segunda-feira, agosto 11, 2014

Pela tenacidade crítica



Em segundo lugar, devemos recusar uma tendência dominante na sociedade portuguesa - a desistência de pensar aliada ao conformismo lógico. A desistência de pensar é um dos pilares da astrologia austeritária: Hannah Arendt identificou-a, há meio século, ao observar Eichmann em Jerusalém. Enquanto portuguesas e portugueses, devemos recusar-nos a desistir de pensar. Nos próximos 25 anos, só poderemos transformar o País se usarmos as nossas faculdades cognitivas, se recusarmos dogmas e se compreendermos que a imaginação acorrentada é a primeira causa dos autoritarismos bem-sucedidos. O conformismo lógico é o corolário da desistência de pensar: afirmamos que o País está "assim" porque sempre foi "assim" e será sempre "assim". Sabemos que isso não é verdade. Pierre Bourdieu afirmava que o novo imperialismo neoliberal, um imperialismo das consciências, produzia esse conformismo para estabilizar relações desiguais de poder. É preciso inventar um inconformismo crítico. A participação cívica portuguesa precisa de uma tenacidade crítica que a variedade portuguesa da democracia capitalista não admite. Recomeçar a pensar, inconformada e criticamente, é a única forma de conceber um paradigma novo e transformador. Que nos recoloque, desejavelmente, no caminho de uma sociedade florescente e justa. Para que o ciclo multi-secular do medo e da pulsão repressiva, tão perniciosos para Portugal, seja quebrado e definitivamente transformado em matéria para os historiadores.


Ler mais aqui (Luis Bernardo, Agosto 2014, Portugal)

Imaginar um país sem medo e sem lixo | Económico

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