sábado, fevereiro 25, 2017

Num segundo se evolam tantos anos (ao Nuno Bico)



E por vezes sorrimos ou choramos

E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos

David-Mourão-Ferreira


Ontem despedi-me do Nuno Bico, cerrados para sempre os seus olhos azuis, entre família e amigos, na terra que ele tanto quis ver melhor, de gentes melhores e liberdade.

Uma cidade pequena, que parece por vezes ainda tão pequena como quando ele e o Zé Amador deram corpo às histórias do Rogério Ceitil (Grande, grande era a cidade, 1971), antes do João Mota no perturbador Mal-Amado do Fernando Matos Silva, em 1972. Na nossa terra, o cinema continua a ser amado e experimentado, e nessa arte haverá rasto do Nuno e dos sonhos que não desistem. Contra os fascismos, nos anos 70 da Guerra Colonial e da opressão, hoje e sempre.

O desconsolo da partida devolveram-me aos poetas que ambos amamos desde a juventude. Poetas como o David Mourão-Ferreira, que nos ensinou como num segundo se evolam tantos anos, ou o Zeca, ausente fisicamente há 30 anos, mas que continua a trazer-nos as palavras entaladas na garganta, as palavras que nos dão alento a prosseguir. Mesmo quando, abraçando as belas meninas do Nuno, se afoguem as vozes em lágrimas num dia de sol. Sorrimos e choramos, e não, não desistimos.


Sem comentários:

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito : « Quem alcançou o topo, passou a acreditar que o sucesso foi um feito seu, uma medida do seu ...