domingo, dezembro 28, 2008

Fazer balanço, tomar balanço - 6

35 anos em 2009


Isso, emprestem dinheiro aos bancos. Coitadinhos dos bancos. Coitadinhos dos banqueiros e dos administradores. Nós ficamos calados. Afinal, não passámos por aquilo que vocês passaram. Sabemos isso. Seria importante que soubessem igualmente que vocês não passaram por aquilo que nós passámos e passamos ainda. Uma casa por pagar, por pagar, a dezenas de quilómetros de onde trabalhamos, se tivermos trabalho. Um futuro incerto. Infantários, hipermercados, o Natal.

(…) Falta pouco para o momento em que vocês se vão embora. E, quando forem, não voltam. Espero não estar a dar-vos nenhuma novidade. Quando chegar esse definitivo, quando se forem embora, seremos nós os guardiões da vossa memória. (…) Poderá então acontecer que, por comum acaso, nos esqueçamos de vós, que aquilo que vocês são agora se transforme em nada.

Nessa altura, (…) não terão sequer a memória disso e nós estaremos com aqueles que vocês nunca conhecerão, estaremos a não lhes falar de vocês. Falaremos talvez da natureza, da história de Portugal, de assuntos que queiramos que aprendam, mas não lhes estaremos a falar de vocês. Se isto é uma ameaça? Não, nós não precisamos de fazer ameaças. Ou, melhor, sim, é uma ameaça, embora não precisemos de fazê-las. Nós sofremos, mas temos tempo.

 

José Luís Peixoto, n. 1974

 in Visão (23.12.2008)

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