segunda-feira, setembro 16, 2013

A ler


Os clássicos nascen todos os dias :)
Extrato do conto "O Programador e o Bruxo", incluído no livro "O Inferno de Outro Mundo", que será lançado no Rio de Janeiro esta quarta, dia 18, na Livraria Antonio Gramsci

Já não havia cadeiras vazias quando a palestra começou. Deixei que o Sabatelli iniciasse o filme que trouxera, projetado numa tela nas costas dele – uma compilação de cenas de pseudoavistamentos de OVNIs, na maioria claramente falsos, alguns, os melhores, duvidosos. Mas nada que apontasse para um real contato de terceiro grau. Deixei a palestra ganhar ritmo, só para verificar que o sujeito sabia falar com segurança. Quem não conhecesse bem o tema podia deixar-se levar pela tese de que os ETs já estão na Terra há muito tempo, mas existe uma grande conspiração montada para ocultar as evidências. 
Quando achei que o sujeito estava ultrapassando os limites, disparei o primeiro míssil: intercalei na projeção cenas do filme “Ed Wood”, do Tim Burton. O público viu, de surpresa, imagens de uns pratos presos por cordéis sendo filmados como se fossem discos voadores, e o realizador, que ficou conhecido como “o pior cineasta do mundo”, interpretado pelo ator Johnny Depp, dizendo que não havia problema que os fios aparecessem. As pessoas começaram a rir, e o Sabatelli, que estava de costas, não entendeu nada. Quando se virou, cortei o filme que trouxera e voltei a exibir o dele. 
O homem não deu pela troca e achou que riam do filme dos OVNIs. Engasgou-se, vacilou, ensaiou um improviso dizendo que as imagens eram sérias, “avistamentos confirmados”, e eu disparei o segundo míssil – a cena do mesmo filme que mostrava o Ed Wood vestido de mulher e dançando. O público já ria às gargalhadas, o Sabatelli se virou de repente e a cena desapareceu. Fiquei brincando de gato e rato com ele. Mal se virava para o público, regressava o Ed Wood; logo que dava as costas ao público e encarava a tela regressavam os pseudoavistamentos de OVNIs. As pessoas já quase rebolavam de tanto rir. Aquilo parecia um filme dos irmãos Marx. Finalmente, desisti da brincadeira e deixei em looping a sequência dos pratos fingindo que eram discos voadores, presos a cordeizinhos, e o Ed Wood dizendo: “No problem!”
O Sabatelli espumou de raiva quando viu a projeção, saltou sobre o notebook e desligou-o da corrente, esquecendo que a bateria o manteria funcionando. Olhou perplexo o ecrã, sem saber o que fazer. O público não parava de rir. Até que finalmente lembrou o óbvio: desligou o cabo do projetor, agarrou o notebook e a mala e saiu porta afora. 
Quando achei que o sujeito estava ultrapassando os limites, disparei o primeiro míssil: intercalei na projeção cenas do filme “Ed Wood”, do Tim Burton. O público viu, de surpresa, imagens de uns pratos presos por cordéis sendo filmados como se fossem discos voadores, e o realizador, que ficou conhecido como “o pior cineasta do mundo”, interpretado pelo ator Johnny Depp, dizendo que não havia problema que os fios aparecessem. As pessoas começaram a rir, e o Sabatelli, que estava de costas, não entendeu nada. Quando se virou, cortei o filme que trouxera e voltei a exibir o dele. 
O homem não deu pela troca e achou que riam do filme dos OVNIs. Engasgou-se, vacilou, ensaiou um improviso dizendo que as imagens eram sérias, “avistamentos confirmados”, e eu disparei o segundo míssil – a cena do mesmo filme que mostrava o Ed Wood vestido de mulher e dançando. O público já ria às gargalhadas, o Sabatelli se virou de repente e a cena desapareceu. Fiquei brincando de gato e rato com ele. Mal se virava para o público, regressava o Ed Wood; logo que dava as costas ao público e encarava a tela regressavam os pseudoavistamentos de OVNIs. As pessoas já quase rebolavam de tanto rir. Aquilo parecia um filme dos irmãos Marx. Finalmente, desisti da brincadeira e deixei em looping a sequência dos pratos fingindo que eram discos voadores, presos a cordeizinhos, e o Ed Wood dizendo: “No problem!”
O Sabatelli espumou de raiva quando viu a projeção, saltou sobre o notebook e desligou-o da corrente, esquecendo que a bateria o manteria funcionando. Olhou perplexo o ecrã, sem saber o que fazer. O público não parava de rir. Até que finalmente lembrou o óbvio: desligou o cabo do projetor, agarrou o notebook e a mala e saiu porta afora.  
Luis Leiria


Quem for ao lançamento, adira ao evento aqui:
https://www.facebook.com/events/579074355486833/?fref=ts

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