A Floresta das Adivinhas
No Meio da Florestahavia uma adivinha.Quem a adivinhava voltava para casa, quem não a adivinhava nunca mais vinha.
A Sara gostava muito da casamas ainda gostava mais de adivinhas. Meteu-se pela Floresta sem nenhum receio e só parou mesmo no Meio.
Vê se és capaz de adivinhar esta- disse o Homem Mau Dono da Floresta adivinha se vais voltar para casa ou se não, se vais ficar aqui para sempre presa ao chão.
A Sara também gostava muito das árvores mas não queria ficar ali para sempre a arborizar! Antes queria ser menina e falar e andare ter as pernas soltas para saltar.
Se dissesse que ia voltar para casao Homem Mau dizia-lhe que não, que ia ficar ali presa na Floresta, e ela ficava mesmo, porque não tinha adivinhado a adivinha.
Vais-me prender - disse então a Sara - E o Homem Mau ficou muito atrapalhado com a resposta. Porque, se a prendesse, ela adivinhava e tinha que ir para casa, mas, se fosse para casa, não tinha adivinhado e devia ficar presa.
A adivinha ainda podia ter solução, mas a resposta da Sara é que não. E o Homem Mau pensava no assunto com toda a força que tinha a ver se adivinhava a solução da resposta à adivinha.
E tantos pensamentos o Homem Mau pensou, encheu a cabeça com tantos pensamentos que chegou uma altura em que já Lá não cabia mais nenhum, e quando ele pensou em mais outro, a cabeça, pum!
(Quem diz que se pode pensar muito e que os pensamentos não ocupam lugar de certeza que nunca pensou muito no assunto se não também acabava por rebentar...)
A Sara libertou todas as árvores e nós ficamos a saberque uma maneira de ganhar é forçar os homens maus donos das coisas a perder. (Se calhar não é nada disto, mas também pode ser...)
Manuel António Pina (Prémio Camões 2011)
O TÊPLUQUÊ e outras histórias. Edições Afrontamento
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