Miguel Torga e sua mãe, falecida em 1948- Fonte aqui |
Mãe: Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito, Presença cinzelada em pedra dura, Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti – não me respondes. Beijo-te as mãos e o rosto – sinto frio. Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes Por detrás do terror deste vazio.
Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga
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