Lidamos mal com o conflito e com a interpelação? Porque é que o outro discordar de nós é sentido pelos portugueses como uma forma de afrontamento, de intimidação? Tudo é demasiado pessoal.Confirmo isso. Se fizer uma pergunta a um conferencista, discordando dele, num congresso em Portugal sou acusado de ser agressivo. Se for num congresso internacional, isso é completamente aceite. Aqui somos muito narcísicos, ficamos logo ofendidos. Discordar é ofender o outro.
Isso é um traço de narcisismo?É, não aceitamos bem que o outro discorde de nós, sentimos isso como uma diminuição.
Como é que ficamos menos vulneráveis, menos narcísicos? Como é que aprendemos a lidar com a crítica e aquilo que sentimos como sendo a agressividade do outro?A causa psicológica assenta num sentimento de inferioridade. Se a pessoa se sente inferior, qualquer discordância do outro é sentida como uma ofensa pessoal. Se está consciente da sua capacidade, se não tem complexos de inferioridade…
Como é que se trabalha este sentimento de inferioridade? É uma coisa importante na maneira como interagimos com o colectivo.Começa na família e depois na sociedade em geral: os portugueses tornam-se autónomos muito tarde. Por razões financeiras e por razões culturais. Mesmo nos anos 60, em que se vivia relativamente bem, as pessoas saíam muito tarde de casa. É-se muito ligado à família de origem. Desde pequeno há uma cultura de concentrar, proteger, e não de fomentar a autonomia.
O que podemos extrair disso é a ideia de que todos juntos somos mais fortes? É por isso que devemos permanecer no espaço da família, resguardados? Por que é que não se incentiva a independência?Vem da geração anterior. Os pais têm dificuldade em promover a independência dos filhos, sentem isso como uma perda da influência deles. Vê-se também ao nível pedagógico; a maior parte dos professores, se um aluno tem ideias diferentes das dele sente isso mal; gosta que o aluno copie as ideias do mestre. Não gostamos de ser contestados pelos mais novos.
Isso é considerado uma insolência. Temos um ditado que traduz isso bem: “Já a formiga tem catarro”.Pois é, mas não devia ser. Os mais novos trazem ideias novas.
"O que nos deve entusiasmar é aquilo que não sabemos, não aquilo que sabemos."
"É preciso pensar num futuro a longo prazo."
Coimbra de Matos (sobre Portugal) - Anabela Mota Ribeiro
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