Tecnologia sem sabedoria
é gaita que não assobia
(digo eu, que adoooooooooooooooro novidades da tecnologia)
"Todavia, o fundamental é, acima de tudo, ver as obras, perder tempo vendo, reparar, olhar, falar sobre o que está sendo visto (ou imaginado), destacar as especificidades e o que interessa ou não nas obras. Deixar algum eventual desamparo atuar e saber lidar com ele no enfrentamento da arte. O importante é ir se dando conta de que olhar e falar do que está vendo é determinante na formação do gosto e do nosso conhecimento. Isso acontece naturalmente e é sempre comparativo e acumulativo. Se de fato houver interesse, quanto mais se vê, mais se gosta e quanto mais se gosta, mais se quer saber. Entretanto, ninguém gosta por nós e tampouco será sabendo sobre as obras, acumulando informação, que se vai poder gostar de arte. Arte é experiência.(...)O perigo desta tecnologia, digo isso sem demonizar sua presença já instaurada em nossas vidas, é que ela acaba introduzindo um elemento entre nosso olho e o quadro, que tira ainda mais tempo do nosso prazer com o que não sabemos, com aquilo que não é da ordem do saber, com o que não é informação, mas expressão. É claro que os otimistas sempre retrucam que uma coisa não elimina a outra. Em tese tudo bem. Entretanto, nossa subjetividade já está danificada, viciada na informação, completamente desacostumada em não saber e ser convocada por isso. O não-saber que nos convoca é raro, mas é ele que caracteriza a experiência estética, a potência sem nome que nos faz sentir e pensar sem necessariamente já-saber e que vai constituindo em ato novas formas de saber. É justamente no intervalo entre percepção, reconhecimento e saber que entra em cena a imaginação, a faculdade que nos faz ir além do sabido e a arriscar novas possibilidades de saber.Vivemos em uma época acelerada. Não temos tempo para re-parar em nada, pois precisamos estar em movimento e acumulando (e descartando) informações. Nada como a tecnologia para nos garantir mais material informativo, sem nos perguntar se teremos tempo para ler tudo isso e saber tanta coisa. Ou seja, a mediação tecnológica pode estar nos tornando detentores de muito conhecimento (e poder), mas simultaneamente, desconfio eu, está nos deixando ainda mais pobres de experiência, regredidos esteticamente e limitados na nossa capacidade de imaginar. Por isso, acho bacana, mas tenho um pé-atrás em relação a este aplicativo da Smartify."
Texto de 20.04.2017, acedido via Maria Vlachou, no Facebook
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