Silvia Castrillón assume, citando Emilia Ferreiro, que a leitura é um direito, não é um luxo, nem uma obrigação. Um direito de todos, essencial ao exercício pleno da democracia.
"Parto da convicção de que a leitura não é boa nem ruim em si mesma, de que ela é um direito histórico e cultura e, portanto, político, que deve situar-se no contexto em que ocorre. Historicamente, a leitura tem sido um instrumento de poder e de exclusão social: primeiro nas mãos da igreja, que garantia para si, por meio do controle dos textos sagrados, o controle da palavra divina; em seguida, pelos governos aristocráticos e pelos poderes políticos e, atualmente, por interesses económicos que dela tentam se beneficiar.Estou consciente de que ao redor da leitura se movem diferentes propósitos, que a necessidade de sua democratização obedece a diversos fins e que disso depende, em grande parte, o fato de setores excluídos - não só da leitura, mas também de outras manifestações da cultura e da economia - não se apropriarem dessa prática. Em outras palavras: somente quando a leitura constituir uma necessidade sentida por grandes setores da população, e essa população considerar que a leitura pode ser um instrumento para seu benefício e for de seu interesse apropriar-se dela, poderemos pensar numa democratização da cultura letrada." p.16
Referindo-se a diversas campanhas, planos e projetos, é útil escutar a sua voz crítica - defende que tais campanhas podem ocultar o verdadeiro problema, criando a ilusão de que se está a fazer alguma coisa pela leitura. Tal não é verdade, se se limitarem a nos convencer da necessidade dessa prática, sem ter em conta que nada se torna necessário se não se tiver a íntima convicção de que pode ser um meio para melhorar as condições de vida. Dar livros, como um favor, gratuitamente, não resolve a discriminação e o desequilíbrio no que diz respeito à participação na cultura letrada
O verdadeiro problema está "na educação e nas possibilidades reais de acesso democrático à leitura e à escrita." (p. 21). As estatísticas que medem a leitura pelo consumo de livros por pessoa encobrem a realidade. Estimular a oferta de livros, por si só, pode confirmar privilégios, em vez de combater desigualdades, apesar das boas intenções.
Precisamos tomar consciência do problema, e assegurar espaços de participação - aí os cidadãos poderão "expressar-se pelo cumprimento do direito à leitura e à escrita e a uma verdadeira inclusão na cultura letrada." (p.21)
Pontos básicos:
- educação como área de intervenção central - o que requer transformações nas escolas - proporcionando a literacia a todos, e não apenas aos que já herdam a sua inserção na cultura letrada
- bibliotecas como meios para a democratização do acesso - o que requer transformações nas bibliotecas - garantindo o acesso gratuito a materiais escritos, em todas as formas, incluindo as novas tecnologias
- debate alargado sobre que fazer para transformar escolas e bibliotecas
Na Colômbia, este debate tem assinalado alguns eixos a desenvolver:
- melhorar a formação de professores, enquanto leitores e escritores, que permita romper com a tradição de ensinar como aprenderam
- equipar bem as escolas com materiais de leitura e de escrita - não apenas manuais, mas livros e outros recursos - para que se possam converter em "comunidades de leitores e escritores"
- melhorar a gestão do tempo nas escolas - onde cada vez é mais difícil ler, refletir, pensar, debater, e ter tempo para tal (alunos, professores, pessoal não docente)
- construir as bibliotecas públicas a partir de projetos das próprias comunidades, de modo a alcançar todos, e não apenas a população já letrada, e/ou já escolarizada, ultrapassando formas rotinadas de gestão por atividades sem planeamento coerente com um objetivo político, social e cultural claro; o suporte financeiro é essencial, mas também é essencial a participação da sociedade civil no desenho da política pública de leitura e escrita
Exemplos positivos mencionados
Privadas: Bibliotecas das Cajas de Compensación
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