Bandeira hasteada 21.07.2013, Cascais (Grécia & Portugal). In www.dalaiama.blogspot |
Ao contrário do que acontece, por exemplo, na França da Frente Nacional, em Portugal uma parte da esquerda tem ocupado como pode o terreno do nacional, tentando dar-lhe um cunho popular e democrático que pode e deve ser o seu. Afinal de contas, foi neste país que ocorreu uma revolução democrática e nacional que colocou na agenda de um país anteriormente colonizador e colonizado três irrecusáveis D (Democratizar, Descolonizar, Desenvolver). Tendo deixado de ser colonizador, o D de descolonização tem hoje uma nova declinação, num contexto apesar de tudo infinitamente menos coercitivo, pelo menos por enquanto, mas que põe em causa a independência nacional e o desenvolvimento igualitário.De resto, o preconceito racista, mais ou menos velado, não é apenas atributo da versão sombria do nacionalismo, já que tem sido cultivado, a norte, pelos defensores e beneficiários do euro e é reproduzido por elites nacionais que lhe dão a devida coloração social. Para além disso, a história nacional e europeia mostra-nos a outra face do nacionalismo, como bem sublinhou José Manuel Sobral; uma face de que nos esquecemos por nossa conta e risco: «entendido como amor da pátria, como terra própria e dos antepassados e, mesmo, lugar da liberdade e da democracia», «contribuiu para sustentar a resistência que venceu o nazismo e os fascismos». Estou certo que o nacionalismo, se for entendido como o que reivindica esta herança emancipatória, contribuirá para quebrar, pelas periferias e mobilizando as classes populares, esta estrutura de dominação com escala europeia. O que pode haver de mais importante, do ponto de vista ético-político, hoje, neste país?
João Rodrigues
Que fazer neste país? : a centralidade da escala nacional
in Le Monde Diplomatique, edição portuguesa, julho de 2013, p. 6-7
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