ENTREVISTA
Estado coloca à venda terrenos da ex-Lisnave no início de 2019
Miguel Cruz, presidente da Parpública, holding que agrega várias participações e activos imobiliários do Estado, diz que no primeiro trimestre do próximo ano serão colocados à venda os 630 mil metros quadrados de área de construção ligados à Margueira, na margem sul do Tejo.
Desafiada
pelos jornais de agora, páro para pensar no que aí vem, e no que podemos fazer para que seja melhor e diferente do que temos tido. Moro na Grande Lisboa. Habito
uma parte do planeta em que se antevê a aplicação de capitais
financeiros vultuosos para construção em áreas significativas sem que o cidadão comum perceba que resultado desenhamos
para essa enorme cidade que o Tejo marca, até ao mar. Das antigas
Escolas da Armada (Vila Franca de Xira até à antiga Lisnave
(Almada), passando pela antiga Feira Popular e a parte poente de
Marvila (Lisboa), o previsto novo aeroporto (Montijo) e ainda por
projetos no arco ribeirinho que inclui a antiga Lisnave (Barreiro,
Almada, Seixal).
Quando
começaremos a ser capazes de imaginar desenvolvimento do território
sem ser apenas com betão e mais betão? E a conseguir que a cidade
seja um projeto das pessoas e com elas, ouvindo os cidadãos, os seus
medos e desejos, ou seja... democrático? Em vez de um território de
torneio entre interesses restritos de produtos "do costume"
(prédios e mais prédios, em vez de, por exemplo, jardins, ambos
produtos de atividades económicas,. e geradores de criação, produção, fruição...).
Mais uma vez, discutindo cidades, desenhamos o território, mas o maior desafio é a democracia e a cultura democrática, esse terreno de labor a longo prazo em que os livros nos ajudam e a leitura é essencial.
Leitura
útil destes dias :
João Seixas, A cidade na encruzilhada : repensar a cidade e a sua política. Edições Afrontamento, 2013. https://www.wook.pt/.../a-cidade-na-encruzilhada.../15248870
Existe nas Bibliotecas de Vila Franca de Xira
Recomendo ainda a rcensão de Simone Tulumello, 2013, aqui , que, descrevendo de forma clara o conteúdo da obra, vai mais longe, e interpela autores e leitores :
"Ao mesmo tempo em que se reformava a máquina administrativa utilizando alguns dos princípios delineados neste livro (principalmente descentralização e qualificação), as políticas urbanas aplicadas no contexto da crise privilegiavam a competitividade sobre a coesão e até fomentavam a apropriação de algumas práticas participativas para agendas de caráter neoliberal (Tulumello, 2015). Será que a reinvenção da governação, se não for acompanhada por uma clara visão política de cariz progressista (ou até radical?), pode resultar na exaltação das mesmas tendências que quer contrastar? "
"O papel dos movimentos sociais, por exemplo, e mais em geral das críticas de ordem estrutural à hegemonia do sistema neoliberal é deixado numa posição marginal no livro: será, enfim, que a reinvenção da política na cidade é possível no quadro das estruturas presentes? Esta pergunta não tem resposta no livro. Por um lado o «otimismo da prática» de Seixas parece sugerir que sim, será possível, sobretudo pela capacidade das cidades se organizarem em torno de visões construídas de forma deliberativa. Por outro lado, porém, os desafios levantados ao longo do texto podem sugerir que a mudança necessária é de ordem mais estrutural (uma nova hegemonia cultural e económica). É nesta encruzilhada, a meu ver, que o debate sobre o futuro da democracia urbana se irá desenvolver nos próximos tempos." (p. 4)
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