Teremos de rever e ampliar uma das grandes exigências políticas da sociedade civil nos últimos anos. Temos de concluir que a transparência não basta.
É transparência, mas não só: é legibilidade. Uma das primeiras coisas que F.D. Roosevelt fez, durante a grande depressão, foi usar um dos seus discursos na rádio para explicar como funcionava um banco. Depois desse discurso fechou os bancos durante uma semana para se percorrer os livros e entender qual era a situação real das suas contas. Isto é um exemplo de como é essencial em democracia ter acesso a informação que seja verídica, mas também: que faça sentido, que seja legível e sobre a qual se possa agir em conjunto.
Temos de exigir que o desenho de informação esteja incluído em cada "objecto" disponível ao público.
Um dia haverá cursos sobre as melhores maneiras de o fazer (no plural: nunca será apenas uma) e isto dirá respeito a muitas profissões, de jornalistas a académicos e políticos.
Mas notem que quando digo "objecto" não estou a falar apenas de produtos, financeiros ou outros. Isto é um problema maior do que o mercado. As próprias leis não têm em conta a impossibilidade de a maioria dos cidadãos as compreenderem (mesmo quando são feitas de boa-fé). Isso é um problema de democracia. Nos EUA, uma organização não-governamental chamada OpenCongress.org dedica-se a "traduzir" as leis para linguagem quotidiana, com grande sucesso. Precisamos do mesmo aqui, e também de obrigar a Assembleia da República, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia a fazê-lo no seu processo legislativo.
Os políticos não podem ser apenas legisladores; têm de ser intérpretes. No futuro, isso significará não apenas intérpretes da vontade popular, mas bons tradutores da realidade à sua volta para que uma vontade popular possa sequer começar a emergir.
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