Foto Javier Ortega (Chile, 2012)
Uma pequenina luz bruxuleante
não
na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós
e a multidão em volta
une toute petite lumiére
just a little
light
una piccola…em todas as línguas do mundo
uma pequena
luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de
nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a
brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a
advinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila
exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas
brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a
exactidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando
indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa
dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não
ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia
ondeia
Indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso
ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia:
brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber:
brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva:
brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou
não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a
exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como
elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
No meio de
nós.
Brilha.
Jorge de Sena
in FIDELIDADE, 1958
(ao Miguel Portas, 2012)
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