GEDEÃO, António, pseud. Poema épico / [António Gedeão]. – 1960 Out. 1. – [2] p. 1 f. ; 14,3 x 9,3 cm Autógrafo a tinta azul com alguns riscados e acrescentos. – 1.º v.: «O rapazão da camisola vermelha sacode a melena da testa». – Suporte com vestígio de dobra. – Com a menção de data na margem inferior da 2.ª p. – Abaixo do título, nota de Natália Nunes, a lápis: «[Public. em Máquina de Fogo, de 1961]». V. p. 73-74. BN Esp. E40/cx. 13 |
POEMA ÉPICO, ANTÓNIO GEDEÃO, «Máquina de Fogo» (1961)
O rapagão da camisola vermelha sacode a melena da testa
e retesa os braços num bocejo como um jovem leão voluptuoso.
Dorme a sesta
o involuntário ocioso.
e retesa os braços num bocejo como um jovem leão voluptuoso.
Dorme a sesta
o involuntário ocioso.
A filha do alfaiate atirou a tesoura e o dedal pela janela
e sumiu-se na noite escura do mundo.
Quis respirar mais fundo
e isso de ser coitada é lá com ela.
e sumiu-se na noite escura do mundo.
Quis respirar mais fundo
e isso de ser coitada é lá com ela.
O homem da barba por fazer conta os filhos e as moedas
e balbucia qualquer coisa num tom inexpressivo e roufenho.
Súbito chamejam-lhe os olhos como labaredas:
- Eu já venho!
e balbucia qualquer coisa num tom inexpressivo e roufenho.
Súbito chamejam-lhe os olhos como labaredas:
- Eu já venho!
O da face doente,
o que sofre por tudo e por nada, sem querer,
abana a cabeça negativamente:
- Isto não pode ser! Isto não pode ser!
o que sofre por tudo e por nada, sem querer,
abana a cabeça negativamente:
- Isto não pode ser! Isto não pode ser!
Sentados às soleiras das portas,
mordendo a língua na tarefa inglória,
com letras gordas e por linhas tortas
vão redigindo a História.
mordendo a língua na tarefa inglória,
com letras gordas e por linhas tortas
vão redigindo a História.
Após " Movimento Perpétuo", surge o segundo livro de poemas de António Gedeão, "Máquina de Fogo". Esta é a obra da confirmação do poeta enquanto cientista, do cientista enquanto poeta, da consolidação da sua presença no panorama literário português.
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