domingo, abril 26, 2015

Palestina

A ONG Human Rights Watch publicou em 13 de Abril um relatório arrasador sobre a exploração da mão-de-obra palestiniana pelos colonos judeus do Vale do Jordão, na Cisjordânia ocupada.



Criança a trabalhar numa plantação de tâmaras do "Jordan Valley"
Um crime israelita adicional: o trabalho das crianças palestinianas nos colonatos do Vale do Jordão



Criança na plantação de tâmaras de um colonato perto de Jericó



Mais uma razão para boicotar os produtos da colonização, são estas tristemente famosas tâmaras Medjoul da marca “Jordan Valley”, uma vez que uma parte importante da produção de frutos e legumes dos colonatos é exportada, nomeadamente para a Europa.
Em violação do direito internacional e até do direito israelita, centenas de crianças, cujos pais agricultores são privados de recursos devido ao roubo das suas terras pelo ocupante israelita, vêem-se assim a suar nas estufas coloniais, por vezes a partir da idade de 10 anos, debaixo de temperaturas que ultrapassam facilmente os 40º no verão, em troca de salários de miséria (da ordem dos 2€ por hora), expostas sem protecção aos pesticidas tóxicos e sem cobertura social, inclusivamente em casos de acidente de trabalho.


Praticamente todas as crianças palestinianas entrevistadas pela Human Rights Watch declararam considerar que não têm outra alternativa senão procurar trabalho nas explorações agrícolas dos colonatos, para ajudar à sobrevivência das suas famílias”, escreve a ONG no seu relatório intitulado “Maduros para a exploração: o trabalho das crianças palestinianas nos colonatos israelitas do Vale do Jordão”.
Israel atribuiu 86% das terras do Vale do Jordão aos colonatos e forneceu às empresas agrícolas dos colonos um acesso muito mais generoso à água dos lençóis freáticos do vale que aos palestinianos que vivem no vale, lembram os autores.
As crianças que a Human Rights Watch entrevistou declararam que sofriam de náuseas e tonturas. Algumas afirmaram que desmaiavam por vezes quando trabalhavam no verão, com temperaturas que ultrapassam frequentemente os 40 graus no exterior, e ainda superiores no interior das estufas nas quais muitas crianças trabalham. Outras crianças disseram que tinham vómitos ou dificuldades em respirar e irritações dos olhos e da pele depois de espalharem pesticidas ou de estarem a eles expostas, inclusive em espaços fechados.
Algumas declararam ter dores de costas depois de transportarem pesadas caixas cheias de frutos e legumes ou carregarem como “mochilas” contentores de pesticida.
O direito do trabalho israelita proíbe o carregamento de fardos pesados por jovens, ou fazê-los trabalhar com temperaturas elevadas e manipular pesticidas perigosos.
Mas, quando os inquiridores da Human Rights Watch se dirigiram às autoridades israelitas para lhes pedir que fizessem respeitar a sua própria legislação, estas tiveram a lata de responder... que era preciso dirigir-se à Autoridade Palestiniana - que está evidentemente proibida de estadia nos colonatos.
Entre as 38 crianças entrevistadas pela Human Rights Watch no âmbito do relatório, 33 tinham abandonado a escola e trabalhavam a tempo inteiro nos colonatos israelitas. Entre elas, 21 tinham deixado a escola antes de terminar os dez anos de ensino básico obrigatórios segundo as leis palestiniana e israelita.
Para quê ir à escola? Vamos acabar de qualquer modo a trabalhar para os colonatos”,declarou uma das crianças.
Professores e directores de escolas palestinianas do vale do Jordão sublinharam que as crianças que trabalham a tempo parcial nos colonatos, durante os fins-de-semana e depois da escola, estavam frequentemente esgotadas na aula.
A União Europeia fez um pequeno passo, no ano passado, ao decidir a exclusão dos produtos dos colonatos israelitas da lista dos bens israelitas aos quais concede um regime fiscal preferencial, e os Estados membros da UE emitiram directivas nas quais aconselham as suas empresas a tomar em consideração os inconvenientes jurídicos, financeiros e em termos de reputação da sua implicação no comércio com os colonatos, mas sem ir ao ponto de dar instruções às empresas para porem fim a tal comércio.
Mas enquanto chamam a atenção, com razão e periodicamente, para as multinacionais como Samsung, Gap, Total, pelo seu recurso, directo ou indirecto, ao trabalho infantil, nenhuma medida concreta foi tomada pelos nossos governantes para sancionar as violações do direito por Israel.
É então nossa tarefa, continuarmos e desenvolvermos mais que nunca a campanha BDS Boicote – Desinvestimentos – Sanções”.
Pois, como diz a HRW ao concluir o seu relatório, “os colonatos são uma fonte de violações quotidianas dos direitos humanos, inclusive contra crianças. Os outros países e as suas empresas não deveriam daí tirar lucros ou encorajá-las”.

Traduzido de CAPJPO-EuroPalestine, pelo Comité de Solidariedade com a Palestina (Abril 2015)

Sem comentários:

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito

Ladrões de Bicicletas: A tirania do mérito : « Quem alcançou o topo, passou a acreditar que o sucesso foi um feito seu, uma medida do seu ...