domingo, fevereiro 04, 2007

Domingo que vem

Domingo que vem vamos votar. Espero que muitos e muitas, que desta vez não haja mais desculpas para recusar o voto.
Votar é dar opinião, a parte na decisão sobre as coisas da vida de toda a gente. Toda a gente é mesmo toda a gente, os outros, as outras, e nós.

Não se trata aqui de escolher para um cargo, um conjunto de promessas, um mandato de Presidente, Vereador, Deputado.
Não é um cargo, é um encargo que temos o poder de dar a alguém. Seja qual for o Governo, esteja quem estiver no Parlamento, fica com este encargo, dado pelo referendo, de mudar as leis de acordo com o referendo. Mas só se mais de 50% puserem o voto na urna, domingo que vem.

Ter opinião é pensar. Pensar por nós mesmos, com a nossa memória e nossa esperança, uma espécie de memória ao contrário, a gente a lembrar-se do que ainda não aconteceu.
Memória do que passámos e soubemos que outras pessoas passam, naquela parte da vida de cada um que devia ser privada, íntima, resultado de escolhas pessoais e intransmissíveis, aberta ao apoio e à amizade, mas fechada à coscuvilhice e à tirania. Decisões tomadas com consciência, mas sem pavor. Com conhecimento e tranquilidade. A tempo.

Votarei SIM. Faço campanha pelo SIM.
Tenho memória, lembro-me de tantas conversas, tantos casos, tão diferentes uns dos outros e tão parecidos no respeito que merecem.
Tenho conhecimento. Sei que todos os métodos podem falhar, e que nem sempre conseguimos apanhar a tempo as rédeas da nossa vida, há muitas coisas que às vezes não são o que parecem.
Tenho esperança, não há-de ser sempre assim cruel esta terra, nem as suas leis tão toscas, sobretudo para quem é mais pobre, com menos conhecimento, com vidas mais precárias, com aflições muito suas. E que merece o mesmo respeito que aqueles e aquelas com mais recursos materiais ou mais felicidade, ou mais fé...

Espero que o SIM ganhe, por todas as meninas que agora ainda mal gatinham, que já nasceram, e por quem me sinto responsável, pelo simples facto de serem os crescidos, como eu e vós, leitores e leitoras, que lhes preparam o futuro.
Espero que o SIM ganhe, por todos os meninos que as hão-de amar, e ser amados por elas. A felicidade de uns ganha com a serenidade das outras.

Deixaremos de sentir a surdina e o silêncio do aborto clandestino, em más condições de saúde na sua realização e, também, no momento da sua decisão.
Só procura ajuda, só conversa sobre o que lhe dói aquele, aquela, que acredita que alguém ouvirá com atenção e sem preconceito nem hipocrisia.
Ganhando o sim, quem decide não interromper a gravidez mantém, intacta, a sua liberdade de o fazer. Ganhando o não, só é consentido um caminho, e negado o respeito a quem não o seguir. Despenalizar é isso mesmo: despenalizar, acabar com a situação actual que castiga as mulheres e nos envergonha a todos e a todas.

Podemos, devemos, havemos de continuar a trabalhar e debater depois do referendo muita coisa da vida de toda a gente, muita maneira de fazer este País muito melhor do que é. Cá estaremos.

Domingo que vem, usemos a democracia para mostrar que temos opinião, que encomendamos a quem o deve fazer leis mais justas, um país onde haja direito à saúde e à liberdade, onde seja melhor viver. Todos os dias. Mesmo naqueles em que há problemas difíceis, pessoais, intransmissíveis. Mesmo para aqueles, aquelas, que não pensam como nós.

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