Nos últimos anos, a palavra «nacionalização», durante tanto tempo banida do vocabulário e da proposta política, regressou ao espaço público por iniciativa neoliberal. O neoliberalismo, projecto que não abdica da sua plasticidade desde que não ponha em causa os seus princípios fundamentais, não teve qualquer pejo em apropriar-se do termo, dando-lhe, evidentemente, o seu cunho próprio: nacionalizar significou socializar prejuízos, nunca lucros. É mais do que tempo de, em defesa da propriedade pública de sectores estratégicos, da coesão ainda possível deste território tão desigualmente tratado, e da dignidade dos trabalhadores e de uma empresa histórica como são os CTT, as forças que se opõem ao projecto neoliberal encontrarem formas para que uma empresa lucrativa regresse à propriedade e ao serviço públicos. Enfrentando constrangimentos jurídicos e pressões empresariais, como certamente será necessário fazer, porque em causa estão interesses colectivos e o bem comum. É que só garantindo as bases materiais desta comunidade política poderemos ter esperança de nela florescerem os valores morais que, a cada revés e a cada catástrofe, gostamos de reconhecer nos nossos concidadãos.
Sandra Monteiro, Janeiro 2018
Recuperar os CTT - Le Monde Diplomatique - Edição Portuguesa
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