«No nosso mundo, nem havia vencedor. Apenas havia corredor. Corredor de fundo. Ser e pertencer, essa era a única ordem implícita na competição em desordem que nos envolvia.»Lídia Jorge
"O planeta não precisa de mais 'pessoas de sucesso'. O planeta precisa desesperadamente de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de histórias e amantes de todo tipo. Precisa de pessoas que vivam bem nos seus lugares. Precisa de pessoas com coragem moral dispostas a aderir à luta para tornar o mundo habitável e humano, e essas qualidades têm pouco a ver com o sucesso tal como a nossa cultura o tem definido."
Dalai Lama
Há
pequenas coisas que por vezes têm o condão de nos abrir as portas
da reflexão. Esta semana, tive de pensar na prosaica substituição
de uma pessoa num grupo de trabalho.
Quem sabe esta paragem para pensar se deva também à aproximação de mais um 25 de abril, em tempos nada fáceis para as bandeiras da liberdade, da solidariedade e da justiça. Preciosas bandeiras que, aliás, nunca foram fáceis de construir e de erguer.
Porque
temos grupos de trabalho e não pessoas isoladas a tratar de certos
assuntos? Não apenas para dividir tarefas – para isso seria melhor
uma estrutura hierárquica, um chefe e ajudantes. Valorizamos
o trabalho coletivo, a riqueza que decorre de haver diferentes
opiniões com o mesmo direito a ser ouvidas e a ouvir os outros, para
ponderar e aprender e não apenas para decidir, mandar e obedecer, e
a força que resulta de uma equipa de iguais.
No
fim de contas, também por ideologia. Porque se queremos uma
sociedade melhor, vamos procurá-la de acordo com os nossos sonhos,
que são diferentes conforme os nossos desejos e medos, os nossos
valores, aquilo em que acreditamos.
Somos
de direita ou de esquerda, conservadores ou transformadores, porque
escolhemos pertencer a sonhos diferentes. Vivemos em democracia,
lutamos por ela, porque insistimos em pertencer a comunidades com
diversidade e respeito pela diversidade, mesmo, e sobretudo, a de quem não partilha os nossos sonhos pessoais.
Lutar
por boas equipas, grupos de trabalho e coletivos não é fácil, mas
desse combate diário depende a saúde da democracia, para que haja mais gente a viver bem nos seus lugares.
Corredores de
fundo, com coragem e valor, em caminhos discretos ou na ribalta, são preciosos para
derrotar a desordem que nos ameaça. Procurá-los, encontrá-los e estimá-los é, no mínimo, inteligente.
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