E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
David-Mourão-Ferreira
Ontem despedi-me do Nuno Bico, cerrados para sempre os seus olhos azuis, entre família e amigos, na terra que ele tanto quis ver melhor, de gentes melhores e liberdade.
Uma cidade pequena, que parece por vezes ainda tão pequena como quando ele e o Zé Amador deram corpo às histórias do Rogério Ceitil (Grande, grande era a cidade, 1971), antes do João Mota no perturbador Mal-Amado do Fernando Matos Silva, em 1972. Na nossa terra, o cinema continua a ser amado e experimentado, e nessa arte haverá rasto do Nuno e dos sonhos que não desistem. Contra os fascismos, nos anos 70 da Guerra Colonial e da opressão, hoje e sempre.
O desconsolo da partida devolveram-me aos poetas que ambos amamos desde a juventude. Poetas como o David Mourão-Ferreira, que nos ensinou como num segundo se evolam tantos anos, ou o Zeca, ausente fisicamente há 30 anos, mas que continua a trazer-nos as palavras entaladas na garganta, as palavras que nos dão alento a prosseguir. Mesmo quando, abraçando as belas meninas do Nuno, se afoguem as vozes em lágrimas num dia de sol. Sorrimos e choramos, e não, não desistimos.
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