CARTA PARA STELLA E FRED, MEUS IRMÃOS
Esta carta que é só nossa, e é
um grande segredo,
desde os anos já volvidos,
repõe a boiar a nossa infância.
Os anos passam, e rolam
já temos os três cinquenta,
com muita trama da vida, glicínias, espinhos
e outras plantas só para nós três.
Bichos de seda, lembram-se?
Nós à espera, à espera da borboleta branca
que perfura o seu berço fechado a sete véus -
nasce e logo foge e morre.
- A minha voou pelo espaço;
e as vossas? Onde foram?
Agarrem manos, agarrem!
na primavera há sempre borboletas.
apesar dos paraísos e infernos.
Vamos à vida, manos, vamos,
que ela só tem um vôo
como as borboletas dos bichinhos de seda
da nossa infância distante.
BENS ADQUIRIDOS
(Guimarães Editores)
Margarida Futscher
1920-1981
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