A Europa consegue este prodígio: sem existir, tem a existência ameaçada. Sem homogeneidade que a defina, vê tremer o que nela é homogéneo, os direitos humanos, a dignidade e a liberdade, já que da igualdade e da fraternidade aguardamos ainda a vinda messiânica. Posta em desequilíbrio, impreparada para dar combate aos velhos-novos inimigos que, sendo tudo aquilo que já fomos, exterminadores a mando de palavras divinas, e sendo tudo aquilo que hoje somos, internautas capazes de atravessar paredes, dificilmente se distinguem dos vizinhos cujas crianças brincam com as nossas.
Desejos que pareciam repugnantes como a expulsão daquele que é estranho ao nosso clã sobem do cérebro reptiliano até à fronte e ali inscrevem novamente uma brutalidade primitiva que, confessemos, preservou o género humano: o egoísmo da sobrevivência. Pois é a vida, a física e do espírito, o que está a correr um grande risco aqui.
Hélia Correia, 2016
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