segunda-feira, março 07, 2016

Maria de Sousa - um mestre tem mestres, e muitas perguntas, sempre

 Maria de Sousa, 2014 
Abel Salazar foi médico, investigador, professor, pintor. Figura ilustre que dá nome ao instituto onde leccionou. No livro Meu Dito Meu Escrito chama-lhe “o grande desarrumador”. Quem é que a desarrumou a si?
Aonde?


Na cabeça. No projecto de vida.



Jorge da Silva Horta, professor de Anatomia Patológica. O modo como ele ensinava. Fazíamos leitura de relatórios de autópsia, e, ao mesmo tempo, sabíamos a opinião que os clínicos tinham desses pacientes em vida. Grandes e famosos clínicos. Viam o doente, achavam que o doente tinha uma coisa, depois fazia-se a autópsia e não era nada daquilo. Os resultados da autópsia eram uma forma extraordinária de aprender que, de facto, não se sabe. O que me vai impressionar sempre é o que não se sabe. Foi a primeira desarrumação.
Depois, quem desarrumou mesmo, foi um homem chamado David Ferreira, que era de um grupo que ia constituir o IGC (Instituto Gulbenkian Ciência). Recrutaram alunos de Medicina para fazer investigação, muito cedo.


Cita amiúde Garcia de Orta. É dele “a primeira grande obra de investigação médica portuguesa publicada na segunda metade do século XVI”, diz no livro. Judeu, destacou-se também na botânica e farmacologia, morreu em Goa. O que cita dele: “O que sabemos é a mais pequena parte do que ignoramos”.



Ouça, século XVI! Como é possível que haja quem não saiba quem ele é? Pessoas civilizadíssimas. Os chauffeurs de táxi dizem: “Deve ter sido importante, porque há um hospital com o nome dele, uma rua, uma escola”.


Outra constante: as histórias de criança que conta. Como se esse imaginário infantil e esse espanto – expressão que usa muito – fosse um reduto a que está sempre pronta a regressar.



Não é um reduto. Está a falar com uma cientista. Se um cientista perde essa capacidade de se espantar, de se fascinar... Não sei onde está a criança em si... Já morreu?


Maria de Sousa - Anabela Mota Ribeiro

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