sábado, setembro 17, 2016

Escola e Vida. Ser professor

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Hoje começaram as aulas à séria!!!

Comecei o dia a receber um grande sorriso de um menino grande mas bem grande que me informou sob, compromisso de honra, que iria a todas as aulas este ano. Não sem me colocar um braço nos ombros e olhar para mim com um sorriso simpático.  

À Entrada da escola fui recebida por algumas ex-alunas minhas. Entre beijos e gargalhadas até me pediram uma carta de recomendação para o novo professor. Mais à frente mãos levantadas a dizer olá e a sorrir. Dentro da sala …20 meninos muito caladitos, atentos e preocupados. Fomos conversando sorrindo e ficando sérios quando era preciso. Alguns a cara chapada dos irmãos ou dos primos. Consequências da idade e de muitos anos a trabalhar na mesma cidade. Lá fui sendo informada de onde estavam os irmãos, recordada dos nomes e… do que lhes disseram de mim. Achei muito bem. Quem vai para o mar avia-se em terra e assim não tem surpresas. Fiquei a saber ou confirmei que “a minha irmã diz que é uma boa professora mas quando se zanga é a sério”. Também fiquei a saber que “a minha irmã diz que é simpática”. 

Depois do almoço entrei com meninos e meninas que já me conheciam todos… até os repetentes. Foi mais uma aula simpática em que estabelecemos regras e preparámos as coisas para começar o trabalho deste ano. Dei por terminado o dia com o coração cheio de sorrisos e beijocas. 

Quando chego à escola do Manuel, ouço alguém dizer com uma voz bem grossa “ainda é professora?” espantada com a pergunta, olho para o senhor. E lá vem mais uma pergunta “não se recorda de mim?” Pela primeira vez não soube responder. Confesso que tenho visto muitos ex-alunos meus. Muitos passam por mim já homens e mulheres e nem reparam, ou não querem reparar. Eu compreendo. Às vezes poderá ser por timidez, outras porque não me reconhecem ou, então, porque não deixei grandes recordações (não somos perfeitos). Aqui o problema é que eu tinha um senhor de etnia cigana com uma grande barba e um sorriso muito doce a olhar para mim. Tive que reconhecer a minha ignorância e perguntar quem era ele. A resposta foi pronta e com um grande sorriso “eu? sou o António!”. Estava tudo dito! O António Telles, um menino da minha direção de turma, há largos anos, que queria perceber tudo muito bem percebido e que, enquanto não percebesse, não me largava. O senhor confirmou e esclareceu-me que ainda hoje é assim. Falámos sobre a mãe que “está velha”. Apresentou-me a sua “mulher” e depois a sua “pequenita”. Terminámos a conversa por hoje. As últimas palavras que escutei foram que iria esclarecer um senhor amigo que a sua filha, agora a frequentar o 5º ano, estava em boas mãos. 

Foi o melhor elogio que tive em anos. Porquê? Por ter vindo de quem foi e nas condições em que foi.

Bom ano para todos!!!


Carla Morgado, mãe do Manuel
Professora - Escola Pública
Portugal
2016

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