sexta-feira, março 08, 2013

Para além das correntes



Com mais 100 aderentes do Bloco, subscrevo este texto, publicado hoje no órgão oficial do BE. Haja debate.

Por um Bloco de Esquerda para além das correntes
 
Na VIII Convenção do Bloco de Esquerda, em Novembro de 2012, teve lugar um intenso debate sobre a necessidade da sua “descorrentização”, sendo aqueles que a defendiam quase acusados de desconsiderar as raízes históricas e a própria dinâmica de funcionamento do Bloco. Apenas dois meses mais tarde, eis que um grupo restrito de dirigentes, onde pontua não só o ex-coordenador do partido como um dos actuais coordenadores da Comissão Política, vem propor a criação de uma espécie de “megacorrente” que reuniria o que ainda pode ser reunido das três correntes fundadoras, decretando-as historicamente mortas.
Esta inflexão de discurso – sublinhe-se, dois meses depois da Convenção – revela que, das duas uma: ou toda a argumentação anteriormente produzida neste âmbito pela maioria em processo de Convenção era instrumental, ou não é agora suficientemente transparente e sincera.
Os militantes abaixo-assinados lembram que o grande combate que o Bloco tem pela frente é a derrota das políticas da troika, do governo e das direitas que o sustentam. E, nesses termos, consideram que esta proposta vem, objectiva e lamentavelmente, dispersar a concentração do partido em relação às prioridades definidas em Convenção, introduzindo factores de perturbação interna perfeitamente dispensáveis na actual conjuntura política, económica e social
O processo de lançamento da ideia corresponde, infelizmente, a um padrão já pouco original. Propaga-se em círculos, labora dentro das estruturas de direcção executiva do Bloco, alarga-se às correntes fundadoras, mas mantém sigilo em relação à grande maioria dos aderentes. Isto é, em relação àqueles que, militando no Bloco, nunca pertenceram, já não pertencem ou, pertencendo a qualquer das correntes, vêm expressando grande desconforto com esta forma de fazer as coisas.
Do nosso ponto de vista, o problema do Bloco de Esquerda não está nas correntes em si, mas no modo como condicionam e asfixiam a sua vida interna. Do nosso ponto de vista, podem existir três, duas, quatro, uma, vinte correntes. O problema está, de facto, na vida democrática do Bloco e, particularmente, nos mecanismos de decisão política que, com demasiada frequência, obedecem a lógicas de negociação à margem dos principais órgãos do Bloco (mesa nacional, comissão política, estruturas regionais).
A emergência desta nova tendência, contrariamente ao que proclama, não constitui um corte com as anteriores conceções de equilíbrio negociado entre as correntes, antes assegurando uma continuidade das mesmas práticas, mas em novos moldes. O que, dada a hegemonia que a nova corrente garantirá para si própria, pode até revelar-se ainda mais prejudicial para a democracia interna.
Do que o Bloco precisa é de mais espaço político interno, onde possam emergir, instalar-se e consolidar-se dinâmicas verdadeiramente democráticas e participativas, que atravessem, de cima a baixo, todas as estruturas e envolvendo todas e todos os aderentes. É de vida democrática, para além de qualquer corrente, que o Bloco mais necessita!

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