quarta-feira, abril 23, 2014

Éramos maiores do que somos

@Nikias Skapinakis

 (O Sonho é a nossa arma)

Há quem julgue que nos venceu
só porque estamos para aqui, famintos e nus,
de novo sem terra nem céu.
a apanhar do chão, às escondidas do luar,
os frutos podres caídos dos ramos.
Mas não.

Temos ainda uma arma de luz
para lutar;
SONHAMOS.

…enquanto os outros, os traidores,
sem lutas nem cicatrizes
entregam a terra ao rasto dos gamos
e douram os olhos dos velhos senhores
com voos de perdizes...
Sim. Sonhamos.

E o sonho quem o derrota?
- mesmo quando vamos
perdidos na rota
de um barco sem remos
na tempestade de um vulcão.

Sim, camaradas, sonhamos.
SONHEMOS!

O Sonho é também acção.

José Gomes Ferreira
In A Poesia Continua, velhas e novas circunstanciais. Lisboa: Moraes, 1981

Termidor Errado IX

E foi para esta farsa
que se fez a revolução de Abril, capitães,
ao som das canções de Lopes-Graça?
Foi para voltar à fúria dos cães,
ao suor triste das ceifeiras nas searas,
as espingardas que matam os filhos as mães
num arder de lágrimas na cara?
E, no entanto,
no princípio, todos ouvíamos uma Voz
a dizer-nos que a nossa terra poderia tornar-se num pomar
de misteriosos pomos.
E nós,
todos nós, chegámos a pensar
que éramos maiores do que somos.

José Gomes Ferreira,
A Poesia Continua, velhas e novas circunstanciais

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