o presente da Grécia seja o futuro de Portugal temos de cumprir rigorosamente o acordo assinado com o FMI e a com a UE." O governo pode tentar controlar a despesa e assim cortar nos rendimentos e na procura. Ao fazê-lo, porém, contribui para a recessão e para tornar o controlo do défice numa miragem. A ilusão de que se pode "cumprir rigorosamente o acordo" é a melhor forma de nos vermos gregos. A Grécia indica precisamente a inviabilidade destas intervenções externas, a incapacidade de uma economia atirada para uma violenta recessão em honrar estes "acordos" irremediavelmente volúveis. Imposições ao serviço do rentismo financeiro, com transferências maciças de custos sociais para a maioria dos cidadãos, têm de ser combatidas. Não são mais do que oportunidades para fragilizar a provisão pública e para recuperar a formulação míope de um capitalista norte-americano do início do século XX, que se conseguiu rebater institucionalmente durante algum tempo: "a melhor forma de garantir a eficiência dos trabalhadores é ter uma fila de homens à porta". Precisamos de uma multiplicação de sobressaltos cívicos que acelerem o fim das miopias e das ilusões, que tornem irresistível o princípio da transparência democrática, através da exigência de uma auditoria e da recusa em apoiar a banca sem contrapartidas de controlo público sobre este sector crucial, por exemplo. A esperança será sempre proporcional à robustez das propostas alternativas e à capacidade de se transformarem em novo senso comum. Muito ainda depende de nós.
(João Rodrigues, 04.06.2011)
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