António Antunes, 2017, Janeiro
Todas as suas declarações e medidas são quase sem excepção inaceitáveis numa sociedade democrática, e não adianta dizer que tudo foi sufragado pelo “povo” em eleições. Uma democracia, vale a pena estar sempre a repeti-lo, não é apenas o voto – é também os procedimentos e o primado da lei. O modo como fala de deportar os ilegais só pode ser feito com um enorme reforço policial e campos de concentração. E depois onde é que os deixam? Na fronteira com o México? Atiram-nos ao mar para eles regressarem à Síria ou ao Brasil? Deportar dois milhões de pessoas não tem precedente desde a Segunda Guerra e não pode ser feito em tempo de paz sem uma mudança estrutural do Estado, tornando-o um Estado policial. O modo como fala da tortura viola várias convenções sobre a guerra e as declarações de direitos humanos que os EUA assinaram, para além de que qualquer militar lhe dirá que isso expõe os soldados americanos ao mesmo tipo de práticas. As guerras não são só com o ISIS, que não conhece qualquer regra, mas com outros inimigos, que estarão agora à vontade para aplicar aos americanos os mesmos métodos. A Administração Trump ficará igual aos torcionários argentinos e brasileiros.
Pacheco Pereira, 2017, Janeiro
Trump, o rei dos tempos modernos - PÚBLICO
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