sexta-feira, março 05, 2010

Saudades de Mestre Rogério Fernandes


A educação é fundamentalmente ética. Assenta sempre num dever-ser. Por isso, julgo que essa interacção entre as equipas mais velhas e as mais novas pode ser mutuamente frutuosa e contribuir para a escola plural.
Rogério Fernandes (200-?) Entrevista em A Página, Nº 8
Ao contrário do angustiado professor que se perguntava qual era o cacique a quem mais lhe convinha servir, o estatuto que a nova equipa da Direcção Geral do Ensino Básico atribuía ao docente era o de cidadão pleno, o que lhe criava o dever de intervenção cívica consciente. Não se tratava de fazer do professor (…) um propagandista de qualquer regime, de qualquer partido ou de qualquer seita. O professor deveria ser além de docente, na acepção verdadeira da palavra, um dinamizador cultural do seu meio em ordem à reconstrução da nação que o fascismo deixara devastada (…). Reconstruir a nação (…) seria sim libertar as energias criadoras do povo, promovendo a sua emancipação concreta no plano material e espiritual, de acordo com uma larga perspectiva racionalista e científica, de tal sorte que a opressão e a exploração do homem pelo homem desaparecessem para sempre da nossa terra.
Rogério Fernandes (1977), Discurso enquanto Director Geral da Educação, citado aqui

O primeiro livro que li sobre bibliotecas escolares, dos Livros Horizonte, foi-me sugerido pelo Rogério Fernandes. A Biblioteca do Educador Profissional ensinou-me a respeitar o seu nome, e n'O Professor e na Vértice aprendi o valor das suas palavras, postura e ideias, como as desse outro Mestre, o extraordinário Rui Grácio. Com eles aprendi a chave dos círculos de estudo, da partilha no coração do fôlego, que vive do ar que não se respira sozinho, do sopro comum que alimenta o canto diferente de cada voz. O bom sabor da generosidade, sem idade nem cálculo, pois não há tempo a perder nesta vida tão curta. O laço forte da liberdade.

Ao longo da vida nos encontrámos e reencontrámos, mais ou menos por acaso, em combates nem sempre ganhos, nem sempre totalmente perdidos, sempre do mesmo lado. E também em conversas saborosas e estimulantes.
Um homem livre, um homem bom, um Sábio que nos ajudou a descobrir o que queríamos compreender, a ganhar consciência do mundo e dos viventes, a confirmar o amor à Educação e ao ensino como amor à Humanidade, e o valor do tempo na criação, na acção e no pensamento.

Uma honra tê-lo conhecido. Um privilégio não o esquecer.
A falta que nos vai fazer... A falta que me faz!

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